quarta-feira, 8 de abril de 2009

PALÁCIO SÁRREA GRAFIAS

Situado no centro histórico da cidade de Portimão, o Palácio Sárrea Grafias encontrava-se enquadrado por alguns imóveis de relevante traça arquitectónica. Destacava-se este imóvel de entre a arquitectura civil histórica desta localidade, quer pela sua volumetria quer pela sua originalidade. De linhas marcadamente neoclássicas, encimava o seu frontão ondulado umas águas-furtadas. No seu interior e não obstante as sucessivas obras de adaptação que sofreu ao longo dos anos, ainda conservava até ser derrubado, muita da decoração de finais do século XVIII, nomeadamente, alguns estuques originais ricamente trabalhados, lambris e azulejos datados do primeiro quartel do século XX. A divisão que melhor preservava a decoração de estuque do tecto era a antiga sala de audiências do antigo Tribunal. Grande parte das divisórias das várias dependências encontravam-se concebidas em estilo “gaiola”, solução arquitectónica frequente desde finais do século XVIII. Com a venda do edifício tempos após a implantação da República, o brasão de família que encimava a frontaria do edifício, foi substituído por um “outro” identificando o Tribunal. A partir do átrio de entrada, subindo as escadas, podia observar-se, no tecto, o escudo da República com a legenda: Paços do Concelho. A área total do edifício ocupava grande parte do quarteirão e como todos os monumentos com história, quase que podemos dizer ter sido um imóvel com “personalidade”, dado nele ter ficado impressa de forma indelével, a personalidade dos seus antigos proprietários. Defronte, construído posteriormente, porém organizado e ordenado de harmonia com a fachada deste solar, encontra-se o Jardim 1º de Dezembro {concluído em 1931} com uma escadaria ladeada ao topo por duas estatuetas em estilo Arte Nova, realçando a imponência e dignidade do edifício, por onde nos últimos séculos passou boa parte da história de Portimão. Das janelas do 1º andar avistava-se, além do jardim e do casario, o magnífico espelho de água que é o rio Arade. Nas suas traseiras, a poucos metros, a Igreja Matriz de Portimão. Este solar, tal como tantos outros edifícios notáveis por este país fora, foi ao longo dos tempos utilizado para fins bem diversos daqueles para os quais havia sido destinado, pelo que hoje se torna difícil saber quais as estruturas originais que constituíram a primitiva casa senhorial. Construído em data incerta, antes do terramoto de 1755 {provavelmente entre os séculos XVI e XVII} foi propriedade de Manuel José da Serra Garfias Tavares Torres, tendo sido reedificado na traça - que ostentou até à sua demolição -, entre 1793 e 1796, por Joaquim Ignácio Pacheco de Sárrea. Importante e abastada família local, os Sárrea Garfias estiveram na origem da Empreza de Abastecimento d’Águas Sarrea Prado e Commandita, que servia a Vila Nova de Portimão. Ao longo dos anos, o interior do imóvel sofreu bastantes alterações em função das necessidades orgânicas do seu espaço. As primeiras de que há registo deram-se em 1915 quando da instalação dos Paços do Concelho, tendo-se seguido outros serviços públicos, entre os quais, o Cartório Notarial, a Biblioteca Municipal, a Escola Primária, o Posto de Turismo, Correios e Telégrafo, a Guarda Nacional Republicana, o Registo Civil e Predial, a Repartição de Finanças e o Tribunal da Comarca. A grandiosidade do edifício era proporcional à importância que tiveram os seus proprietários ao longo dos tempos, assumindo-se como um símbolo do seu poder político, social e económico. Por outro lado, a escolha da localização do imóvel não foi aleatória, uma vez que se encontrava estrategicamente situado em função da estrutura da antiga malha urbana, ou seja, próximo do rio e em simultâneo, suficientemente distante. Próximo da antiga Alfândega e do porto, assim como da Igreja Matriz e das principais vias de comunicação. Acresce que, duas das entradas das antigas muralhas da cidade se situavam a poucos metros deste palácio. A porta da Guarda à esquerda e a porta de S. João à direita, o que vem reforçar a importância estratégica da construção deste imóvel. Os Sarrea eram grandes proprietários fundiários, sabendo-se que só no concelho de Portimão possuíam a Quinta da Donalda e a Quinta do Poço do Bispo. Em simultâneo desempenharam elevados cargos militares, tais como, governadores militares da Vila, escudeiros e cavaleiros fidalgos do rei. Além disso, a quase totalidade dos filhos varões foram cavaleiros professos da Ordem de Cristo. Desempenharam prestigiados e importantes cargos na administração civil. Assim, em 1727 encontramos Luís Simões Sarrea {que comprou a Quinta da Donalda} como juiz da Alfândega de Portimão, Gaspar Simões Sarrea de Telles Moniz feitor e recebedor do consulado da mesma alfândega, em 1761, Manuel José Sarrea Tavares para além das funções referidas, era almoxarife e juiz dos direitos da portagem de Vila Nova de Portimão, e por aí fora... Desta forma se compreende a importância desta família no seio da oligarquia dominante do concelho e até da região, acrescida pela prática de casamentos entre famílias poderosas. Adeptos de D. Miguel, quando da guerra civil de 1832-1834, entre liberais e absolutistas, defenderam a causa destes últimos. Terminada a guerra, foram perseguidos pelo novo regime, iniciando-se a partir de então, a perda de poder e de influência ancestrais desta família. Na sequência da implantação da República, em 1915 o solar foi adquirido pelo executivo camarário, tendo nele sido instalados os Paços do Concelho e uma Escola de Artes e Ofícios. Da venda do imóvel não se conhecem os verdadeiros motivos. Em 1951 os Paços do Concelho mudam-se de novo, desta feita, para onde se encontram actualmente: o Palácio Bívar. Pedro Manuel Pereira

1 comentário:

  1. Muito bom e preciso artigo.

    Parabéns ao(s) autor(es).

    Talvez não venha a propósito, mas informo que, à data da implantação da república, a Câmara Municipal de Portimão tinha séde num edifício, também de boa traça, demolido já este século, na Rua António Dias Cordeiro. No seu local foi construído recentemente um edifício de 3 pisos.

    a)Ilidio de Assunção.

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