sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

PUTAS AO PODER QUE OS FILHOS JÁ LÁ ESTÃO!

             «Um Partido Politico é a união voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e políticas, organizada com disciplina, visando a disputa do poder político».
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          Não sabemos a razão porque nas últimas semanas nos tem assaltado à mente esta frase dos anarquistas pinchada nas paredes um pouco por todo o país nos anos que se seguiram após o 25 de abril de 1974: Putas ao Poder que os Filhos já lá Estão.
É evidente que nem todos os filhos e filhas que se encontram no poder são filhos da puta, que essas trabalhadoras do sexo, coitadas, fartam-se de trabalhar para educar a sua prole, além de que não há notícia até ao momento, que entre esses descendentes existam pessoas sem caráter, sem dignidade, corruptas, desonestas… Enfim, gente de mau porte e maus costumes. Mas nunca se sabe…
Sem dúvida que, os trambolhões que muitas criaturas deram para conquistarem lugares nas autarquias no decorrer do último festival eleitoral, são de enaltecer. Os esforços físicos que tiveram de fazer, sobretudo todos quantos têm problemas de saúde óssea, como osteoporose, hérnias discais e outras maleitas de ossos, não é de somenos importância, coitaditos… - É que ter de vergar a cabeça e a coluna, dar cambalhotas e fazer piruetas para alcançar o poder, agrava irremediavelmente patologias clínicas degenerativas.
No após ato eleiçoeiro autárquico passado, os casamentos espúrios quase concubinatos, esgalhados entre os que timidamente ficaram à frente e outros sem expressão eleitoral - exemplos: PS/PSD, PCP/PSD e por aí fora – que se encontram em algumas localidades deste país desgraçado, balançam entre a pornografia «política» e a obscenidade, num atentado contra as regras básicas da moral por que se devem de reger as relações entre os seres humanos. Alianças contra natura à revelia dos eleitores, pois se os quisessem casados não teriam votado em partidos diferentes.   
Trambiqueiros em quem a maioria dos eleitores votaram, da mesma forma que apoiam os ídolos dos clubes de futebol. Políticos de pacotilha que se comportam ao serviço dos partidos, tal como os jogadores da bola, ou seja, mudam de partido (clube) e de camisola como quem muda de cuecas, enquanto os adeptos clubísticos continuam agarrados às cores futebolísticas da sua paixão.
Analisados os números de votos relativamente aos eleitores, um pouco por todo o território nacional, constata-se que quem exerce o poder – na maior parte dos casos - se representa só a eles e mais as corporações de negociatas e os lobies de interesses económicos que os sustentam – leia-se: os salteadores - estribados em percentagens de votos perfeitamente ridículas relativamente ao número total de votantes. Atente-se, sobretudo, ao elevado índice de abstencionistas.
Entre a lei – que lhes permite lá estar – e a ética ou a decência, separa-as um fosso abismal.
A promiscuidade, a sabujice, a selvajaria dos pimpolhos - e das pimpolhas – que se dizem «políticos», ultrapassa – em muito – os limites da imaginação da espécie homo erectus em geral e das pessoas honestas e decentes em particular.
Falamos de canalhas que não cuidam de ideologias, que as consideram «curiosidades do passado» e até perseguem quem as defenda.   Dominados os aparelhos partidários dos partidos «políticos» por esta gentalha, os mesmos transformam-se em antros de negociatas sórdidas ao seu serviço e dos seus financiadores, dos seus familiares e das clientelas a quem têm de pagar o favor de votar internamente neles para treparem para os lugares que lhes permitam governarem-se e alimentar os sabujos que os acolitam, com algumas migalhas que vão deixando cair por descuido da mesa do repasto.
São estes os contorcionistas que no quotidiano tentam despistar a população dos graves problemas que a afligem, transformando realizações obrigatórias em feitos heroicos, ao mesmo tempo que procuram por todos as formas criar mecanismos de perpetuação no poder acobertados na conspurcada e vilipendiada palavra «democracia», elegendo como seus principais inimigos - mesmo dentro dos seus «partidos» - todos quantos critiquem as suas prepotências e os seus desacatos e desmandos.
Esquecem-se que um partido político sem ideologia que o sustente é como uma retrete sem sanita, ou seja, uma cagadeira cujo cheiro nauseabundo aumenta em cada dia que passa.
Porém, como o instinto de sobrevivência dos trambiqueiros «políticos» fala mais alto, à medida que as patifarias que exercem sobre tudo e todos se vão tornando escandalosamente evidentes, as defecções redundam no emagrecimento do seu sustentáculo «político» também conhecido por, «bases políticas».
Os malabarismos e a sucessão de truques politiqueiros e económicos estão a chegar ao fim por via da conjuntura económica, pois como diz o ditado: «Não há dinheiro, não há palhaços». Ora o que temos vindo aqui a falar é de «palhaços» que não sabem atuar sem dinheiro.
Por tal facto, os casos de corrupção e de enriquecimento ilícito de correligionários no poder – de todas as cores - vai-se tornando uma miragem em cada dia que passa. O desalento apodera-se dos artistas do circo sinistro, na justa medida em que o dinheiro rareia...
A mediocridade é regra de ouro para estes «circenses» porque eles em si mesmo são medíocres. Uns - e umas -, galinhas e galos velhos trauliteiros como botas da tropa encardidos, outros oriundos das «jotas», fedelhos imberbes, acéfalos, sem habilitações profissionais ou académicas, nem qualquer currículo profissional ou experiência de vida, odiando até quem os tenha…
Porém, chegaram ao poder ou pendurados às fraldas dele estão, porque o sistema – miserável - criado pelas décadas de «democracia» em Portugal, foi construído de molde ao afastamento do mérito, premiando a incompetência, a sabujice, a imbecilidade e a acefalia. Como se isto não bastasse, torna possível a criação de «políticos invertebrados», de amibas, destituídos de ética ou moral, sem sentido de responsabilidade. Trata-se de canalha que vive da «política» e não para a política.
Enquanto não houver uma reformulação profunda no seio dos partidos políticos, os portugueses deixarem de os sustentar com o dinheiro dos seus impostos e uma reforma honesta do sistema de representatividade político/partidário, não poderemos viver ou falar de democracia em Portugal, porque este é um país onde se vive num regime tutelado por um sistema partidocrático a raiar uma ditadura.
No contexto do quadro constitucional, a forma como os partidos estão organizados e estruturados (?) não são mais a solução para os males de que o país enferma, mas antes, a fonte dos seus problemas.
Os dirigentes «políticos» abominam os referendos, fogem deles como o diabo da cruz. Entram em pânico quando a voz pública fala na necessária redução de deputados e na criação dos círculos uninominais. A urgente e vital reforma do sistema político é, para essa gentalha, assunto tabu.
Não é por acaso que os «políticos» nunca se referem ao sistema eleitoral; precisam dele como está, como pão para a boca, pela mesma razão que os portugueses o abominam. 
Desde o restabelecimento da «democracia» e a partir das primeiras eleições livres, que a qualidade dos partidos em Portugal tem caído quase na vertical, encontrando-se hoje ao nível do lixo tóxico.
Constata-se ainda e é uma verdade insofismável, que os portugueses não exercem controlo sobre os representantes políticos. O Parlamento, a dita «casa da democracia» é na realidade o cói da partidocracia e das negociatas mais infames. 
O enganador «julgamento nas urnas» é um genuíno logro, uma vez que os candidatos das listas perdedoras têm à partida a garantia da continuação da sua «vida artística» no parlamento, sem que haja uma relação com a vontade dos eleitores uma vez que os mesmos quando votam não sabem que criaturas vão eleger para o Parlamento. 
A pedra de toque fundamental desta gangrena é a não existência do voto uninominal no sistema eleitoral.   
Livres de um genuíno escrutínio democrático, os partidos ditos «políticos» ao longo dos anos foram assaltados por oligarquias que detém o monopólio do poder «político». Com o decorrer dos anos essas famiglias partidárias tornaram de si refém não só o sistema político como o próprio regime e as instituições do Estado.
Não é possível desmantelar a partidocracia sem uma reforma do sistema eleitoral. 
As consequências do atual sistema propiciam a que os «donos» dos principais partidos vivam na impunidade, com a certeza que não irão nunca ser desalojados do Parlamento pela via dos votos. Não obstante as baixas intenções de eleitores, mantêm em carteira «lugares elegíveis» onde se refugiarem em caso de necessidade. No âmbito da corrupção, os lóbis contornam o eleitorado e atuam diretamente sobre os oligarcas do parlamento de forma a fazer valer os seus interesses, os seus desejos. Em boa verdade, são os lóbis que têm representação no parlamento e não os eleitores.
Este cenário é gerador de um «fosso» crescente entre cidadãos e políticos e de um sentimento de asco e de desprezo por banda dos portugueses para com a classe «política».
É este o atual retrato que viceja – com raras exceções – no seio das secções e direções nacionais dos partidos – ditos - «políticos» portugueses. Infelizmente para a democracia, dramático para a nação.


Pedro Manuel Pereira

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O GOLPE DE ESTADO DO 28 DE MAIO DE 1926


O mês de Maio regista uma efeméride marcante na História de Portugal recente. Assim, no dia 28 desse mês, em 1926, deu-se um pronunciamento militar em Braga, chefiado pelo general Gomes da Costa, que alastrando nos dias seguintes ao resto do país, irá instaurar uma ditadura militar, a qual dará origem, poucos anos após, a um novo regime, auto denominado de «Estado Novo» em oposição ao que chamavam de «República Velha», o primeiro, uma partido político único: a União Nacional, à frente do qual pontificava o lente coimbrão, Oliveira Salazar. No entanto, segundo palavras do seu chefe, não era um partido político nem se assumia como tal, antes era, uma «associação de homens de boa vontade».
O 28 de Maio foi um movimento eivado de equívocos e é nesse sentido que se explica que a ele tenha aderido muita gente, de boa-fé, que lenta e gradualmente nos tempos que se seguiram se irá afastar ou ser afastada desse assalto ao poder.
O golpe militar contou com o apoio das classes dominantes, as chamadas «forças vivas», das classes intermédias e até da classe operária; operários industriais e assalariados agrícolas.
No estado caótico em que o país de encontrava, quer económico, quer social e outros, era previsível um golpe militar no estilo do ocorrido. Aliás, na sequência de uma série de outros que tinham vindo a suceder-se sem que tivessem, no entanto, a amplitude deste último, para o sucesso do qual contribuiu decisivamente o apoio da classe operária, do movimento sindical, vítimas do regime republicano, cuja expressão máxima se consubstanciou no 1º Ministro Afonso Costa, alcunhado de «racha sindicalistas».
Todos estavam de acordo em fazer intervir o exército, onde o nível de vida dos seus oficiais havia atingido um estado degradante. Aludindo ao brilho dos galões, o povo havia-os rotulado de «miséria dourada».
O material, o armamento, era obsoleto. Por outro lado, o exército durante anos havia sido preterido em favor da GNR.
Pairava no ar o fantasma da Flandres/França, onde pereceram milhares de militares portugueses e muitos mais ficaram estropiados no conflito que passou à História como: 1ª Grande Guerra Mundial. Enfim, o exército desmoralizado será conduzido a assumir a direção política do país contra o republicanismo que o havia deixado cair tão fundo. A República dissolvia-se por falta de apoio.
Até 31 desse mês (Maio de 1926) altura em que o presidente da República se demite transmitindo os seus poderes a Mendes Cabeçadas, a revolta ainda tinha algo de constitucional face a essa mesma transmissão de poderes. Enquanto Gomes da Costa avança sobre Lisboa, Óscar Carmona vislumbrando a vitória ordena o avanço das suas tropas alentejanas sobre a capital, apoiando assim, o movimento. Em Novembro desse ano, Carmona assumia a chefia do Estado.
De 1926 a 1933/34, houve como que um estado de guerra civil não declarada entre vários sectores republicanos e a ditadura militar. A situação não é muito definida. Este período de transição da ditadura militar para o Estado Novo, irá ser muito conturbado, com uma base de apoio muito complexa. Só se poderá falar de consolidação do Estado Novo a partir de 1934, ano do primeiro Congresso da União Nacional, de remodelação do governo e das primeiras eleições legislativas, saindo delas a primeira Assembleia Nacional.
Em Junho de 1932, Salazar havia sido formalmente nomeado chefe do governo. Ainda nesse ano apresenta uma proposta de Constituição que entrará em vigor em 11 de Abril de 1933, a qual vigorará com pequenas alterações até 1976. No Barreiro, o movimento do 28 de Maio de 1926 teve características de adesão idênticas ao que se passou um pouco por todo o país.
Os grupos civis conspiratórios eram constituídos por elementos quase todos ligados ao Partido Radical, enquadrados por chefes oriundos de Lisboa. O apoio logístico, fundamental para o avanço das tropas do sul sobre Lisboa foi dado pelos ferroviários do Sul e Sueste, vítimas do regime republicano que os havia sempre tratado com uma certa sobranceria, de resto, retribuída pelos ferroviários em permanente luta por melhores e mais dignas condições de vida, manifestas nas lutas empreendidas ao longo da existência do regime, algumas delas bastante longas como a registada entre Setembro e Dezembro de 1920. Porém, os princípios da generosidade, a luta pelos ideais de Liberdade e por melhores condições de vida que levaram ao ferroviários a apoiar o golpe do 28 de Maio, serão os mesmos que os levarão a participar poucos meses passados, na primeira revolta contra a ditadura militar, mais concretamente em Fevereiro de 1927, com a paralisação de comboios e a sabotagem de máquinas. Tal como milhares de cidadãos, grupos sociais, agrupamentos políticos, classe operária, também os ferroviários cedo constataram o logro em que haviam caído.
Se a República não os tinha tratado bem, a ditadura militar não os tratava melhor. Porém, a força das armas impunha-se, propiciando um novo regime que perduraria até ao 25 de Abril de 1974 e haveria de fazer escola nalguns países europeus, até ao final da 2ª Grande Guerra Mundial.

Pedro Manuel Pereira

sábado, 20 de julho de 2013

Na próxima 4ª feira, dia 24 de julho, pelas 21H30, terá lugar na Feira do Livro de Portimão (dia da sua inauguração), a apresentação de um livro da autoria de Pedro Manuel Pereira, com a chancela da Editora Arandis, intitulado: A Filha da Pecadora. Trata-se uma sátira de carácter social, bem actual.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

PORTUGAL – IDENTIDADE E FUTURO



A identidade portuguesa encontra-se desde há séculos em latência, numa forma de vida em perpétua busca da sua individualidade. Fernando Pessoa soube explicá-lo muito bem na sua obra: Mensagem. O português é um militante da sua impossibilidade. Ser português constituiu, no fundo, uma forma de heroísmo. 
Num Ocidente laico e hedonista, a sociedade portuguesa tem dificuldade em aceitar o estranho sacrifício que conserva a identidade lusitana. É aqui que se encontra como que um paradoxo: um dos problemas de Portugal no último quartel do século XX foi o seu «excesso de felicidade», resultante da restauração da democracia. 
A última invasão estrangeira ocorreu em 1807 e a última guerra civil terminou em 1834, com um país mais dividido que nunca entre liberais e conservadores (estes últimos derrotados) após dois anos de guerra fratricida que deixou o país exaurido em termos económicos e demográficos. Para além destes acontecimentos marcantes, todas as outras grandes catástrofes que assolaram o país em séculos passados, constituem para os portugueses como eventos ocorridos entre o sonho e a ficção, quando não acontece, como entre a maior parte dos cidadãos, um desconhecimento total desses eventos. Após a instauração da ditadura salazarista, Portugal foi um país da «5ª dimensão», uma vez que esteve «adormecido». 
Por tal facto, hoje, passadas mais de três décadas da restauração da democracia, o país continua sem saber para que lado se voltar em termos de estratégia de sustentação económica. Não sabe como despertar da letargia a que se votou – e foi votado - durante décadas. No entanto, este problema, que parecia ser especificamente português, tem-se revelado, com a crise económica que estamos a viver, que afinal, actualmente, é comum a todo o mundo ocidental. 
Com o despoletar da fragilidade da economia global, Portugal sentiu primeiro os sintomas de uma crise que afinal é de todos. Efectivamente, a Península Ibérica constitui um lugar profético. Profética foi a nossa relação com o mundo árabe, a partir de 711: o anuncio da tensão que marca, a actualidade, as relações entre as nações ocidentais e o islão. Profética foi também a nossa expansão colonial: um bosquejo da actual globalização. 
Na estrada de saída que é o presente do Ocidente, Portugal sente-se, de alguma forma, no seu ambiente. O futuro que os ocidentais de uma forma geral não têm hoje é o futuro que Portugal sempre teve. Por tal facto, os portugueses tem a capacidade de inventar e de reinventar-se. Sem sombras de chauvinismo são, sem dúvida, uma das chaves do PORVIR.

P.M.P.

sábado, 27 de abril de 2013

A REVOLUÇÃO FEITA POESIA


Por Pedro Manuel Pereira


Foi num fim de tarde de um sábado de 1975. No seio daquela «República» constituída pelo território que eram os ateliês na Amadora, dos pintores Artur Bual - meu saudoso tio - e Moita Macedo - meu amigo do peito – este, também poeta. Espaços ligados por uma porta improvisada, derrubada que havia sido parte da parede, onde por ela circulavam os vários amigos. Uns chegavam, outros estavam e outros... Partiam. Como porta de comunicação entre os dois ateliês, foi colocada uma célebre tela de Mestre Bual retratando o escritor Aquilino Ribeiro, que, com o tempo se tornou assim a modos que uma das suas imagens de marca.
O Miguel da Franca, excelente desenhador, cirandava entre quadros dissertando sobre qualquer coisa.
O poeta e pintor Hugo Beja, aparentemente angustiado por haver sido despedido pela sua última paixão, caminhava agitado, absorto, como um cão abandonado, de um lado para o outro.
O Bual, entre largas pinceladas de azul e vermelho, num aparente conflito com a tela, acendia mais um cigarro sem filtro, aparentemente indiferente ao que se passava em seu redor.
O Moita Macedo declamava-nos um dos seus poemas. Em pano de fundo, coesionando essa enorme tela onde todos cabíamos, ouvíamos a 5ª Sinfonia de Beethoven, debitada de um disco de vinil de 33 rotações do velho gira-discos empoeirado.
O Moita Macedo gritou-nos:
- Estão a ouvir-me? Alguém desligou a música. Calámo-nos como garotos apanhados em falta, olhando para ele de esguelha. O Hugo Beja interrompeu o breve silêncio que se fez, respondendo com ar teatral:
- Tem calma irmão! A malta está com ar distraído mas temos estado a ouvir-te com atenção, acrescentando:
- Afinal quando é que vamos jantar?
Jantámos não muito longe dos ateliês, numa tasca uma excelente comida alentejana, após o que regressámos às caves, onde nos aguardavam pacientemente sentados nos degraus exteriores, de mármore gelada e suja, às escuras – que as lâmpadas estavam fundidas – cinco indivíduos que eu não conhecia. Entrámos e foram-me apresentados. Para minha surpresa – não muita – era um grupo de jovens vagamente intelectuais que estavam a organizar um partido político. Ainda não tinham conseguido arranjar instalações. O Macedo e o Bual, generosos e altruístas como eram, cediam-lhes os seus espaços para se reunirem uma vez por semana. Aquela era a terceira ou quarta vez. Nessa altura, em consequência da Revolução de Abril de 1974 existiam dezenas de partidos políticos em Portugal continental e ilhas.
O líder era um jovem pálido, magro, encurvado, de lábios azulados por via de uma doença mázinha que o minava. Os que o acompanhavam, esses, não tinham aspecto muito mais saudável, diga-se em abono da verdade.
Perguntei a um deles se os militantes se resumiam aos presentes. Respondeu-me que eram mais umas dezenas, mas como era fim-de-semana, estavam ocupados com cenas familiares, namoradas e tal...
Segundo me confidenciou o Moita Macedo, tinha-os apadrinhado porque eram todos «bons rapazes, idealistas, a darem para a esquerda, vagamente socialistas com laivos marxistas».
O Bual perguntou-lhes:
- Querem beber alguma coisa? - O chefe do grupo respondeu por todos:
- Não, obrigado.
- E se acendêssemos umas velas? Sempre dá uma certa aura... Um ar de mistério! - Sugeriu o Moita Macedo.
- Isso é uma boa ideia. Respondeu o líder partidário.
- E nós? – Perguntei – qual é o nosso papel nesta reunião?
- É pá... Estamos aqui em redondo e isto é uma malta porreira... – Interveio o Bual.
- Pois... Nós não temos nada a ver com o partido mas estamos aqui em sã camaradagem... - Acrescentou o Moita Macedo.
Acenderam-se as velas, tornou a ouvir-se a 5ª Sinfonia e apagaram-se as lâmpadas.
O Bual voltou a pintar, já intuitivamente e o Moita pintava também de olhos em cima da tela. Eu, o Hugo e o Miguel da Franca viemos para a rua para o fresco discutir não me recordo o quê.
A reunião não durou uma hora. Depois, no carro do Miguel da Franca fomos com ele, o Moita, o Hugo, o Bual e eu até Lisboa, onde nessa noite havia um comício a pretexto de qualquer coisa e o Moita Macedo ia intervir como orador na sua qualidade de dirigente sindical.
Quando lá chegámos já uma multidão se espraiava a perder de vista entre o Rossio e as Portas de Stº Antão, onde das varandas do Palácio da Independência um indivíduo berrava palavras de ordem de punho erguido cerrado, aparentemente furibundo com ele mesmo, os patrões e o mundo.
Furando por entre a turbamulta, com o Moita a capitanear - ele que era um homem forte, maciço, com pera, bigode e cabelo grisalhos desgrenhados - conseguimos entrar no palácio e subir os lances da escadaria até ao 1º andar.
As massas, essas, não estavam muito entusiasmadas, até que o Moita Macedo assomou à varanda e com voz tonitruante gritou para a multidão através do microfone:
- Camaradas! Escrevi umas linhas para vos fazer um discurso, mas como não sei onde meti os papéis (e dizendo isto apalpava os bolsos em vão).
- Bem… Sendo assim, vou declamar-vos um poema de minha autoria. Este poema é para todos os que amaram sem nunca terem sido amados.  
Declamou um poema de cor, vibrante. Num momento fiquei estupefacto (ficámos), no momento seguinte a multidão batia palmas e gritava em uníssono e em delírio, empolgada:
- Queremos mais! 
E ouvimos mais um... E outro... E outro poema declamado com garra, com alma, com amor, como alguma vez naquele Largo se tinha escutado.
Nunca imaginei antes, ser algum dia possível ver e ouvir alguém galvanizar uma multidão com poemas de amor. Pois foi isso que eu ouvi, que vi, que vivi, que me emocionou até as lágrimas me marejaram os olhos e que gravei fundo na minha memória. 
Estávamos em Maio. Pouco mais de um ano passado da Revolução. Milhares ou talvez alguns milhões de portugueses viviam (vivíamos) ainda a Festa do Sonho transformada em Esperança de que em breve Portugal se tornasse num país mais justo, fraterno e solidário, onde fosse possível viver em LIBERDADE, numa verdadeira DEMOCRACIA em que todos nós, cidadãos, pudéssemos participar todos os dias como atores dos nossos destinos.





domingo, 14 de abril de 2013

A MÃE DA MÁFIA – LA GARDUÑA


Por Pedro Manuel Pereira

«A casa da Garduña é a noite profunda.
O alimento da Garduña é o segredo.
A vida da Garduña é o sangue dos seus inimigos
Assim seja

A mãe da Máfia foi uma sociedade secreta criminosa parida em Espanha, que numa primeira fase operou nesse país e nas suas colónias. Esteve bastante activa desde os alvores do século XV até ao século XIX.
A Santa Garduña nasceu em Toledo em 1412, cidade a partir de onde os seus próceres partiam para as incursões, isto é, para o assalto e o roubo das habitações dos muçulmanos e dos judeus em conluio com a sua mentora: a Inquisição. 
Porém, em breve chegou a Sevilha, onde o exponencial aumento populacional com o equivalente crescimento da pobreza justificou a sua implantação e desenvolvimentos a breve trecho.
A esta cidade afluíam as pedras preciosas, esmeraldas, pérolas, ouro e prata da recém conquistada América, com o consequente auge da indústria de luxo, da banca e da criminalidade associadas à riqueza em ascensão.
A Garduña, também conhecida por «la hermandad de la rapiña» foi, antes de mais, uma sociedade secreta criada para efectuar trabalhos de limpeza social convenientes ao poder clerical. O segredo mais bem guardado da Inquisição, o verdadeiro malleus maleficarum ao serviço da Santa Madre Igreja.
Os serviços fundamentais que prestou foram, indiscutivelmente ao Santo Ofício, comummente conhecido por Inquisição.
O seu nascimento foi bafejado pelo facto de nessa época viver na cidade de Toledo uma abundante população de não crentes e de conversos, que à hierarquia eclesiástica interessava controlar, intimidar e frequentemente castigar extra-judicialmente.
Foi neste contexto que esta associação de malfeitores prestou os seus primeiros serviços encontrando, assim, a forma de se financiar e obter poder, exercendo “justiça” sobre pessoas às quais a Inquisição queria chegar, porém, sem os entraves e o tempo que implicava um tribunal do Santo Ofício e o conhecimento publico das suas malfeitorias.
Graças a este contexto, a Garduña foi o primeiro caso conhecido de um grémio local de marginais, que se expandiu com êxito por amplos territórios aproveitando um novo enfoque baseado em tornar-se útil aos seus mandantes, corrompendo as autoridades locais e o poder local, para dessa forma agir em total impunidade.
Quando chegou o final do século XVI, a Garduña operava em diversas cidades do que é hoje Castilla la Mancha, o Norte da Andaluzia e Portugal. Porém, a grande oportunidade que se apresentou a esta associação para que continuasse viva e de saúde, foi no referido âmbito, dadas as deslocações maciças de muçulmanos no território peninsular, sempre em fuga e a sua posterior expulsão.
Os muçulmanos ibéricos representam o maior fracasso da história da Igreja em geral e da Inquisição em particular. Mais do que aquilo que reporta ao catarismo e às restantes heresias medievais.
Trata-se aqui de um amplo grupo populacional, que pese embora o esforço evangelizador e de aculturação sem precedentes ao longo de mais de um século, continuou inalteravelmente unido como conjunto humano, mantendo na clandestinidade as suas práticas, ritos e costumes.
Foi um fracasso gigantesco, inegável e humilhante para a Igreja, com lições, ilações e implicações perigosas no seio da cristandade.
Esta comunidade, ao contrário dos cátaros, não era suficientemente estúpida para enfrentar a Igreja e procurar o martírio. Só se mostravam autenticamente, na esfera privada das suas comunidades fechadas onde a Inquisição não podia chegar nem obter provas ou testemunhos tangíveis dos seus “delitos”. Centenas de milhar de hereges viviam perante os seus narizes, desde há mais de cem anos, após a “reconquista cristã”, ignorando a palavra de Cristo, fingindo aceitá-la, ano após ano. Era uma afronta, um exemplo gravíssimo e intolerável.
Será neste contexto que os delinquentes da Garduña souberam – e vieram – a tornar-se úteis, ganhando dessa forma uma grande margem de actuação, dado que as autoridades faziam vista grossa quanto aos seus actos.
Todos os membros deste grémio possuíam uma tatuagem em alguma parte do seu corpo, tatuagem essa que era uma gadanha (instrumento associado à morte) com duas gotas de sangue.  
Uma das suas máximas era “fazer do possível o impossível”. Nunca deixar testemunhas dos seus actos.
Quando da expulsão dos muçulmanos sobreviventes em Espanha (entre 1609 e 1614) e em Portugal ainda durante o século XVI, a Garduña enriqueceu ao ser mais útil do que nunca a vários tipos de clientela - além da Inquisição - para ajustes de conta. Foi-lhes possível roubar, sequestrar, violar e matar os refugiados na total impunidade, deitar o gadanho às suas propriedades pela coação e pela força, permitiu-se que indivíduos ricos se aproveitassem para intimidar, roubar ou vingar-se dos mouros expulsos… Com tudo isto, não faltaram oportunidades de negócios e de auferir chorudos favores nesses tempos.
A Garduña nasceu no contexto das fraternidades criminosas dessa época, vindo a desenvolver enorme poder, extensão e complexidade organizativa comparáveis às das grandes máfias modernas, de muitas sociedades criminosas posteriores, tendo em conta que nasceu numa época em que Nápoles e os seus territórios pertenciam à Coroa espanhola, onde veio a florescer.
A sua estrutura interna era piramidal - como em qualquer sociedade secreta – sendo que para ingresso os seus membros eram sujeitos a provas iniciáticas. Possuíam palavras, toques e sinais para se reconhecerem entre si. Esta pirâmide tinha cinco níveis. Assim: a cúpula da organização era formada por um diretório secreto constituído por altos protetores, composto de membros proeminentes da burguesía. Só estes tinham acesso ao Hermano Mayor, uma personagem de alta condição social que manejava a teia da estrutura e possuía às suas ordens vários capatazes (um por cada cidade).
Cada capataz dirigia dois tipos distintos de malfeitores: os punteadores (principalmente assassinos ou matadores) e os floreadores (quase todos ladrões de ofício).
A seguir aos punteadores e aos floreadores encontravam-se os postulantes, que ajudavam os primeiros, recolhiam as contribuições e aspiravam a alcançar a posição de punteador ou floreador.
Por último, estavam os fuelles ou aprendizes, que se subdividiam em quatro tipos: soplones, chivatos, coberteras e sirenas.
Os soplones eram mendigos ou idosos que tinham por missão principal vigiar ou entrar em casas, acobertados nas suas condições, para saber o que nelas havia e informarem o que valeria a pena roubar.
Os chivatos eram pessoas infiltradas, para recolherem informações. Os coberteras eram receptadores que vendiam mercadoria roubada e as sirenas eram as prostitutas, que constituíam valiosas fontes de informação para os delinquentes.
A Garduña operava na total impunidade. Entre os seus filiados e colaboradores contavam-se juízes, governadores, presidentes de Câmara e até directores de prisões.
Dissimulava-se como se fosse  uma ordem religiosa, arrogando-se o direito divino de roubar e assassinar. Como sociedade esotérica, aparentemente não possuía documentos escritos nem estatutos, comunicando as regras por que se regia através das iniciações e posteriores elevações de grau.
O mais assombroso, é que apesar de cometer toda a espécie de crimes era bastante religiosa. Os seus membros rezavam pelos irmãos que haviam falecido e destinavam 10% dos seus proventos às almas do Purgatório.
A traição às referidas normas traduziam-se em condenação à morte.
Desta forma, existe a lenda divulgada por gentes da malavida em geral e dos vários ritos da máfia calabresa, que as varias máfias italianas foram criadas por três irmãos, cavaleiros espanhóis da Garduña: Osso, Mastrosso e Carcagnosso, que no século XV fugiram de Toledo após vingarem com sangue, a honra ultrajada de uma irmã.
Estes cavaleiros refugiaram-se na ilha Favignana, no extremo ocidental de Sicília  onde permaneceram 29 anos, 11 meses e 29 dias. Compilaram as regras sociais e o código de conduta da Garduña, escrevendo-as e aplicando-as às organizações que criaram, identificadas geralmente como Máfia.
Quando se separaram, cada um deles levou consigo esse conjunto de normas para três lugares distintos: Osso, o mais velho dos três irmãos permaneceu na ilha e criou a Cosa Nostra, Mastrosso, atravessou o estreito de Messina e deu-as a conhecer na Calábria originando a ‘Nrangheta e Carcagnosso, o mais ambicioso dos três conseguiu alcançar Nápoles, uma das grandes cidades do poderosos reino de Aragão, promovendo a Camorra.
Curiosamente, nos inícios do século XIX, ao mesmo tempo que apareceram as modernas organizações mafiosas a Garduña desapareceu bruscamente, em pleno auge das sociedades secretas.
Embora durante séculos não existissem documentos escritos conhecidos sobre esta organização, a sobranceria e a vaidade  levaram o último Hermano Mayor, Alfonso Cortina, juntamente com apaniguados a escrever o chamado Libro Mayor onde eram relatadas as actividades históricas da Garduña.
O livro foi descoberto em 1821 em casa de Cortina, o qual foi arrestado sobre a acusação de assassinato, pelo oficial de Caçadores, Manuel de Cuendías. 
Na referida obra foram inventariados os atentados que a Fraternidade executou ao longo dos séculos, uma lista de irmãos  e também de nomes dos apoios subornados, membros dos poderes locais.
Ou porque estes últimos não queriam ver o seu nome associado à Garduña, ou porque ao ter sido feita uma
lista dos cabecilhas dessa organização, foram expostos desnecessariamente a uma captura em massa entre
1821 e 1822, a Garduña foi amplamente purgada no centro e no sul de Espanha, desconhecendo-se o que
sucedeu por via destes factos, com os seus membros em Portugal.
Em consequência deste achado, o Hermano Mayor e os seus lugares tenentes garduñistas (quinze) conhecidos foram julgados e executados na Plaza Mayor de Sevilha, em 25 de Novembro de 1822.
Não obstante, esta execução não significou o fim da referida Irmandade e dos seus métodos de poder. Aproveitando as regras e o código de conduta, foi ressuscitada em 1970 por iniciativa do bispo M. L. - forte opositor do Concílio Vaticano II -  através da F. S. S. P. X.
Este prelado foi suspenso ad divinis pelo papa em 1976, tendo visto a suspensão ser revogada em 2009, pelo papa Bento XVI.
Esta organização, embora ortodoxa, procura adaptar-se às circunstâncias das sociedades actuais, intervindo de acordo com os novos tempos. Para tanto e de forma a alcançar os seus fins,  encontra-se organizada em distritos e casas repartidas pelos cinco continentes. Tem representação em Portugal com a sua casa autónoma sediada em Espanha.

REGRAS - O Libro Mayor
1.  Bom olho, bom ouvido, boas pernas e pouca língua.
2.  Receber sobre a sua protecção as mulheres que sofram perseguições da justiça.
3.  Os chivatos não podem no seu primeiro ano de noviciado, montar “negócios” sozinhos.
4.  Os punteadores encarregam-se dos negócios de maior soma de dinheiro.
5.  Os floreadores vivem à custa do seu trabalho com um terço dos seus negócios e deixam algo para as almas do Purgatório. 
6.  Os encubridores recebem dez por cento de todas as somas.
7.  As sirenas ficam com as ofertas dos nobres.
8.  A regra máxima é: “antes mártires que sacerdotes”. 

segunda-feira, 25 de março de 2013

BANCA FORMAL versus BANCA INFORMAL - A GUERRA



Por Pedro Manuel Pereira
A guerra financeira mundial, ou seja, a que resulta do combate entre a banca formal e a banca informal, espraia-se, neste momento, por todos os continentes.
Qualquer destes sistemas tem uma existência de mais de oito séculos, sendo que o percursor das transferências bancárias transnacionais e transcontinentais foi a Ordem dos Templários.
Os muçulmanos por sua vez ter-lhes-hão seguido as pisadas, se não foram – provavelmente – seus contemporâneos.
Ao longo dos séculos estes dois sistemas de transações de dinheiro coabitaram num mundo em construção global, aparentemente sem atritos (note-se que afirmamos: aparentemente).
O panorama de conflitos abertos nos dias de hoje é o de países como a Líbia, Síria, Iémen, Iraque, Somália e Afeganistão em guerra aberta e outros como Israel/Palestina e Egipto, enquanto outros, por exemplo, encontram-se em guerra larvar, num conflito cujas faces visíveis são as fações xiita e sunita.
Verificamos assim, que vários países do Médio Oriente estão em guerra. A este propósito, convém recordar a crise do petróleo desencadeada pelos países árabes da OPEP (Organização do Países Produtores de Petróleo) há poucas décadas atrás. Assim, entre 17 de outubro de 1973 e 18 de março de 1974 os preços do barril de petróleo atingiram valores que chegaram a mais de 400% do preço base no início da crise, originando uma prolongada recessão nos Estados Unidos e na Europa com a consequente desestabilização da economia mundial.
Desde então os preços médios do crude têm vindo a subir, pese embora a queda de 60% registada em 2008, porém, recuperada a partir do ano seguinte, anotando-se recentemente o ano de 2008, em que os preços subiram mais de 100% entre Janeiro e Julho em virtude de movimentos especulativos a nível mundial.
Desde então as economias ocidentais como as dos EUA e da Comunidade Europeia entraram numa espiral recessiva sem fim à vista.
Se há marca distintiva desde o primeiro ano do século XXI até aos dias presentes, é a dos conflitos sociais, políticos, económicos e militares permanentes, resultantes de uma reordenação geoestratégica política e económica global em curso, de onde emergem novas potências a partir das nações do MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), ou seja, o mercado económico regional para a América Latina, de que se destaca o Brasil e o mercado asiático (China, Índia, Japão,  Singapura, Coreia do Sul, Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia), cujo eixo é regulado pela China e pela Índia  enquanto as velhas potências europeias aglutinadas na CE se afundam como o Titanic, ao som de choros e gritos, acompanhadas por uma orquestra de violinos trajada de fraque, que ataca impávida e serena uma valsa manhosa composta por uma valquíria alemã.
Enquanto isto, aquela que desde finais da 2ª Grande Guerra Mundial se tem afirmado como a maior potência económica e militar do mundo – os EUA – ameaça implodir, atascada numa crise económica de proporções inimagináveis, ultrapassando em breve – se já não ultrapassou – a de 1929.
O mundo que conhecíamos, esboroa-se rapidamente em cada dia, em cada hora que passa, perante a – aparente – impotência de todos nós.
A crise económica que avassala e continua a alastrar como fogo à palha no velho continente e nos EUA emite ondas de choque que se vão projetando nas potências emergentes atrás referidas. Logo, a recessão económica e a instabilidade política e social, repercutem-se a nível mundial, porque hoje a economia é global.
Por detrás deste cenário, como fundamental gerador, existe um combate, uma velha guerrilha de séculos, transformada hoje em guerra financeira que se trava na sombra entre a banca formal e a banca informal. Todos os cenários bélicos e económicos atualmente em curso decorrem assim, em primeira instância, dessa guerra entre “bancas”.
Os grandes conflitos atuais: Iraque, Afeganistão, Síria e outros, têm por rastilho o velho combate de sombras pelo controlo pelo domínio exclusivo mundial das transações financeiras.
De um lado, a banca formal com existência física, detida maioritariamente por tradicionais famílias oligarcas judaicas ou por elas controlada, e por outro lado, a banca informal, sem existência física, controlada por muçulmanos.
À pouco mais de uma década, por razões complexas e extensas para serem relatadas neste pequeno artigo, a oligarquia bancária decidiu aniquilar a rede “bancária” internacional muçulmana que tem vindo a conquistar e desempenhar um crescente e preponderante papel nas transações financeiras mundiais, com benefícios evidentes para os nacionais (particulares, negócios, empresas…) da potências emergentes, quer asiáticas quer do MERCOSUL.
Chegados a este ponto, é tempo de relatarmos ao leitor como funciona a banca informal muçulmana: - Trata-se do sistema Hundi – de transações financeiras – que se baseia no conceito da confiança total, sem papéis, sem documentos, selados com a palavra de honra e um aperto de mão. Funciona na perfeição, porque qualquer um que faça lavagem de dinheiro e traia o seu cliente, será rapidamente “suprimido” do negócio. Por exemplo, no caso de transferências, o depositante entrega a quantia em dinheiro vivo – em qualquer moeda – ao homem hundi no ponto A e pede que uma pessoa de sua confiança, familiar ou amigo, que receba o mesmo valor no ponto B, menos a percentagem do homem hundi, percentagem essa bastante inferior à cobrada na banca formal pelo mesmo tipo de transação, refira-se.
O homem hundi tem um parceiro de confiança, geralmente um parente no ponto B, a quem instrui da forma de disponibilizar a quantia depositada ao amigo do pagador, que se irá identificar junto dele de forma pré-combinada, ou seja, uma senha acordada na origem da transferência.
Tendo em conta as dezenas de milhões de muçulmanos, que enviam dinheiro para as suas famílias nos seus países de origem, bem assim como tantos outros milhões de não muçulmanos (hindus, chineses…) entre outros, que trabalham com este sistema; atendendo às importâncias/valores decorrentes de transações comerciais que se contam por milhares ou milhões diários; considerando que neste processo não existem computadores ou extratos bancários; considerando ainda que todas as quantias são transacionadas em dinheiro vivo e que tanto pagantes quanto recetores podem usam pseudónimos, a movimentação é virtualmente impossível de ser intercetada ou rastreada.
Atente-se também, que para quem pretenda ocultar a proveniência do dinheiro, constitui um erro fatal transferir elevadas quantias através do sistema bancário formal, logo, a banca informal revela-se a melhor solução.
Para além disso, desconhecem-se organizações centralizadas para as operações financeiras da banca informal.
Neste sentido, torna-se evidente que a banca formal está condenada a perder esta guerra a médio prazo e com ela, o descapitalizado sistema capitalista nos moldes em que tem existido, mau grado vá esbracejando no mar encapelado dos dias que correm, assumindo posturas de desespero trágico/grotescas, como temos vindo a assistir nos últimos dias no caso do Chipre, por exemplo.
Como não encontraram – ou quiseram encontrar – solução civilizada – se é que a banca algum dia foi civilizada…- para recuperarem o dinheiro perdido e neste particular, no caso cipriota, qual organização multinacional mafiosa (CE, BCE, FMI), mancomunados através dos seus lacaios na Comissão Europeia, conseguiram engendrar um plano de assalto aos depósitos na banca de Chipre. E conseguiram, para valores acima dos cem mil euros.
É claro que esta foi uma vitória de faz-de-conta, uma vez que as maiores fortunas que até à semana passada se encontravam nos bancos cipriotas eram - sobretudo - de russos e de ingleses e esses, avisados a tempo, numa verdadeira operação relâmpago retiraram o dinheiro – dezenas de milhares de milhões de euros - e transferiram-no para paragens mais saudáveis.
Estamos pois, perante uma nova estratégia da máfia banqueira descapitalizada, que não é mais que o assalto e confisco despudorado ao dinheiro dos depositantes na banca da Europa Comunitária, só equivalente ao sucedido na Argentina em 2001, quando na manhã do dia 1 de dezembro, o povo acordou em choque com uma desvalorização brutal da sua moeda. A bancarrota afetou de forma dramática de um dia para o outro, os aforradores e depositantes que viram as suas contas emagrecer para ¼ do seu valor. Foram ainda proibidos de reaver o que lhes pertencia com a célebre medida do corralito, que restringia os levantamentos bancários. 
Os seus efeitos ainda hoje se fazem sentir nas profundas assimetrias sociais, numa economia em reconstrução, com dificuldades em acertar o passo, elevada taxa de desemprego e muita miséria. O processo de reestruturação da dívida soberana arrastou-se até 2011.
O caso do Chipre marca – na prática – o início do estertor do capitalismo financeiro, o pronúncio de roubos idênticos aos depósitos em bancos do espaço comunitário (se não se estender a outros continentes…) e o alerta para o fim da moeda única.
A fuga de capitais para outras bandas do mundo acelerou nestes dias passados. A banca europeia afunda-se, assim, na descapitalização, no desnorte e numa pré-bancarrota mais rapidamente que o imaginado.
A banca formal torna-se violenta, assaltando coercivamente o dinheiro dos depositantes com o respaldo armado dos governos das nações em cujos bancos metem o gadanho.
Portugal, Grécia, Espanha e Irlanda, são as vítimas que se seguem. Não necessariamente por esta ordem…