sábado, 28 de fevereiro de 2009

DO TURISMO NO ALGARVE

Por P.P. . CONSIDERANDOS A questão relacionada com o aumento ou regressão na procura turística desta região, carece de análise mais aprofundada do que aquela que nos dita o senso comum. Indicador a «olho nu» quando a crise se instala, é a baixa de preços nos serviços de hotelaria e restauração, na certeza porém, que a baixa de preços não têm – nem deve – de corresponder necessariamente a uma baixa de qualidade na oferta dos produtos. Desta forma, vamos tentar sistematizar aquilo que pensamos constituir a raiz da actual e problemática conjuntura. . CONDIÇÕES NATURAIS DO ALGARVE O Algarve divide-se em três diferenciadas áreas geográficas: litoral, barrocal e serra. Destas, podemos dividir o litoral em Barlavento e Sotavento em termos de equipamentos, infra-estruturas e oferta de serviços. Por outro lado, verifica-se uma maior densidade populacional com um correspondente e superior peso económico no conjunto da região, nestas duas últimas «sub-áreas» geográficas. Acresce ainda, um acentuado envelhecimento populacional no interior e um definhamento dos seus vários sistemas micro económicos. Resiste assim e mal, uma base económica de subsistência junto das envelhecidas populações rurais. O clima específico, de baixas amplitudes térmicas todo o ano, repartido entre a serra, o barrocal e o litoral de boas praias e águas cálidas, traduz-se no facto de o Algarve constituir uma região única em termos de atracção turística no conjunto nacional, além de ser a região do País internacionalmente mais conhecida. As Praia da Rocha a par com Albufeira constituem verdadeiros ex-libris nacionais, tornando-se assim, os destinos turísticos mais procurados pelos estrangeiros. . ANÁLISE CONJUNTURAL O Turismo no Algarve emerge timidamente após a 2ª Grande Guerra Mundial e conhece um rápido desenvolvimento após os anos 60 do século XX, acompanhando uma tendência geral de crescimento registada a nível nacional. Segundo a «Teoria da Catástrofe» {cf. Anals of Tourism Research, Vol.14, 1987, pp.240-253}, num destino turístico articulam-se dois grandes vectores: atractividade e a (in)acessibilidade. A atractividade consiste em tudo aquilo que, num destino, pode atrair o turista, tal como o sol, a praia ou a montanha e as infra-estruturas, que quanto mais atractivas forem, melhor será esse destino, ao passo que a (in)acessibilidade se traduz na distância entre o destino e os seus mercados, geradores na maior ou menor facilidade de transportes, na abundância ou falta de informação sobre o destino junto dos seus potenciais visitantes, etc.. O transporte aéreo é sem dúvida de fundamental importância para qualquer destino turístico e é o elemento chave da acessibilidade. Sem transportes não há turismo e neste caso há que ter em consideração os caminhos-de-ferro da região, semelhantes aos de qualquer país do Terceiro Mundo, estradas, na sua maior parte estreitas, mal conservadas e pessimamente sinalizadas e a carência {diríamos antes, urgência}, quanto à construção de um aeroporto no Barlavento, podendo aproveitar-se a base estrutural já construída do aeródromo dos Montes de Alvor/Portimão, como complemento do aeroporto de Faro. Da análise da oferta e da respectiva atractividade se pode aferir como de forma decisiva é influenciada e condicionada a procura. Desta forma se conclui que o comportamento dos fluxos turísticos se encontram ligados a um conjunto de factores que se articulam de forma muitas vezes aparentemente desordenados, ou desconexos, mas interactivos e que vêm a produzir alterações nesses mesmos fluxos. Dos factores referidos, uns dependem directamente da actuação dos governos e dos agentes económicos dos destinos turísticos, enquanto que outros dependem de situações conjunturais fora do controle das autoridades locais. Chegamos assim, ao conceito de atractividade global relativamente a um destino turístico, subdividindo-o em três distintos tipos de atractividade: Atractividade endógena; atractividade exógena e a atractividade comparada. Relativamente à atractividade global, trata-se da capacidade que um destino turístico tem para atrair visitantes, resultando da interacção dos diferentes tipos de atractividade que a compõem. Por outro lado, como esta é composta por três tipos de actividades diferenciadas, tanto pode resultar do somatório destas, como da acção que elas exercem umas em relação à as outras entre si, e cada uma delas em relação à própria atractividade global. Desta forma se expressa o valor absoluto de um destino turístico. Quanto à atractividade endógena, é aquela em que o turista se dá conta da imagem que o destino tem junto do público, dependendo sobretudo o destino turístico das condições naturais tais como: praias, mar, montanhas, rios ou lagoas, clima, fauna ou flora, condições estas, condicionantes ou propícias à prática de determinados tipos de turismo, por sua vez, atractivos de determinados segmentos de mercado. Neste contexto incluem-se obviamente, o património histórico e cultural, usos e costumes das suas gentes, tipicismo, etc.. Quanto maior, diversificado, rico e original for esse produto, maior será esta atractividade, bem como a global. Acrescente-se que, cada vez mais, o turista tende a variar o seu destino de férias de ano para ano. Desta forma, a fidelidade do turista ao produto não significa a fidelidade do cliente ao destino, mas representa cada vez mais uma maior rotatividade de turistas, o que significa também o seu maior número, dado o normal crescimento dos mercados e a não-fixação, pelo desaparecimento dos turistas habituais. A inovação pode a um tempo contribuir para aumentar a atractividade endógena a atratividade comparada de um destino. Assim, por exemplo, os actuais e tradicionais destinos de «sol e praia», nalgumas regiões europeias e extra continentais, deram-se conta a dada altura, que estavam a perder clientes pois não passavam de uma larga barreira de betão entre uma estreita faixa de areia frente ao mar, e o interior. Muitos destes destinos começam agora, na retaguarda do betão, a criar novos produtos como campos de golfe, agroturismo, etc., inovando assim o seu produto na esperança de ganharem novos segmentos de mercado não perdendo os antigos. Por outro lado, as infra-estruturas constituem um factor fundamental na atractividade endógena de um destino, pelo seu número e pela sua qualidade, e as mesmas não se resumem só aos hotéis, piscinas e restaurantes, elas abarcam um leque muito vasto, que vai desde as vias de comunicação {estradas, aeroportos, portos, etc.} à rede hospitalar e às estruturas de lazer e de animação. O número e a capacidade destas infra-estruturas é importantíssimo e tanto se peca pela falta como pelo excesso, uma vez que a falta inviabiliza e o excesso corrompe. Sintomaticamente, hoje em dia, o excesso de infra-estruturas nalguns países, constitui um factor de quebra de um destino, dado que cada vez mais, os turistas buscam Natureza e não betão, do qual procuram fugir nas suas férias. Que fazer então?... Procurar ter a capacidade de equilibrar os contrários, isto é, dosear o planeamento infra-estrutural no sentido de suprir as necessidades, sem contudo perder de vista a humanização necessária, para que o turista não se sinta «esmagado» pelo betão. . QUALIDADE A noção de qualidade começa no Ordenamento Turístico do território, que passa pela saúde e pelos transportes, dependendo em muito, dos governos locais e das suas políticas sociais de preservação do património, do ambiente, etc.. Não bastam bons hotéis e bons restaurantes para se ter um turismo de qualidade. Neste contexto, há que ter em atenção o risco de assimetrias na oferta turística, por forma a evitar destinos mal estruturados, estilo hotel de cinco estrelas rodeado de restaurantes e bares de baixa qualidade, em nada contribuindo para a qualidade que o hotel procura manter, afugentando por isso, a sua clientela. . SEGURANÇA A segurança, assume-se igualmente como um factor extremamente importante e não se resume tão só à ausência de guerra, mas sim à violência, atendendo que neste conceito se incluem aspectos como a fome, a miséria, o desemprego, a toxicodependência, a habitação degradada ou bairros de lata, entre outros. Sintomático do atrás referido, é o caso de grandes metrópoles como Sevilha, Roma ou New York, por exemplo. Em menor escala, verifica-se que a criminalidade e a insegurança tem aumentado nas grandes cidades do Algarve, quase na proporção do seu crescimento, daí, a necessária acuidade no acompanhamento do seu desenvolvimento. . PROMOÇÃO E PUBLICIDADE Quanto à Promoção e Publicidade, será bom não esquecermos que não basta boas infra-estruturas e boa qualidade de serviços, se o destino turístico não for acompanhado de uma boa divulgação promocional. Pensamos que há que encontrar soluções que passem por iniciativas por parte das autarquias, de forma a divulgar quer no mercado interno quer no estrangeiro, a sua imagem. Sobretudo, deve ter-se em atenção que qualquer destino turístico, deve criar a sua imagem de marca. Que seria de Veneza, por exemplo, sem a venda do sonho, da lua-de-mel passada nas gôndolas circulando por entre canais ladeados por Palácios com brasões de famílias célebres?... Que verbas para fazer frente às despesas inerentes a essa actividade promocional?... Porque não, entre outras, a criação para o efeito de uma taxa junto dos hoteleiros e hipermercados, uma vez que eles constituem parte interessada?... Esta questão da Imagem é sem dúvida, um dos mais subtis e importantes factores da atractividade endógena a par da acessibilidade, sendo que não se reduz tão só ao transporte aéreo ou ao transporte dos visitantes até ao destino, uma vez que no interior dos próprios destinos turísticos devem existir redes viárias, ferroviárias e transportes de qualidade que possibilitem o acesso dos visitantes aos produtos e recursos turísticos. . AMBIENTE Quanto ao ambiente, este é um factor de primeira grandeza, uma vez que cada vez mais e de forma evidente o turista, cansado de betão, do ruído, do stress e da poluição, procura na maioria dos destinos um encontro quase místico com a natureza. A qualidade do ambiente constitui um recurso valioso e é normalmente e inversamente proporcional ao estádio de desenvolvimento do destino turístico. . PREÇO No que reporta ao preço, esta é uma questão em que frequentemente se confunde turismo de qualidade com turismo de alto preço, considerando-se que só é turista de qualidade o cliente do hotel de 5 estrelas, mesmo que, porque comprou a sua viagem a grandes operadores internacionais, pague as 5 estrelas ao preço de 3. Esquecem-se muitas vezes os responsáveis que a qualidade tanto tem de existir nos de 5 estrelas como nos de 2, distorcendo por completo o padrão qualitativo do destino. O que todos desejam, no fundo, é captar o turista rico e consumista, a quem muitos responsáveis erradamente chamam de «qualidade», esquecendo-se que estes representam somente 6% do universo de potenciais clientes. Desta forma, o turista de qualidade é aquele que paga o preço justo pelo que consome. Neste aspecto há que ter em conta que baixar preços, tão só para poder enfrentar a concorrência, é o primeiro passo dado para a degradação do produto e do tipo de visitante. Outro factor que afecta os custos, afectando directamente ou indirectamente a atractividade comparada, é o do nível de vida local. Assim, muito embora este, afecte o preço da oferta de um destino turístico, distingue-se desse mesmo factor/preço por não advir de uma medida específica para o sector, mas por ser um factor conjuntural a nível do país, que pesa, não só, decisivamente, na estrutura de preços, como é considerado de per si, pelo visitante no momento de escolher o seu destino de férias. A autodestruição dos destinos turísticos é um risco a considerar, quando a promoção turística começa a atrair pessoas da classe média, que procuram tanto o descanso como imitar os ricos. Constroem-se mais hotéis e infra-estruturas turísticas a fim de acomodarem o máximo de turistas. Em pouco tempo tudo isto transforma o paraíso de repouso original numa espécie de «inferno de Dante», acarretando consigo péssimas consequências. Assim: os residentes tornam-se empregados do sector turístico largando outras actividades tradicionais, nomeadamente a agricultura e a pesca, para ganharem mais dinheiro que antes; os turistas ricos mudam-se para outros destinos mais calmos e selectivos; o crescimento da população turística provoca uma interacção entre estes e os locais, com consequências sociais variáveis; o aumento da capacidade turística vem provocar uma sobre-oferta, deteriorando-se tanto os preços como o produto. Cremos que estes considerandos têm de ser urgentemente repensados, atendendo à actual conjuntura económica internacional e nacional, sendo que, no caso português, a crise económica já se vem manifestando de há uns três anos a esta data, embora sem a dimensão crescente que está a assumir. Há que repensar este quadro, pois quando um local se afunda sob o peso da degradação, da conflitualidade social e outros, a maior parte dos turistas parte para outras paragens. Para trás ficam hotéis vazios decadentes, praias sujas, campos abandonados e, mais grave, uma população desempregada que não sabe mais como voltar às antigas formas de vida.

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