segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O ASSALTO AO TESOURO DE KADAFI

Quando em Agosto deste ano, no início da intervenção armada da NATO no conflito líbio, afirmámos nas páginas da Tertúlia Plural que «…a estória da disputa pelo controlo do petróleo não é mais que fumo atirado para os olhos dos incautos.», [in Kadafi – A Queda de um Beduíno, 22/08/2011], estávamos conscientes e sabedores de que a verdade haveria de ver a luz do dia após a morte do ditador, só que, não nos cabia - não cabe - a nós contar a estória dos próximos capítulos desta espécie de telenovela mexicana dobrada em brasilês.
Os motivos do desaire do líbio são bem mais prosaicos: - A necessidade premente da Europa Comunitária e dos Estados Unidos da América (a braços com uma grave crise económica sistémica) de deitarem a mão ao património, aos depósitos bancários e outros ativos financeiros que Kadafi deixou em países como a Itália, França, Áustria, Finlândia, Alemanha, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha, Malta, EUA, Egipto, Tunísia, Omã e várias outras nações africanas.
Segundo o vespertino Los Angeles Times, o ex-ditador enviou para fora da Líbia ao longo de mais de quarenta anos no poder, uma quantia estimada em 200 mil milhões de dólares distribuídas pelos quatro cantos do mundo. É neste contexto – de acordo com o periódico The Telegraph - que o governo da Grã-Bretanha congelou várias contas bancárias, património imobiliário e participações em empresas, detidas nesse país, valor estimado em 20 mil milhões de euros. Na Alemanha tinha um património de mais de seis mil milhões de euros, incluindo participações na Siemens e na BASF; em Itália, possuía ações nas entidades bancárias UniCredit e Fimeccanica; na Áustria detinha 10% do capital da maior fábrica de tijolos do mundo; na Finlândia era detentor de forte participação na Nokia; nos EUA Kadafi possuía mais de 30 mil milhões de dólares em ativos, que contemplam depósitos bancários – atualmente congelados - participações na Exxon Mobill, General Electric, Caterpillar e Citigroup entre outros; detinha 24% da Circle Oil Plc, que é o maior fornecedor de gás natural para o Egipto, Marrocos, Namíbia, Omã e Tunísia.
Já em Portugal – tanto quanto se sabe até ao momento – de acordo com o matutino Público, o beduíno deixou depositados na Caixa Geral de Depósitos um bilião e trezentos milhões de euros (1 bilião, oitocentos e quarenta e cinco milhões de dólares). Ainda de acordo com este periódico, datado de 24 de Outubro, o dinheiro encontra-se em «quatro contas que foram congeladas em Março deste ano ao abrigo das sanções internacionais contra o regime de Kadafi». Este dinheiro foi depositado em 2008.
Recordamos a pertinente notícia da Agência Lusa de 31 de Agosto de 2010: «O primeiro ministro visita a Líbia, quarta feira, pela quarta vez nos últimos cinco anos e meio, frequência que traduz a aposta política do Governo português na intensificação das relações económicas com este país do Magreb».
É bom recordarmos-nos que até aos alvores deste ano, Kadafi, um sanguinário ditador e terrorista, antes reciclado e apaparicado como velho amigalhaço da França, Reino Unido, EUA e outros, era tratado pelo governo de Sócrates com deferência, ou antes, reverência com laivos de subserviência, como um néscio se posta perante uma alimária ajaezada de ouro. E aparentemente o governo tinha razões para isso, a aferir pelas quantias em depósitos no Banco do Estado, restando saber se existem outros depósitos bancários ou investimentos em Portugal do assassinado ditador e de seus familiares.
Entretanto o representante do Conselho Nacional de Transição da Líbia manifestou a intenção do seu país de resgatar o dinheiro depositado na CGD. Porém, como alegadamente existe uma dívida de vários milhões de euros do Estado líbio a empresas portuguesas, dificilmente o dinheiro em depósito lhes será devolvido. Neste sentido, torna-se importante sabermos que tipo de negócios e que empresas portuguesas na vigência do governo de Sócrates, mantiveram relações económicas com a Líbia.
Provavelmente este será o género de resposta que os países onde existam depósitos bancários, ativos financeiros e propriedades do clã Kadafi, irão dar ao governo líbio quando este exigir a devolução dos bens. Para além do mais a NATO tem uma fatura de despesas consideráveis a apresentar ao próximo governo líbio, dada a sua intervenção na guerra, decisiva para a deposição de Kadafi.
Não deixa de ser curioso verificar, que foi precisamente em Março deste ano, quando a Europa Comunitária e os Estados Unidos entraram em grave recessão económica, que as instâncias internacionais se «lembraram» de aplicar sanções económicas à Líbia, dando instruções aos países onde existe dinheiro e bens do clã Kadafi, para os congelar. A hipocrisia e o cinismo da ONU e outros organismos manifestou-se abertamente, ao «descobrirem», então, que a Líbia era governada por «uma ditadura que não respeitava os direitos humanos».
De salientar que em inícios deste ano a CE e os EUA promoveram de igual forma e paralelamente, insurreições populares em vários países árabes como o Egipto (onde os militares estão no poder e os democratas são presos e condenados), Tunísia, Síria, Iémen e outros com menor expressão. Saliente-se que o denominador comum entre eles, à partida, era (é) o facto de serem governados por ditaduras capitaneadas por clãs familiares de sanguessugas cleptocratas, com incomensuráveis fortunas a bom recato em países europeus, africanos e EUA. Kadafi e a sua prol faziam parte desse verdadeiro cartel de malfeitores, que excetuando o seu caso e o de Mubarak no Egipto (deposto primeiro), se mantêm arrimados ao poder com unhas e dentes, enquanto os chefes de governo das potências da NATO assim quiserem… estrategicamente.
Com a captura de Kadafi num cano de esgoto e o seu assassinato sumário pela populaça, quem saiu a ganhar com esta guerra sórdida foram os países onde o mesmo detinha ativos financeiros. Quem perdeu, foi o povo líbio. O tempo o mostrará.

Pedro Manuel Pereira

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

AS MANHAS DOS LARÁPIOS

"Quando você perceber que, para produzir precisa de obter autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno as, pelo contrário, são eles que estão protegidos de si; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que a sua sociedade está condenada".

§ Frase da filosofa russo-americana Ayn Rand (judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920).

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O ROTATIVISMO POLÍTICO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO

"Estamos no século das luzes, da ciência e do trabalho, e contudo nunca a política portuguesa foi mais fementida [desleal, traiçoeira, pejorativa] e estéril."
"Mal exercemos os nossos direitos políticos. O sufrágio é quase um tráfico, uma burla. A liberdade eleitoral é como em certas paragens de África o negócio dos escravos que se acoberta com o eufemismo do resgate."
"Sobre esta base de torpezas não é possível levantar um edifício de austera autoridade. Legislatura e administração não são muitas vezes senão a organização da burla eleitoral para a exploração da maioria trabalhadora por uma minoraria parasitária."
"É este o regime sob o qual temos vivido, ou, antes, sob o qual vamos morrendo."
"E, para nos fazer perder a consciência do aniquilamento, esta política trás a seu soldo uma legião de falsos apóstolos, que todos os dias espalham aos quatro ventos a fraude intelectual."
"Há ainda algum visionário que imagine que existe dentro deste regime, como princípio de vida, a luta dos partidos? É uma ilusão que se deve desvanecer. Os partidos conluiaram-se entre si."
"São conhecidos os acordos eleitorais, em virtude dos quais os partidos conseguiram mais do que falsificar a eleição: suprimiram o eleitor."

§ - Conferência pronunciada por Bernardino Machado em 26 de Dezembro 1894, na Liga Liberal, subordinada ao título «Guerra ao banditismo político», em pleno período de decadência do rotativismo oitocentista.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

OS RECURSOS ENERGÉTICOS QUE PODEM SALVAR PORTUGAL DA MISÉRIA ABSOLUTA

No sobressolo de uma área geográfica que se estende desde Ourique até aos limites – recém aumentados - da Zona Económica Marítima Portuguesa 1. e se prolonga pela província de Huelva, encontram-se jazidas de gás natural, cujas reservas são muitíssimo superiores ao equivalente a quinze anos de exploração, como foi amplamente anunciado na comunicação social em 2010, para além de enormes reservas de petróleo, sendo que, no mar aberto, encontram-se a poucas centenas de metros do fundo da placa continental marítima.
Hoje, fala-se na exploração de petróleo.
São conhecedores desta realidade os vários governos que têm passado por S. Bento, desde os anos cinquenta do século XX até ao presente, assim como, as várias empresas de exploração destes recursos que ao longo das décadas vêm fazendo prospecção em território nacional.
Sem cuidarmos do passado nesta questão, porque o que nos interessa é o presente e o amanhã que começa hoje, torna-se pertinente questionarmos este jovem governo (ou governo de jovenzitos?), da razão porque o governo não negoceia concessões com as diversas multinacionais do sector, que de resto o vêm contactando desde que tomou posse.
Bem sabemos que a exploração do gás natural é, além de uma questão económica, uma face da geoestratégia política/económica, de acordo com a qual a Europa se obriga – tal como acontece actualmente – a comprar gás natural à Argélia, país que se encontra às portas da Europa, em troca da contenção do fundamentalismo islâmico - expressão maioritária nesse país - reprimido por um governo de ditadura, cleptocrata, sustentado pela União Europeia, com a bênção dos Estados Unidos da América.
Sem a venda do gás natural, que resta à Argélia para exportar?…
É o medo da hipotética invasão da Europa comunitária pelos bárbaros (leia-se: argelinos), que leva esta a comprar o único recurso natural que sustenta a ditadura, logo, a reprimir os fundamentalistas islâmicos.
Nos dias, semanas e meses que seguem, será um excelente exercício estar atento – todos os portugueses em geral e os algarvios em particular – ao desenrolar dos próximos capítulos desta «novela». É que «pelo andar da carruagem», até é bem provável que o governo ceda concessões a empresas estrangeiras para a exploração do gás e do petróleo. Duvidoso é que o povo português venha a beneficiar de tal iniciativa, tal como acontece em Angola, com a exploração do seu petróleo. Esperemos que haja o bom senso, honestidade e um mínimo de patriotismo, sobretudo atendendo à miséria que reina em Portugal, para que a parte portuguesa envolvida na exploração destes recursos, seja, vantajosamente, o governo português e não um bando de cleptocratas.

1. Possui 3 027 408 km², ou seja, 14,9 vezes a área de Portugal Continental. Uma área comparável ao território da Índia.


Pedro Manuel Pereira

sábado, 8 de outubro de 2011

A OFENSIVA GLOBAL DOS GENOCIDAS SOCIAIS #


Por Pedro Manuel Pereira

Há pouco mais de dois anos começou a desenhar-se nos nossos horizontes, sobretudo no mundo ocidental, uma ofensiva gradual sem precedentes sobre os cidadãos em geral, com especial incidência nas classes laboriosas, pequenos e médios industriais, empresários e comerciantes. Enfim, sobre os rendimentos, os direitos e as liberdades de todos e cada um dos cidadãos, afetando em particular a classe média.
Este ataque, proveniente de um governo sombra global*, é claro para todos os estados membros da União Europeia e outras nações, sentindo-o nós, portugueses, em Portugal, no quotidiano, com manifesta preocupação, diríamos mesmo, com angústia, porque o desemprego cresce exponencialmente, a insegurança laboral assume contornos fantasmagóricos e os rendimentos do trabalho são cada vez menores, massacrados que são, os cidadãos, pelos cortes salariais e pela pesada carga fiscal. A fome, a miséria e a criminalidade, alastram velozmente.
Nesta altura, convém salientar que os dirigentes da União Europeia, os chefes de governos e presidentes dos estados que a compõem, limitam-se a cumprir ordens em cadeia emanadas do topo de uma pirâmide, cujo vértice sinistro o comum dos cidadãos não consegue vislumbrar, mas que alguns dos referidos dirigentes políticos conhecem.
Acresce que, há sete anos tivemos conhecimento, que nos anos seguintes (desde então) o modelo de economia global assumiria a face que agora começamos a conhecer, ou seja, o reforço dos oligopólios**; a drástica baixa dos salários reais; o aumento das taxas de juros; a agilização dos despedimentos e/ou supressão de postos de trabalho, até que qualquer estado atinja entre 23% a 25% de desempregados; a redução dos benefícios fiscais das classes média e baixa; o desmantelamento dos serviços nacionais de saúde, de segurança social e de aposentação; o controlo absoluto dos cidadãos através de sistemas informáticos como o cartão do cidadão, os cartões de crédito, os cartões de multibanco e todos quanto contenham chips electrónicos*** e o reforço do controlo dos serviços de videovigilância, tendo estes fatores como objetivos – entre outros -, a aproximação crescente entre as classes média e baixa até que as duas se encontrem ao nível da subsistência mínima.
Na altura, muito embora fossemos alertados por «eurocratas» das nossas relações pessoais, bem posicionados, para o cenário que agora vivemos e o que nos resta viver, pensámos estar a escutar o relato de um filme de ficção científica da série B e por isso, céticos ficámos, uma vez que no horizonte não se vislumbravam nuvens negras. Mesmo que na altura acreditássemos no que ouvíamos e passássemos as informações a outras pessoas, de pouco ou nada adiantaria a transmissão desses informes, sabendo nós que eram afirmações verdadeiramente «fantásticas» para os tempos que então vivíamos.
O tempo se encarregou de nos mostrar que o relato que nos pareceu ficção científica se transmutou em sinistra realidade.
Como vivemos tempos de Trevas, de Ignorância, de Preconceitos e de tiranetes a porem-se em bicos de pés, é dever de todos os cidadãos lutarem contra os mesmos, defendendo a Justiça, a Verdade, a Equidade, a Solidariedade e a justa repartição da riqueza, princípios que estão a ser espezinhados pelos governos da UE, prenhes de políticos cinzentões a condizer com as fardas/fatos que trajam no dia-a-dia, funcionários submissos de tiranos de rosto oculto pelas máscaras de genocidas sociais.
Mas é também dever de todos os cidadãos, combaterem a Opressão; a limitação das Liberdades fundamentais em nome de uma pretensa segurança (?) e de uma modernização dos estados, de carácter claramente duvidoso; o autoritarismo; a corrupção; o saque; os desmandos e o esbulho dos rendimentos do trabalho, dos bens e do património dos europeus em geral e de Portugal e dos portugueses em particular.
Quanto a ideologias políticas dos governos das nações em causa, «estamos conversados». Independentemente do rótulo político e emblema que cada um ostente, governam todos da mesma maneira, ou seja, de acordo com as ordens que recebem de Bruxelas e de Bona e que estes, por sua vez, recebem do governo sombra global.
A política do «memorando contínuo» que se encontra a ser implementada nos estados membros da UE, irá conduzir nos próximos meses à destruição, quer relativa, quer absoluta, da organização tradicional do trabalho, eliminando os quadros intermédios nos mais variados sectores de atividade pública e privada e reduzindo a 10% os quadros superiores.
Desmantelados, assim, os atuais quadros de hierarquias laborais, os trabalhadores passarão a ser geridos a partir de linhas de comando direto, exercido pelas poucas chefias da absoluta confiança dos «fatos cinzentos», quer na administração pública, quer nas fábricas e nas empresas.
Para controlar os trabalhadores nos vários sectores empresariais e do estado, serão reforçados o número de informadores dentro destes, ao estilo das polícias secretas. Novas formas de organização laboral encontram-se a ser criadas dando lugar a novas formas de exploração a custos médios, muito mais baixos que os atualmente em vigor, abrangendo todos quantos labutam, reduzindo os seus salários reais, seja através dos cortes nos mesmos ou do aumentando da coleta sobre os rendimentos do trabalho, provendo a uma crescente acumulação e concentração do capital nos oligopólios.
No caso da produção, incluindo no setor primário, os preços finais para o comprador acompanharão em parte a descida real dos salários, formula expedita encontrada pelos genocidas sociais para que o consumo e os seus lucros não definhem, uma vez que os preços poderão, então, competir com os praticados pelos dos produtos provindos das sociedades industriais emergentes, casos da China e da India, por exemplo.
Em Portugal, Grécia, França, Espanha, Grã-Bretanha e Áustria, o limite de idade para a reforma e as contribuições dos trabalhadores vem aumentado de forma significativa. De igual modo, em Itália, na Irlanda, em Portugal, na Grécia e em Espanha nos últimos meses, os impostos indiretos subiram drasticamente.
Na Polónia, Roménia, Irlanda, Áustria, República Checa, Itália, França, Portugal e Grécia, os salários dos trabalhadores continuam a ser reduzidos em cada mês quer passa, bem assim, como o número de funcionários públicos, quer através da supressão dos postos de trabalho, quer não renovando contratos com trabalhadores que há vários anos se encontram nessa precária situação laboral.
Reputados economistas mundiais de variados quadrantes, admitem que o plano para reduzir a dívida por meio do famigerado «memorando» e as asfixiantes medidas de austeridade, conduzem a um círculo vicioso em espiral, de aumento da dívida pública e de recessão.
Neste momento, a principal preocupação dos governos dos países em dificuldades, é salvar a banca em geral, que navega em mar encapelado, de tal ordem que se socorrem das chamadas «troikas» - casos de Portugal e da Grécia, por exemplo – para com a maior parte do dinheiro emprestado pela trupe a juros incomportáveis ao senso comum, financiarem a banca, não obstante os 500 000 milhões de euros injetados nesta, nos últimos meses, pela UE, que de acordo com as cândidas declarações recentes de Durão Barroso, serviu para salvar as poupanças dos depositantes (?). É evidente que por detrás destas iniciativas se encontra o «fantasma» da bancarrota de 1929, que inúmeros analistas consideram que poderia ter sido evitada se acaso os governos tivessem salvado os bancos da bancarrota.
Todos sabemos, de igual forma, que a ultrapassagem da profunda depressão económica iniciada em Wall Street, só foi superada com a economia de guerra gerada pela entrada dos USA na II Grande Guerra Mundial.
A problemática da dívida pública não se refere apenas ao seu nível, mas também, à despesa acrescida com o seu serviço, a qual, em última análise, determina a incapacidade de um estado para pagar, ou seja, leva-o à bancarrota.
O presidente do Conselho Europeu admitiu que a ansiedade com a gestão da dívida pública dos estados endividados da UE – caso de Portugal – afeta o reforço do euro como divisa internacional e o futuro da Eurozona como um todo, devido ao elevado nível de interdependência das economias.
A salvaguarda da Eurozona e dos principais prestamistas são, portanto, os motivos pelos quais foi necessário celebrar atabalhoadamente um acordo sobre os mecanismos de Estabilidade Europeia e os pagamentos das prestações dos empréstimos aos países endividados.
Segue-se nas próximas semanas ou poucos meses, a revisão de todos os tratados intercomunitários.
O que preocupa o governo sombra global não é tanto a dimensão da dívida portuguesa ou grega, por exemplo, mas a dificuldade de administrar a reação em cadeia em países com a Itália ou a Espanha, tanto mais que um dos seus objetivos primários é salvar o sistema financeiro, instrumento fundamental para a acumulação de capital.
Enquanto as classes laborais, a indústria e o comércio já se encontram a caminho da falência em Portugal e na Grécia e, por consequência, da destruição relativa e/ou absoluta das suas economias, os demais estados membros da UE e os conglomerados mundiais do setor financeiro encontram-se a negociar na sombra, um caminho de bancarrota controlada para as economias destes dois países.
De resto, está bem de ver que tal como o princípio da Física que refere: «matéria atrai matéria na razão direta das massas», o mesmo princípio se aplica à economia, ou seja: «riqueza atrai riqueza na razão direta das massas». De igual modo: «miséria atrai miséria na razão direta das massas». Estes são princípios do mais elementar senso comum, inquestionáveis. Logo, é compreensível que esmifrar o «sangue e o tutano» de um povo – como no caso português – para resolver uma crise económica sistémica, só por si não salvará o país do desastre «anunciado», caso não haja, quanto antes, um esforço coletivo que incentive e facilite o investimento em setores produtivos de base de que o país é deficitário, como a agricultura, com incidência na produção cerealífera, olivícola e outras; no setor das pescas, através da renovação/modernização da decrépita e – quase – artesanal frota pesqueira; na exploração mineira e nas pedreiras; na indústria transformadora/conserveira; na exploração das potencialidades da nossa costa Atlântica; na pecuária e seus derivados: carne, leite, laticínios…; nas energias alternativas: eólica, geotérmica, de marés… e outras.
Entretanto, o governo francês e o governo alemão procuram minimizar a sua participação estatal nos mecanismos de apoio aos estados endividados transferindo uma parte do fardo da reestruturação para os grupos de credores da banca, enquanto o BCE**** e os bancos europeus fazem pressão para que o cancelamento parcial da dívida não ocorra às suas custas. Não obstante a oferta de uma alta taxa de juro, não se encontram satisfeitos, porque consideram improvável o reembolso da dívida; questionam a probalidade de os planos propostos virem a ter êxito.
É enquadrado neste cenário que as reestruturações das dívidas soberanas estão a ser promovidas pelos círculos americanos, os quais vêm intervindo ativamente na competição euro/dólar, como divisas de reserva internacionais.
De qualquer forma, os trabalhadores, os pequenos e médios empresários, industriais e comerciantes, nada podem esperar de positivo do resultado desta luta de galos de capoeira. Qualquer que seja o resultado da mesma, entre os vários patamares do capital e dos estados mais fortes, a ofensiva da classe dominante continuará a manifestar-se afanosamente, procurando a forma de assegurar a força de trabalho mais barata, acelerando as reestruturações, as privatizações e a liquidação da propriedade pública a favor das multinacionais e corporações monopolistas.
Quanto ao reembolso da dívida pública, as várias propostas do governo sombra diferem apenas sobre o quando e como os povos pagarão a conta, na certeza que, com a extensão do período para o reembolso dos títulos, os trabalhadores terão de pagar mais, ao longo de um maior período de tempo, quer a taxa de juro permaneça estável, quer a mesma aumente.
Assim, a questão crucial que se coloca no presente, está em saber que convulsões sociais e políticas se sucederão, no intermezzo***** do patamar de fratura entre o atual modelo económico que se esboroa rapidamente e um novo modelo económico assente noutro paradigma que se nos afigura feroz e desumano.
Quanto às fortunas dos grandes capitalistas, dos grandes milionários a nível mundial, essas, encontram-se asseguradas. Aliás, continuam a engrossar em cada dia que passa à custa do empobrecimento generalizado de milhões de seres humanos, pouco lhes preocupando o futuro destes, uma vez que são detentores de vastos patrimónios e os seus pecúlios encontram-se bem entesourados.
Pensamos que, pelo andamento que leva a conjuntura económica e social que vivemos, não será de excluir a hipótese de guerras civis e/ou globais, o que – por razões óbvias - convém aos oligopólios das mais diversas áreas e aos genocidas sociais, tanto mais que os recursos naturais mundiais em breve se tornarão escassos, caso a evolução demográfica continue ao ritmo diário que atualmente se regista
.

* Sem dúvida que o governo sombra mundial é composto por membros do grupo Bilderberg (quer presentes, quer ausentes, mas membros desta corporação) cuja sessão anual este ano (2012) decorreu em St. Moritz - Suíça, entre 9 e 12 junho. Dos cerca de 130 participantes, 1/3 foi composto por norte americanos, daí o seu peso dentro do grupo. A Europa foi representada por 2/3 dos convivas com particular relevância em número para o Reino Unido, França e Alemanha. Ressalve-se, porém, que os genocidas sociais-mor, esses, mantêm-se na sombra a partir de ondem dão ordens aos senhores do Grupo Bilderberg e estes, por sua vez, aos que estão por baixo e assim por diante até à base da sinistra pirâmide. Eis a lista dos membros presentes no referido meeting:
Coene, Lucas, Governador do Banco Nacional de Bélgica
Davignon, Etienne, Ministro de Estado
Leysen, Tomás, Presidente, Umicore
China
Fu Ying, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros
Yiping Huang, professor de Economia do Centro para Pesquisa Económica da China, a Universidade de Pequim
Dinamarca
Eldrup, Anders, CEO da Dong Energy
Federspiel, Ulrik, Vice-Presidente para Assuntos Globais, Haldor Topsoe A/S
Schütze, Pedro, membro da Diretoria Executiva, Nordea Bank AB
Alemanha
Ackermann, Josef, presidente do Conselho de Administração e do Comité Executivo do Grupo, Deutsche Bank
Enders, Thomas, CEO da Airbus SAS
Löscher, Pedro, Presidente e CEO da Siemens AG
Nass, Matthias, chefe correspondente internacional, Zeit Morir
Steinbrueck, membro do Bundestag, ex-ministro de Finanças
Finlândia
Apun, Matti, Diretor de Negócios da Finlândia e EVA Fórum Político
Johansson, Ole, presidente da Confederação das Indústrias EK finlandesa
Ollila, Jorma, presidente da Shell holandesa
Pentikäinen, Mikael, Editor e Chefe Sénior Editor,
França
Baverez, Nicolás, Partner, Gibson, Dunn & Crutcher LLP
Bazire, Nicholas, Diretor-Geral do Groupe Arnault / LVMH
Castries, Henri de, Presidente e CEO AXA
Lévy, Mauricio, Presidente e CEO da Publicis Groupe S.A.
Montbrial, Thierry de, Presidente do Instituto Francês de Relações Internacionais
Roy, Olivier, Professor de Teoria Política e Social, Instituto Universitário Europeu
Inglaterra
Agius, Marcus, Presidente, Barclays PLC
Flint, Douglas J., Presidente do Grupo, HSBC Holdings
Kerr, John, membro da House of Lords, Vice-Presidente, Shell holandesa
Lambert, Richard, Diretor independente não-executivo da Ernst & Young
Mandelson, Peter, membro da Câmara dos Lordes, presidente do Conselho Mundial
Micklethwait, Juan, Editor Chefe do The Economist
Osborne, George, Ministro de Finanças
Stewart, Rory, Membro do Parlamento
Taylor, J. Martin, Presidente, Syngenta International AG (Henry R. Kravis, Kohlberg Kravis Roberts & Co)
Grécia
David, George A., Presidente de Coca-Cola H.B.C. S.A.
Hardouvelis, Gikas A. Economista-Chefe e Chefe de Pesquisa, EFG Eurobank
Papaconstantinou, George, Ministro de Finanças
Tsoukalis, Loukas, Presidente, Grisones ELIAMEP Organizações Internacionais
Almunia, Joaquín, Vice-presidente da Comissão Europeia
Daele, Frans van, Chefe do Gabinete do Presidente do Conselho Europeu
Kroes, Neelie, Vice-presidente Comissão Europeia, Comissário da Agenda Digital
Lamy, Pascal, Diretor Geral da Organização Mundial do Comércio
Rompuy, Herman van, Presidente do Conselho Europeu
Sheeran, Josette, Diretor Executivo do Programa Mundial de Alimentos
Solana Madariaga, Javier, Presidente, Centro para a Economia Mundial ESADE
Trichet, Jean-Claude, Presidente do Banco Central Europeu
Zoellick, Robert B., Presidente, Grupo do Banco Mundial
Irlanda
Gallagher, Paul, Senior Counsel, ex-procurador-geral
McDowell, Michael, Conselheiro Senior, Law Library, ex-vice-primeiro-ministro
Sutherland, D. Pedro, presidente da Goldman Sachs Internacional
Itália
Bernabe, Franco, CEO da Telecom Itália
Elkann, John, presidente da Fiat
Monti, Mario, presidente da Universidade Commerciale Luigi Bocconi
Scaroni, Paolo, CEO da ENI
Tremonti, Giulio, Ministro da Economia e das Finanças
Canadá
Carney, J. Marcos, Governador do Banco do Canadá
Clark, Edmund, Presidente da CEO e do Grupo do Banco Financeiro
McKenna, Frank, Vice-presidente, Grupo do Banco Financeiro
Orbinksi, Santiago, Professor de Medicina e Ciências Políticas da Universidade de Toronto
Prichard, J. Robert S., Presidente, Torys
Reisman, Heather, Presidente e CEO da Indigo Books & Music Center Inc., Brookings Institution
Holanda
Bolland, Marc J., Diretor Geral, MarcK e Spencer Group
Chavannes, Marc E., colunista político, NRC Handelsblad, professor de Jornalismo
Halberstadt, Víctor, Professor de Economia da Universidade de Leiden, ex Secretário Geral honorário das reuniões do Grupo Bilderberg
Rainha da Holanda
Rosenthal, Uri, Ministro de Relações Exteriores
Invierno, W. Jaap, sócio da Brauw Westbroek Blackstone
Noruega
Myklebust, Egil, Ex-Presidente do Conselho de Administração da SAS, Sk Hydro ASA
H.R.H. Príncipe herdeiro Haakon da Noruega
Ottersen, Ole Petter, Reitor da Universidade de Oslo
Solberg, Erna, Líder do Partido Conservador
Áustria
Bronner, Oscar, CEO e Publisher, Medien AG Standard
Faymann, Werner, Chanceler Federal
Rothensteiner, Walter, Presidente do Conselho do Raiffeisen Zentralbank Österreich AG
Scholten, Rudolf, Membro da Diretoria Executiva, Oesterreichische Kontrollbank AG
Portugal
Balsemão, Francisco Pinto, presidente e CEO da IMPRESA, SGPS, Ex-Primeiro Ministro
Ferreira Alves, Clara, CEO de CLAREF, Lda., uma sociedade unipessoal.
Leite Nogueira, António, administrador da José de Mello Investimentos, SGPS, SA
Suécia
Mordashov, Alexey A., CEO da Severstal Schweden
Bildt, Carl, Ministro das Relações Exteriores
Björling, Ewa, Ministro de Comércio
Wallenberg, Jacob, Presidente, Investor AB
Suíça
Brabeck-Letmathe, Pedro, Presidente da Nestlé S.A.
Groth, Hans, Diretor Sénior de Política de Saúde e acesso a mercados, Unidade de Oncología de Negócios, Pfizer Europa
Steiner Janom, Bárbara, Chefe do Departamento de Justiça, Segurança e Saúde Cantão
Kudelski, André, Presidente e CEO, Grupo Kudelski SA
Leuthard, Doris, Conselheiro Federal
Schmid, Martín, Presidente, Governo de Cantão
Schweiger, Rolf, Ständerat
Soiron, Rolf, Presidente do Conselho, Holcim Ltd., Lonza Ltd.
Vasella, Daniel L., Presidente, Novartis AG
Witmer, Jürg, Presidente, Givaudan SA e Clariant AG
Espanha
Cebrián, Juan Luis, CEO da PRISA
Cospedal, María Dolores, Secretário-Geral do Partido Popular
Bruta de León, Bernardino, Secretário-Geral da Presidência espanhola
Nin Genova, Juan María, Presidente e CEO da Caixa
Rainha da Espanha
Turquia
Ciliv, Süreyya, CEO da Hizmetleri Turkcell Iletisim A.S.
Domac Gülek, Tayyibe, Ex Ministro de Estado
Koç, Mustafa V., Presidente, Koç Holding A.S.
Pekín, Sefika, Sócio Fundador, Pekín & Bufete Bayer
EUA
Alexandre B. Keith, USCYBERCOM, Comandante, Diretor da Agência de Segurança Nacional
Altman, C. Roger, presidente da Evercore Partners Inc.
Bezos, Jeff, fundador e CEO da Amazon.com
Collins, C. Timóteo, presidente da Ripplewood Holdings, LLC
Feldstein, Martin S., George F. Baker, professor de Economia na Universidade de Harvard
Hoffman, Reid, Co-fundador e CEO do LinkedIn
Hughes, Chris R., Co-fundador do Facebook
Jacobs, Kenneth M., Presidente e CEO da Lazard
Johnson, vice-presidente James A., Perseus, LLC
Jordan Jr., Vernon E. Diretor-Gerente Sénior, Lazard Freres & Co. LLC
Keane, M. João, Senior Partner, SCP Partners, Geral, aposentado Exército americano
Kissinger, Henry A., presidente da Kissinger Associates, Inc.
Kleinfeld, Klaus, Presidente e CEO da ALCOA
Kravis, Henry R., Co-Presidente e CEO da cooperação, a Kohlberg Kravis Roberts &
Co.Kravis, Marie-Josée, membro sénior do Hudson Institute, Inc.
Cheng Li, pesquisador sénior e diretor de pesquisa, John L. Thornton China Center, Brookings Institution
Mundie, Craig J. Pesquisa, Chefe de Estratégia da Microsoft Corporation
Orszag, R. Pedro, vice-presidente do Citigroup Global Markets, Inc.
Perle, Richard N., estudioso residente, do Instituto Empresarial Americano de Pesquisa de Políticas Públicas
Rockefeller, David, ex-presidente do Banco Chase Manhattan
Rose, Charlie, editor executivo e apresentador, Charlie Rose
Rubin, Robert E., Co-Presidente do Conselho de Relações Exteriores, ex-secretário do Tesouro
Schmidt, Eric, CEO da Google Inc.
Steinberg, James B., Secretário de Estado Adjunto
Thiel, A. Pedro, presidente de Gestão de Capital Clarium, LLC
Varney, A. Christine, procurador-geral assistente em temas anti-truste
Vaupel, James W., Diretor Fundador do Instituto Max Planck de Pesquisas Demográficas
Warsh, Kevin, ex-governador, Federal Reserve Board
Wolfensohn, James D. Wolfensohn, Presidente & Company, LLC

A partir de aqui só nos resta tentar «adivinhar» quem serão os verdadeiros mandantes destes.
De entre os temas tratados é de realçar a situação económica e financeira atual. Relativamente às conclusões, destacam-se as de que «a Grécia está morta» e será totalmente incapaz de solver a dívida soberana e os «USA encontram-se na bancarrota» com uma dívida de 14 300 biliões de dólares e mais de um bilião de dólares de défice em cada um dos últimos três anos. O Clube de Bildeberg apoia a estratégia da União Europeia de transferir a gestão da política económico-financeira dos vários países em crise, para entidades financeiras externas, num genuíno conceito de protetorado exercido na prática, neste caso, através do Banco Central Europeu e do Deutsche Bank

** Oligopólio: forma evoluída de monopólio, em que um grupo – ou grupos - de empresas promove o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços, como a exploração e comercialização de petróleo; extração e comércio de minérios; produção de aço; produção de cimentos; domínio do tráfego aéreo; domínio dos meios de comunicação social; domínio das telecomunicações; dos laboratórios farmacêuticos; da produção de alumínio; da fabricação de plásticos; do sistema bancário; das seguradoras, e assim por diante.

*** O chip eletrónico é um produto da empresa norte-americana Applied Digital Solutions, que tem com objetivo mais amplo, vir a ser implantado no maior número possível de pessoas. Chips com outras capacidades encontram-se neste momento a ser desenvolvidos e usados. Nos Estados Unidos, por exemplo, para aumentar as vendas da multinacional de bebidas Coca-Cola, esta lançou há uns anos atrás, uma campanha de marketing centrada em 120 latas de refrigerantes especiais. A sua aparência e o seu peso não permitiram reconhecer que estavam equipadas com um chip GPS (Global Positioning System). Os «felizes» compradores das latas premiadas deviam identificar-se por telefone notificando o seu achado e transportar a lata sempre consigo até que uma equipa da Coca-Cola os localizasse para os informar sobre os seus prémios. Esta foi uma experiência com êxito. Neste momento, no que reporta a Portugal, quase todos os cidadãos serão georeferenciados através deste sistema, que equipa desde o Cartão do Cidadão até aos cartões de Multibanco e de Crédito.

**** Segue, retirado da internet este texto elucidativo sobre o BCE (Banco Central Europeu): Esta explicação ajudará a acabar de vez com as dúvidas sobre esta organização bancária e suas congéneres:

O que é o BCE?
- O BCE é o banco central dos Estados da UE que pertencem à zona euro, como é o caso de Portugal.
E de onde veio o dinheiro do BCE?
- O dinheiro do BCE, ou seja o capital social, é dinheiro de nós todos, cidadãos da UE, na proporção da riqueza de cada país. Assim, à Alemanha correspondeu 20% do total. Os 17 países da UE que aderiram ao euro entraram no conjunto com 70% do capital social e os restantes 10 dos 27 Estados da UE contribuíram com 30%.
E é muito, esse dinheiro?
- O capital social era 5,8 mil milhões de euros, mas no fim do ano passado foi decidido fazer o 1º aumento de capital desde que há cerca de 12 anos o BCE foi criado, em três fases. No fim de 2010, no fim de 2011 e no fim de 2012 até elevar a 10,6 mil milhões o capital do banco.
Então, se o BCE é o banco destes Estados pode emprestar dinheiro a Portugal, ou não? Como qualquer banco pode emprestar dinheiro a um ou outro dos seus acionistas.
- Não, não pode.
Porquê?!
- Porquê? Porque... porque, bem... são as regras.
Então, a quem pode o BCE emprestar dinheiro?
- Aos outros bancos, a bancos alemães, bancos franceses ou portugueses.
Ah percebo, então Portugal, ou a Alemanha, quando precisa de dinheiro emprestado não vão ao BCE, vão aos outros bancos que por sua vez vão ao BCE.
- Pois.
Mas para quê complicar? Não era melhor Portugal ou a Grécia ou a Alemanha irem diretamente ao BCE?
- Bom... sim... Quer dizer... Em certo sentido... Mas assim os banqueiros não ganhavam nada nesse negócio!
Agora não percebi!
- Sim, os bancos precisam de ganhar alguma coisinha. O BCE de Maio a Dezembro de 2010 emprestou cerca de 72 mil milhões de euros a países do euro, a chamada dívida soberana, através de um conjunto de bancos, a 1%, e esse conjunto de bancos emprestaram ao Estado português e a outros Estados a 6 ou 7%.
Mas isso assim é um "negócio da China"! Só para irem a Bruxelas buscar o dinheiro!
- Não têm sequer de se deslocar a Bruxelas. A sede do BCE é na Alemanha, em Frankfurt. Neste exemplo, ganharam com o empréstimo a Portugal uns 3 ou 4 mil milhões de euros.
Isso é um verdadeiro roubo... Com esse dinheiro escusava-se até de cortar nas pensões, no subsídio de desemprego ou de nos tirarem parte do 13º mês.
As pessoas têm de perceber que os bancos têm de ganhar bem, senão como é que podiam pagar os dividendos aos acionistas e aqueles ordenados aos administradores que são gente muito especializada.
Mas quem é que manda no BCE e permite um escândalo destes?
- Mandam os governos dos países da zona euro. A Alemanha em primeiro lugar que é o país mais rico, a França, Portugal e os outros países.
Então, os Governos dão o nosso dinheiro ao BCE para eles emprestarem aos bancos a 1%, para depois estes emprestarem a 5 e a 7% aos Governos que são donos do BCE?
- Bom, não é bem assim. Como a Alemanha é rica e pode pagar bem as dívidas, os bancos levam só uns 3%. A nós ou à Grécia ou à Irlanda que estamos de corda na garganta e a quem é mais arriscado emprestar, é que levam juros a 6%, a 7 ou mais.
Então nós somos os donos do dinheiro e não podemos pedir ao nosso próprio banco!...
- Nós, qual nós?! O país, Portugal ou a Alemanha, não é só composto por gente vulgar como nós. Não se queira comparar um borra-botas qualquer que ganha 400 ou 600 euros por mês ou um calaceiro que anda para aí desempregado, com um grande acionista que recebe 5 ou 10 milhões de dividendos por ano, ou com um administrador duma grande empresa ou de um banco que ganha, com os prémios a que tem direito, uns 50, 100, ou 200 mil euros por mês. Não se pode comparar.
Mas, e os nossos Governos aceitam uma coisa dessas?
- Os nossos Governos... Por um lado, são, na maior parte, amigos dos banqueiros ou estão à espera dos seus favores, de um empregozito razoável quando lhes faltarem os votos.
Mas então eles não estão lá eleitos por nós?
- Em certo sentido, sim, é claro, mas depois... Quem tem a massa é quem manda. É o que se vê nesta atual crise mundial, a maior desde há cerca de um século para cá. Essa coisa a que chamam sistema financeiro transformou o mundo da finança num casino mundial, como os casinos nunca tinham visto nem suspeitavam, e levou os EUA e a Europa à beira da ruína. É claro, essas pessoas importantes levaram o dinheiro para casa e deixaram a gente como nós, que tinha metido o dinheiro nos bancos e nos fundos, a ver navios. Os governos, então, nos EUA e na Europa, para evitar a ruína dos bancos tiveram de repor o dinheiro.
E onde o foram buscar?
- Onde havia de ser!? Aos impostos, aos ordenados, às pensões. De onde havia de vir o dinheiro do Estado?
Mas meteram os responsáveis na cadeia?
- Na cadeia? Que disparate! Então, se eles é que fizeram a coisa, engenharias financeiras sofisticadíssimas, só eles é que sabem aplicar o remédio, só eles é que podem arrumar a casa. É claro que alguns mais comprometidos, como Raymond McDaniel, que era o presidente da Moody's, uma dessas agências de rating que classificaram a credibilidade de Portugal para pagar a dívida como lixo e atiraram com o país ao tapete, foram... passados à reforma. Como McDaniel é uma pessoa importante, levou uma indemnização de 10 milhões de dólares a que tinha direito.
E então como é? Comemos e calamos?

***** Intermezzo: metáfora para se designar uma peça musical tocada na metade de uma ópera, entre dois atos.

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Comunicação apresentada pelo autor no decorrer do jantar da
Tertúlia Plural, realizado em Portimão no passado dia 7 de Outubro, que contou com mais de duas dezenas de participantes, tendo motivado várias intervenções, todas elas de pertinente e oportuna acuidade complementares ao tema apresentado, em mais uma jornada que decorreu, como sempre, animada pelo reencontro dos participantes que estas nossas iniciativas produzem.
Como em todos estes nossos encontros, a nossa tertuliana Maria José declamou um poema oportuno para estes tempos que vivemos, conforme segue:


SOLIDARIEDADE

Vamos, dêem as mãos.

Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo? essa raiva?
Porquê essa imensa barreira
entre o Eu e o Nós na natural conjugação do verbo ser?

Vamos, dêem as mãos.

Para quê esses bons-dias, boas-noites
se é um grunhido apenas e não uma saudação?
Para quê esse sorriso
se é um simples contrair da pele e nada mais

Vamos, dêem as mãos.

Já que a nossa amargura é a mesma amargura,
já que a miséria, para nós, tem as mesmas sete letras,
já que o sangrar de nossos corpos é o vergão da mesma chicotada,
fiquemos juntos,
sejamos juntos.
Porquê esse ar de desconfiança?
esse medo? essa raiva?

Vamos, dêem as mãos.


Mário Dionísio, in Poesia Incompleta, Mem-Martins, Publicações Europa-América.

O próximo encontro terá lugar no dia 4 de Novembro em local a designar oportunamente.


Portimão - Outubro de 2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

"...O discurso público tornou-se obnóxio e insincero. Porquê? Talvez seja porque, no fundo, debaixo de todo este palavreado, tenhamos chegado a um ponto em que sabemos que não sabemos...nada. Mas ninguém está disposto a dizê-lo.
Deixem que vos pergunte. Alguma vez, numa discussão, sustentaram um ponto de vista muito para além do que vos seria confortável? Alguma vez defenderam um modo de vida quando já estavam no limite de o esgotar? Alguma vez defenderam um credo no qual, no fundo, já não acreditavam? (...) A Dúvida requer mais coragem do que convicção, e mais energia; porque a convicção é um lugar de repouso e a dúvida é infinita - é um exercício apaixonado.(...) Podem querer ter a certeza. Analisem esse sentimento. Temos de aprender a viver com uma medida plena de incerteza. Não há última palavra. Isso é o silêncio debaixo do excesso de palavras do nosso tempo
."Jason Patrick Shanley, in" Dúvida" (Peça de teatro que já esteve em cena em Lisboa no Teatro Maria Matos e no Porto, em 2008).

Saber que nada sabemos é um excepcional ponto de partida para uma verdadeira troca de ideias e de encontro entre pessoas que se querem e que não se resignam ao obnóxio e insincero discurso público. Quer isto dizer que o tempo do reencontro chegou. A Tertúlia Plural tem de acontecer e, para tal,já está reservada a noite de 7 de Outubro, com início às 20 horas, para um jantar no "Lugar do Rio".
O debate será provocado pelo tertuliano Pedro Pereira que fará uma intervenção sob o título "A ofensiva global dos genocidas sociais".
Acreditando que nos renderemos a uma nova celebração da palavra, exorto-vos para que compareçam e marquem a vossa presença até à próxima Segunda-Feira, 3 de Outubro, para este endereço electrónico ou para o TM. 969285922.
Não se esqueçam de trazer um amigo também para que o silêncio nunca seja o excesso de ausência.
Aceitem aquele abraço de sempre.


Pel' A Tertúlia Plural
Maria José Vieira de Sousa