sábado, 28 de fevereiro de 2009

DO TURISMO NO ALGARVE

Por P.P. . CONSIDERANDOS A questão relacionada com o aumento ou regressão na procura turística desta região, carece de análise mais aprofundada do que aquela que nos dita o senso comum. Indicador a «olho nu» quando a crise se instala, é a baixa de preços nos serviços de hotelaria e restauração, na certeza porém, que a baixa de preços não têm – nem deve – de corresponder necessariamente a uma baixa de qualidade na oferta dos produtos. Desta forma, vamos tentar sistematizar aquilo que pensamos constituir a raiz da actual e problemática conjuntura. . CONDIÇÕES NATURAIS DO ALGARVE O Algarve divide-se em três diferenciadas áreas geográficas: litoral, barrocal e serra. Destas, podemos dividir o litoral em Barlavento e Sotavento em termos de equipamentos, infra-estruturas e oferta de serviços. Por outro lado, verifica-se uma maior densidade populacional com um correspondente e superior peso económico no conjunto da região, nestas duas últimas «sub-áreas» geográficas. Acresce ainda, um acentuado envelhecimento populacional no interior e um definhamento dos seus vários sistemas micro económicos. Resiste assim e mal, uma base económica de subsistência junto das envelhecidas populações rurais. O clima específico, de baixas amplitudes térmicas todo o ano, repartido entre a serra, o barrocal e o litoral de boas praias e águas cálidas, traduz-se no facto de o Algarve constituir uma região única em termos de atracção turística no conjunto nacional, além de ser a região do País internacionalmente mais conhecida. As Praia da Rocha a par com Albufeira constituem verdadeiros ex-libris nacionais, tornando-se assim, os destinos turísticos mais procurados pelos estrangeiros. . ANÁLISE CONJUNTURAL O Turismo no Algarve emerge timidamente após a 2ª Grande Guerra Mundial e conhece um rápido desenvolvimento após os anos 60 do século XX, acompanhando uma tendência geral de crescimento registada a nível nacional. Segundo a «Teoria da Catástrofe» {cf. Anals of Tourism Research, Vol.14, 1987, pp.240-253}, num destino turístico articulam-se dois grandes vectores: atractividade e a (in)acessibilidade. A atractividade consiste em tudo aquilo que, num destino, pode atrair o turista, tal como o sol, a praia ou a montanha e as infra-estruturas, que quanto mais atractivas forem, melhor será esse destino, ao passo que a (in)acessibilidade se traduz na distância entre o destino e os seus mercados, geradores na maior ou menor facilidade de transportes, na abundância ou falta de informação sobre o destino junto dos seus potenciais visitantes, etc.. O transporte aéreo é sem dúvida de fundamental importância para qualquer destino turístico e é o elemento chave da acessibilidade. Sem transportes não há turismo e neste caso há que ter em consideração os caminhos-de-ferro da região, semelhantes aos de qualquer país do Terceiro Mundo, estradas, na sua maior parte estreitas, mal conservadas e pessimamente sinalizadas e a carência {diríamos antes, urgência}, quanto à construção de um aeroporto no Barlavento, podendo aproveitar-se a base estrutural já construída do aeródromo dos Montes de Alvor/Portimão, como complemento do aeroporto de Faro. Da análise da oferta e da respectiva atractividade se pode aferir como de forma decisiva é influenciada e condicionada a procura. Desta forma se conclui que o comportamento dos fluxos turísticos se encontram ligados a um conjunto de factores que se articulam de forma muitas vezes aparentemente desordenados, ou desconexos, mas interactivos e que vêm a produzir alterações nesses mesmos fluxos. Dos factores referidos, uns dependem directamente da actuação dos governos e dos agentes económicos dos destinos turísticos, enquanto que outros dependem de situações conjunturais fora do controle das autoridades locais. Chegamos assim, ao conceito de atractividade global relativamente a um destino turístico, subdividindo-o em três distintos tipos de atractividade: Atractividade endógena; atractividade exógena e a atractividade comparada. Relativamente à atractividade global, trata-se da capacidade que um destino turístico tem para atrair visitantes, resultando da interacção dos diferentes tipos de atractividade que a compõem. Por outro lado, como esta é composta por três tipos de actividades diferenciadas, tanto pode resultar do somatório destas, como da acção que elas exercem umas em relação à as outras entre si, e cada uma delas em relação à própria atractividade global. Desta forma se expressa o valor absoluto de um destino turístico. Quanto à atractividade endógena, é aquela em que o turista se dá conta da imagem que o destino tem junto do público, dependendo sobretudo o destino turístico das condições naturais tais como: praias, mar, montanhas, rios ou lagoas, clima, fauna ou flora, condições estas, condicionantes ou propícias à prática de determinados tipos de turismo, por sua vez, atractivos de determinados segmentos de mercado. Neste contexto incluem-se obviamente, o património histórico e cultural, usos e costumes das suas gentes, tipicismo, etc.. Quanto maior, diversificado, rico e original for esse produto, maior será esta atractividade, bem como a global. Acrescente-se que, cada vez mais, o turista tende a variar o seu destino de férias de ano para ano. Desta forma, a fidelidade do turista ao produto não significa a fidelidade do cliente ao destino, mas representa cada vez mais uma maior rotatividade de turistas, o que significa também o seu maior número, dado o normal crescimento dos mercados e a não-fixação, pelo desaparecimento dos turistas habituais. A inovação pode a um tempo contribuir para aumentar a atractividade endógena a atratividade comparada de um destino. Assim, por exemplo, os actuais e tradicionais destinos de «sol e praia», nalgumas regiões europeias e extra continentais, deram-se conta a dada altura, que estavam a perder clientes pois não passavam de uma larga barreira de betão entre uma estreita faixa de areia frente ao mar, e o interior. Muitos destes destinos começam agora, na retaguarda do betão, a criar novos produtos como campos de golfe, agroturismo, etc., inovando assim o seu produto na esperança de ganharem novos segmentos de mercado não perdendo os antigos. Por outro lado, as infra-estruturas constituem um factor fundamental na atractividade endógena de um destino, pelo seu número e pela sua qualidade, e as mesmas não se resumem só aos hotéis, piscinas e restaurantes, elas abarcam um leque muito vasto, que vai desde as vias de comunicação {estradas, aeroportos, portos, etc.} à rede hospitalar e às estruturas de lazer e de animação. O número e a capacidade destas infra-estruturas é importantíssimo e tanto se peca pela falta como pelo excesso, uma vez que a falta inviabiliza e o excesso corrompe. Sintomaticamente, hoje em dia, o excesso de infra-estruturas nalguns países, constitui um factor de quebra de um destino, dado que cada vez mais, os turistas buscam Natureza e não betão, do qual procuram fugir nas suas férias. Que fazer então?... Procurar ter a capacidade de equilibrar os contrários, isto é, dosear o planeamento infra-estrutural no sentido de suprir as necessidades, sem contudo perder de vista a humanização necessária, para que o turista não se sinta «esmagado» pelo betão. . QUALIDADE A noção de qualidade começa no Ordenamento Turístico do território, que passa pela saúde e pelos transportes, dependendo em muito, dos governos locais e das suas políticas sociais de preservação do património, do ambiente, etc.. Não bastam bons hotéis e bons restaurantes para se ter um turismo de qualidade. Neste contexto, há que ter em atenção o risco de assimetrias na oferta turística, por forma a evitar destinos mal estruturados, estilo hotel de cinco estrelas rodeado de restaurantes e bares de baixa qualidade, em nada contribuindo para a qualidade que o hotel procura manter, afugentando por isso, a sua clientela. . SEGURANÇA A segurança, assume-se igualmente como um factor extremamente importante e não se resume tão só à ausência de guerra, mas sim à violência, atendendo que neste conceito se incluem aspectos como a fome, a miséria, o desemprego, a toxicodependência, a habitação degradada ou bairros de lata, entre outros. Sintomático do atrás referido, é o caso de grandes metrópoles como Sevilha, Roma ou New York, por exemplo. Em menor escala, verifica-se que a criminalidade e a insegurança tem aumentado nas grandes cidades do Algarve, quase na proporção do seu crescimento, daí, a necessária acuidade no acompanhamento do seu desenvolvimento. . PROMOÇÃO E PUBLICIDADE Quanto à Promoção e Publicidade, será bom não esquecermos que não basta boas infra-estruturas e boa qualidade de serviços, se o destino turístico não for acompanhado de uma boa divulgação promocional. Pensamos que há que encontrar soluções que passem por iniciativas por parte das autarquias, de forma a divulgar quer no mercado interno quer no estrangeiro, a sua imagem. Sobretudo, deve ter-se em atenção que qualquer destino turístico, deve criar a sua imagem de marca. Que seria de Veneza, por exemplo, sem a venda do sonho, da lua-de-mel passada nas gôndolas circulando por entre canais ladeados por Palácios com brasões de famílias célebres?... Que verbas para fazer frente às despesas inerentes a essa actividade promocional?... Porque não, entre outras, a criação para o efeito de uma taxa junto dos hoteleiros e hipermercados, uma vez que eles constituem parte interessada?... Esta questão da Imagem é sem dúvida, um dos mais subtis e importantes factores da atractividade endógena a par da acessibilidade, sendo que não se reduz tão só ao transporte aéreo ou ao transporte dos visitantes até ao destino, uma vez que no interior dos próprios destinos turísticos devem existir redes viárias, ferroviárias e transportes de qualidade que possibilitem o acesso dos visitantes aos produtos e recursos turísticos. . AMBIENTE Quanto ao ambiente, este é um factor de primeira grandeza, uma vez que cada vez mais e de forma evidente o turista, cansado de betão, do ruído, do stress e da poluição, procura na maioria dos destinos um encontro quase místico com a natureza. A qualidade do ambiente constitui um recurso valioso e é normalmente e inversamente proporcional ao estádio de desenvolvimento do destino turístico. . PREÇO No que reporta ao preço, esta é uma questão em que frequentemente se confunde turismo de qualidade com turismo de alto preço, considerando-se que só é turista de qualidade o cliente do hotel de 5 estrelas, mesmo que, porque comprou a sua viagem a grandes operadores internacionais, pague as 5 estrelas ao preço de 3. Esquecem-se muitas vezes os responsáveis que a qualidade tanto tem de existir nos de 5 estrelas como nos de 2, distorcendo por completo o padrão qualitativo do destino. O que todos desejam, no fundo, é captar o turista rico e consumista, a quem muitos responsáveis erradamente chamam de «qualidade», esquecendo-se que estes representam somente 6% do universo de potenciais clientes. Desta forma, o turista de qualidade é aquele que paga o preço justo pelo que consome. Neste aspecto há que ter em conta que baixar preços, tão só para poder enfrentar a concorrência, é o primeiro passo dado para a degradação do produto e do tipo de visitante. Outro factor que afecta os custos, afectando directamente ou indirectamente a atractividade comparada, é o do nível de vida local. Assim, muito embora este, afecte o preço da oferta de um destino turístico, distingue-se desse mesmo factor/preço por não advir de uma medida específica para o sector, mas por ser um factor conjuntural a nível do país, que pesa, não só, decisivamente, na estrutura de preços, como é considerado de per si, pelo visitante no momento de escolher o seu destino de férias. A autodestruição dos destinos turísticos é um risco a considerar, quando a promoção turística começa a atrair pessoas da classe média, que procuram tanto o descanso como imitar os ricos. Constroem-se mais hotéis e infra-estruturas turísticas a fim de acomodarem o máximo de turistas. Em pouco tempo tudo isto transforma o paraíso de repouso original numa espécie de «inferno de Dante», acarretando consigo péssimas consequências. Assim: os residentes tornam-se empregados do sector turístico largando outras actividades tradicionais, nomeadamente a agricultura e a pesca, para ganharem mais dinheiro que antes; os turistas ricos mudam-se para outros destinos mais calmos e selectivos; o crescimento da população turística provoca uma interacção entre estes e os locais, com consequências sociais variáveis; o aumento da capacidade turística vem provocar uma sobre-oferta, deteriorando-se tanto os preços como o produto. Cremos que estes considerandos têm de ser urgentemente repensados, atendendo à actual conjuntura económica internacional e nacional, sendo que, no caso português, a crise económica já se vem manifestando de há uns três anos a esta data, embora sem a dimensão crescente que está a assumir. Há que repensar este quadro, pois quando um local se afunda sob o peso da degradação, da conflitualidade social e outros, a maior parte dos turistas parte para outras paragens. Para trás ficam hotéis vazios decadentes, praias sujas, campos abandonados e, mais grave, uma população desempregada que não sabe mais como voltar às antigas formas de vida.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

CITAÇÕES

«Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais do que outros». In Triunfo dos Porcos de George Orwel «Dêem-me o controlo sobre a moeda de uma nação e não terão que se preocupar com os que fazem as suas leis». Mayer Amshel Rothschild {1743-1812} «Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...) Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...) Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e estes, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, a-pesar-disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...) Guerra Junqueiro, Pátria, 1886 «A penalização por não participares na política, é acabares a ser governado pelos teus inferiores». Platão «Se queres ver um vilão, mete-lhe um pau na mão». Ditado Pupular «Se queres ver uns vilões, mete-lhes armas nas mãos e deixa-os desancar sobre os cidadãos». Ditado pupular actualizado «90% da população portuguesa vive acarneirada pelo Medo - o medo de perder a liberdade ou de perder o pão, o medo de comprometer o futuro dos filhos ou de ser referenciado pela polícia. E com medo não reage, não pensa, não obedece aos ditames de consciência - nem sequer às manifestações que lhe exigem como condição de segurança individual.» In Crónica de Horas Vazias,Henrique Galvão, 1952 «O novo ministro reorganizou as finanças públicas recorrendo ao aumento dos impostos (para aumentar as receitas) e reduzindo os gastos com a saúde, a educação e o salário dos funcionários públicos (para diminuir as despesas» cit. ipsis verbis de um manual de História e Geografia de Portugal Ed. Texto Editora , página 26, referindo-se à política de Salazar)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

AS ARMAS SILENCIOSAS

Por P.M.P.

Contexto É impossível falar de «engenharia social» de uma sociedade a uma escala nacional ou internacional sem abordar os objectivos de controlo social e de destruição da vida humana, ou antes, da escravatura e do genocídio. Neste sentido, a análise dos problemas desta Era requer uma abordagem que não imbrique com valores religiosos, morais ou culturais. O controlo dos cidadãos, a gestão das suas vidas, é efectuado, actualmente, através das chamadas «armas silenciosas», cuja «guerra tranquila» foi declarada pela elite internacional inscrita no Grupo Bilderberg após o seu primeiro encontro em 1954. Assim: . Formatação da Sociedade 1º As células familiares das classes inferiores devem ser desintegradas por meio de um processo de aumento de preocupações constantes dos chefes de família, que a prazo conduza a tensões graves nos seus núcleos. 2º A qualidade da educação dada às classes inferiores deve ser a mais pobre, para que a brecha da ignorância que separa estas camadas da sociedade, das camadas superiores {a elite dominante} permaneça distante e incompreensível da que é ministrada às classes superiores. Esta forma de descriminação social é necessária para manter um certo nível de ordem social, paz e tranquilidade para as classes de nível superior. . As Armas Silenciosas Estas armas, ao contrário das usadas na guerra convencional distinguem-se pela sua natureza diferenciada. Assim, em vez de espingardas, são usados computadores para tratamento de dados que abarcam toda a vida dos cidadãos e da sociedade, sendo que, aparentemente, não produzem danos físicos nem interferem na vida social de cada um. Não obstante, o seu «ruído» reflecte-se, efectivamente, no bem-estar físico, social, económico e educacional dos indivíduos. Os cidadãos sentem instintivamente que algo não vai bem com a gestão dos seus governos, porque o sentem nas dificuldades do seu dia-a-dia, no entanto, devido à forma como esta «guerra silenciosa» é efectuada, não conseguem, de forma racional, expressar a razão do seu mal sentir. Por tal facto, não sabem como gritar para pedir ajuda nem como associar-se com outros para se defenderem. Quando uma «arma silenciosa» é utilizada gradualmente, as pessoas adaptam-se à sua presença e aprendem a tolerar as repercussões sobre as suas vidas, até que a pressão psicológica por via económica se torne insuportável, como sucede actualmente. Por consequência, a «arma silenciosa» é um tipo de arma biológica. Ataca a vitalidade, as opções e a mobilidade dos indivíduos de uma dada sociedade, conhecendo, entendendo, manipulando e atacando as suas fontes de energia social e natural, bem assim como as suas forças e debilidades físicas, mentais e emocionais. . Aplicação das «Armas Silenciosas» na Economia Uma das formas mais usuais do seu uso nesta área é a aplicação do aumento dos preços dos bens essenciais e a aferição da reacção do público a essas medidas. O resultado do choque económico é interpretado teoricamente através de programas informáticos. A partir de então, os resultados dos aumentos de preços futuros podem ser previstos e até manipulados. Por exemplo, foi estabelecida uma relação quantitativa mensurável entre o preço da gasolina e a probabilidade de uma pessoa vir a sofrer de dor de cabeça. Finalmente, cada elemento individual da estrutura social, encontra-se subordinado ao controlo de um computador através do conhecimento das suas preferências pessoais, do seu estado de saúde, das suas capacidades financeiras, das suas ocupações profissionais, aferido através do cartão de crédito, de multibanco e, no futuro, com um micro-chip implantado sob a pele ou com uma tatuagem permanente de um número invisível à luz normal. . Tecnologia do Automatismo Social A experiência já mostrou que o método mais simples para tornar eficaz uma «arma silenciosa» é ganhar o controlo do público mantendo-o ignorante relativamente aos princípios básicos dos sistemas, levando-o à confusão, à desorganização, e distraindo-o dos temas de real importância. Tais objectivos são basicamente obtidos da seguinte forma: 1º - Descomprometendo a sua mente e o seu espírito; sabotando as suas actividades mentais; oferecendo-lhe programas educativos de baixa qualidade em matemática, lógica, história, geografia e economia, de forma a desmotivar a sua criatividade. 2º - Comprometendo as suas emoções, aumentando o seu egocentrismo e o seu gosto pelas actividades emocionais e físicas. Assim: . Multiplicando as suas confrontações e ataques emocionais {violação mental e emocional} por meio de um «bombardeamento» constante de violência, guerra e sexo nos meios de comunicação social, em particular na televisão e nos periódicos. . Dando-lhe o que ele deseja em excesso. Privando-o daquilo que realmente necessita. 3º - Reescrevendo a história e a lei e submetendo o público a distracções, de forma a alienar o seus pensamentos relativamente às necessidades pessoais face a prioridades externas fabricadas. A regra geral é que existe benefício e vantagem na grande confusão, para que o proveito seja maior. Desta forma, a melhor abordagem é criar os problemas para em seguida oferecer soluções. Assim, quanto aos meios de comunicação, deve manter-se a atenção do público adulto distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativando-o com temas sem real importância. Quanto ao ensino: Manter o público ignorante das verdadeiras matemáticas, da real economia, das verdadeiras leis, da verdadeira história. Espectáculos: Manter o entretenimento do público abaixo do nível do sexto ano de escolaridade. Trabalho: Manter o público ocupado, sem tempo para pensar, como um camponês de volta do amanho da sua terra. . A Estrutura Política de uma Nação A Dependência A primeira razão pela qual os cidadãos de um país criam uma estrutura política é o desejo subconsciente de perpetuar a relação de dependência das suas infâncias. Neste sentido, desejam simplesmente que alguém providencial se encarregue de os proteger, possuir alimento que os sustente, roupa que os cubra e uma cama para dormir, coisas que o político promete em acção de campanha eleitoral. A busca do povo para adquirir estes elementos fundamentais da sua existência acaba assim, projectada no político que lhes promete o irrealizável a troco do simples depósito esporádico de um papel numa urna de voto. Os cidadãos, conscientemente, sabem que tais promessas não serão cumpridas, mas precisam de ouvi-las porque são elas que lhe alimentam a esperança num futuro incerto que é já hoje. Assim, neste contexto, afinal quem acaba por mentir mais a quem? O político {seu presumível anjo da guarda} ou os cidadãos? O comportamento do público é dominado pelo medo por um lado e pelo facilitismo pelo outro. Esta é a base do estado-previdência enquanto arma estratégica política útil para um povo com problemas de digestão. . A Ofensiva A maioria das pessoas gostaria de matar ou banir das suas vidas umas quantas outras que as perturbam, que lhes infernizam a existência no seu quotidiano. No entanto, são incapazes de enfrentar os problemas morais e religiosos que tais acções poderiam desencadear. Assim, deixam que outros executem por eles tais tarefas, ou que, o Divino se encarregue de extirpar tais abcessos das suas existências. Deleitam-se, ufanam-se, na criação de organizações para a defesa dos animais, esquecendo-se da criação de associações de defesa dos seus semelhantes, que muitas vezes são seus vizinhos. Da forma mais hipócrita, pagam impostos para financiar uma associação profissional de homens relativamente célebres, colectivamente chamados «políticos», deixando que depois a corrupção ganhe raízes. . Responsabilidade A maioria das pessoas sente necessidade de ser livre para tomar iniciativas meritórias, no entanto, o medo tolhe-as. O medo do fracasso é manifestado pela irresponsabilidade, delegando as suas responsabilidades pessoais a outros onde o êxito se lhes afigure incerto ou implique obrigações para as quais não se considere apto. Querem a autoridade mas não aceitam nenhuma responsabilidade ou obrigação. Por tal facto, encarregam os políticos de enfrentar a realidade em seu nome. . Delegação do Poder nos Políticos Desta forma, o povo mandata os políticos a fim de que ele possa: 1º Obter segurança sem ter que organizar-se. 2º Obter acção sem ter de pensar ou reflectir. 3º Infligir o roubo, as feridas, a morte a outros, sem ter de contemplar a vida ou a morte. 4º Evitar assumir a responsabilidade pelas suas próprias intenções. . A Segurança Social O programa de Segurança Social não é mais que um sistema de equilíbrio baseado num crédito sem fim, que cria uma falsa indústria de capital para dar às pessoas não produtivas um tecto para os cobrir e algum alimento para os estômagos. Este programa pode ser útil, uma vez que mantido permanentemente junto dessa faixa populacional, os beneficiários convertem-se em «propriedade do Estado» a troco de uma pequena doação que lhes permite viver sem trabalhar. Temos aqui, portanto, uma clientela eleitoral de peso. Em suma: os actuais regimes democráticos mais não representam, actualmente, que uma pálida imagem do nome por que se intitulam. Urge, reformular o sistema representativo democrático. Primeiro: porque a representatividade do povo não se esgota nos partidos políticos, depois, porque a crise económica em curso só poderá ser debelada, se houver uma reformulação corajosa, que subordine o poder económico ao poder político. Definitivamente.

POEMAS URGENTES

Na primeira noite, eles aproximam-se e colhem uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam o nosso cão. E não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada. Maiakovski -(1893-1930) Poeta russo "suicidado" após a revolução Bolchevique Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho o meu emprego Também não me importei Agora estão me levando Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo. Bertold Brecht - (1898-1956) Um dia vieram e levaram o meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram o meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar... Martin Niemöller - 1933 - símbolo da resistência aos nazis. ABRIL Ao nascer me libertei De um ventre acolhedor Mergulhado em dor e amor Para o mundo voltei A liberdade sonhei Quando em Março me revoltei Ela logo me fugiu E, por fim mentiu A liberdade fugiu Aquela com que sonhei Mas em Abril sentiu Aquela com quem sonhei Ai Abril, ai abrirei Abril com quem sonhei As grades da prisão Fazes sofrer meu coração Pela liberdade sonhada Em Abril que sonhei Em Abril que amei Sofri minh’alma aprisionada Nesta gaiola doirada Que dizem ser Democracia O povo sofre e agonia Em nome de tanta cambada Amilcar dos Anjos NOITE DE FADO Na Rua do Compromisso Junto a uma nau afundada Às quatro da madrugada Cantava-se ao desafio Um fado sem compromisso Trocavam-se as guitarradas Vindo da voz agarrada Com as mãos no coração Dessa rua formosa Era vê-la na animação O Alberto com uma rosa E a guitarra na mão Fazia-a trinar baixinho Num som quase em silêncio Só se ouvia o pipinha Que queria ser reformado Com o medo da inocência Pois já não tinha trabalho Amilcar dos Anjos POEMA DO AMIGO APRENDIZ Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos. Nem tão longe e nem tão perto. Na medida mais precisa que eu puder. Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida, Da maneira mais discreta que eu souber. Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar. Sem forçar tua vontade. Sem falar, quando for hora de calar. E sem calar, quando for hora de falar. Nem ausente, nem presente por demais. Simplesmente, calmamente, ser-te paz. É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender! E por isso eu te suplico paciência. Vou encher este teu rosto de lembranças, Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias... Fernando Pessoa DIES IRAE Apetece cantar, mas ninguém canta. Apetece chorar, mas ninguém chora. Um fantasma levanta A mão do medo sobre a nossa hora. Apetece gritar, mas ninguém grita. Apetece fugir, mas ninguém foge. Um fantasma limita Todo o futuro a este dia de hoje. Apetece morrer, mas ninguém morre. Apetece matar, mas ninguém mata. Um fantasma percorre Os motins onde a alma se arrebata. Oh! Maldição do tempo em que vivemos, Sepultura de grades cinzeladas, Que deixam ver a vida que não temos E as angústias paradas! Miguel Torga, Cântico do Homem, 1950, in Antologia Poética NEVOEIRO Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra Que é Portugal a entristecer – Brilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo-fátuo encerra. Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro… É a hora! Fernando Pessoa, in Mensagem EPÍGRAFE PARA A ARTE DE FURTAR Roubam-me Deus Outros o diabo Quem cantarei Roubam-me a Pátria e a humanidade outros ma roubam Quem cantarei Sempre há quem roube Quem eu deseje E de mim mesmo Todos me roubam Quem cantarei Quem cantarei Roubam-me Deus Outros o diabo Quem cantarei Roubam-me a Pátria e a humanidade outros ma roubam Quem cantarei Roubam-me a voz quando me calo ou o silêncio mesmo se falo Aqui d'El Rei Jorge de Sena FADO PARA UM AMOR AUSENTE Meu amor disse que eu tinha Uns olhos como gaivotas E uma boca onde começa O mar de todas as rotas. Assim falou meu amor Assim falou ele um dia E desde então vivo à espera Que seja como dizia. Sei que ele um dia virá Assim muito de repente Como se o mar e o vento Nascessem dentro da gente. Manuel Alegre ANTO Meninas, lindas meninas ! Qual de vós é o meu ideal ? Meninas , lindas meninas Do Reino de Portugal ! Minha capa vos acoite, Que é p’ra vos agasalhar; Se por fora é côr de noite, Por dentro é côr do luar ... Vou encher a bilha e trago-a Vasia como a levei ! Mondego, que é da tua água ? Que é dos prantos que chorei ? Ó quem me dera abraçar-te, Contra o peito assim, assim, Levar-me a morte e levar-te Toda abraçadinha a mim. A cabra da velha Torre, Meu amor, chama por mim; Quando um estudante morre, Os sinos chamam, assim. Ó sinos de Santa Clara, Por quem dobraes, quem morreu ? Ah, foi-se a mais linda cara Que houve debaixo do Céu ! António Nobre CANÇÃO COM LÁGRIMAS Eu canto para ti um mês de giestas Um mês de morte e crescimento ó meu amigo Como um cristal partindo-se plangente No fundo da memória perturbada Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa E um coração poisado sobre a tua ausência Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês Em que os mortos amados batem à porta do poema Porque tu me disseste quem em dera em Lisboa Quem me dera me Maio depois morreste Com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breve Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro Eu canto para ti Lisboa à tua espera Teu nome escrito com ternura sobre as águas E o teu retrato em cada rua onde não passas Trazendo no sorriso a flor do mês de Maio Porque tu me disseste quem em dera em Maio Porque te vi morrer eu canto para ti Lisboa e o sol Lisboa com lágrimas Lisboa a tua espera ó meu irmão tão breve Eu canto para ti Lisboa à tua espera... Adriano Correia de Oliveira FEITICEIRA Ó meu amor, minha linda feiticeira, Eu daria a vida inteira Por um só beijo dos teus. Por teu amor, A minha vida era pouca, P'ra beberes da minha boca, O beijo do eterno adeus. Ó meu amor Sonho lindo este que eu tive Única esperança que vive Na minha alma a soluçar. Por teu amor Eu morria de desejo Deste-me a vida num beijo Eu vivi por te beijar. Fernando Carvalho SINTO VERGONHA DE MIM Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte deste povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra. Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-Mater da sociedade, a demasiada preocupação com o “eu” feliz a qualquer custo, buscando a tal “felicidade” em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo. Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos “floreios” para justificar actos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre “contestar”, voltar atrás e mudar o futuro. Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer... Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir o meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar o meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo deste mundo! “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. Rui Barbosa {Poeta brasileiro – 1848/1923} A miséria das palavras Não: não me falem assim na miséria, nos pobres na liberdade. Se a miséria e a pobreza fossem o vómito que deviam ser posto em palavras, a imaginação possuída e vomitada que deviam ser, viria a liberdade por acréscimo, sem palavras, sem gestos, sem delíquios. Assim apenas se fala do que se não fala, apenas se vive do que não se vive, apenas liberdade é uma miséria sem nome, sem futuro, sem memória. E a miséria é isso: não imaginar o nome que transforma a ideia em coisa, a coisa que transforma o ser em vida, a vida que transforma a língua em algo mais que o falar por falar. Falem. Mas não comigo. E sobretudo sejam miseráveis, e pobres, sejam escravos, no silêncio que à linguagem faz imaginar-se mais que o próprio mundo. Jorge de Sena, in Poesias III, 5/8/1962 Porque Porque os outros se mascaram mas tu não Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão. Porque os outros têm medo mas tu não. Porque os outros são túmulos caiados Onde germina calada a podridão. Porque os outros se calam mas tu não. Porque os outros se compram e se vendem E os seus gestos dão sempre dividendo. Porque os outros são hábeis mas tu não. Porque os outros vão à sombra dos abrigos E tu vais de mãos dadas com os perigos. Porque os outros calculam mas tu não. Sophia M. Breyner Andresen ,in MAR NOVO

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM

Adoptada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia-Geral das Nações Unidas em 10 de Dezembro de 1948.

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em actos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum;

Considerando essencial que os Direitos Humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o Homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão;

Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações;

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, a sua fé nos Direitos Humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida por uma mais ampla liberdade;

Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal dos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades;

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso;

A Assembleia-Geral proclama:

A presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objectivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito por esses direitos e liberdades, e, pela adopção de medidas progressivas de carácter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efectivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo I

Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Artigo II

Toda a pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Artigo III

Toda a pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V

Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VI

Toda a pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

Artigo VII

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual protecção da lei. Todos têm direito a igual protecção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo VIII

Toda a pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes, remédio efectivo para os actos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo IX

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X

Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo XI

1. Toda pessoa acusada de um acto de delito tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer acção ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao acto delituoso.

Artigo XII

Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda a pessoa tem direito à protecção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII

1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

2. Toda a pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo XIV

1.Toda a pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por actos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XV

1. Toda a pessoa tem direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo XVI

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimónio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

Artigo XVII

1. Toda a pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII

Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou colectivamente, em público ou em particular.

Artigo XIX

Toda a pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XX

1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI

1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, directamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.

2. Toda a pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII

Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXIII

1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à protecção contra o desemprego.

2. Toda a pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de protecção social.

4. Toda a pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para protecção de seus interesses.

Artigo XXIV

Toda a pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.

Artigo XXV

1. Toda a pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família, saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos, os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora do seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozarão da mesma protecção social.

Artigo XXVI

1. Toda a pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as actividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do género de instrução que será ministrada aos seus filhos.

Artigo XXVII

1. Toda a pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.

2. Toda a pessoa tem direito à protecção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XVIII

Toda a pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo XXIV

1. Toda a pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda a pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer actividade ou praticar qualquer acto destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.