sábado, 16 de julho de 2011

CARTA DO BRASIL... DE HOJE

Que dizer-te? Aqui no Brasil, que vive uma ditadura disfarçada de democracia, a classe média já quase desapareceu por completo, sendo ocupada por novos ricos que vivem à custa do PT do Lula, apesar da nova presidente, Dilma, estar a tentar inverter erros do passado sem, contudo, alcançar muito êxito. Da Argentina chegam agora notícias de uma denúncia de bomba colocada na sede da Associação de Futebol da Argentina, sediada bem no centro de Buenos Aires, que coordena a Copa da América este ano. Nestes países da América Latina existe um clima de terror igual ou pior que em Angola. Em corrupção nem é bom falar, é coisa que já nem merece muito a atenção da comunicação social de tão trivial se tornou. Assaltos à luz do dia a pessoas, a bancos, a caixas de multibanco, à saída dos bancos, à mão armada a lojas, por telefone, pelo telemóvel, arrastões a prédios com segurança ou não, é diário, assim como o é à noite.
A roubalheira é descarada e a polícia dorme ou come com eles, aliás, os juízes devem também ter a sua parte nos saques. A saúde é uma desgraça por estas bandas, tenhas ou não um convénio com uma instituição prestadora de cuidados médicos, pagas um balúrdio mensalmente e és mal tratado, pelo Estado também não se fica com muita saúde. Os remédios são todos pagos, o Estado aqui tenta não pagar nada pelos medicamentos, para pagar têm-se muitas vezes de recorrer à justiça e se a coisa sair bem, o Serviço Unico de Saúde (SUS) como aqui é chamado, lá paga o medicamento, muitas vezes já depois da pessoa morrer. Os médicos são maus, os cursos são ainda piores. Além destas qualidades intrínsecas da saúde, existe ainda a guerra dos médicos, como é chamado. Os médicos querem muitos doentes dos convénios para ganharem o máximo de dinheiro e então dizem mal uns dos outros, enquanto isso, os Conselhos de Medicina (instituições iguais à nossa Ordem dos Médicos) faz colecção de queixas dos pacientes, não havendo nenhuma condenação.
Só para teres uma ideia, conto-te esta história verídica de um médico que está ao serviço do Estado. Há cerca de dois ou três anos, uma investigação descobriu que o médico Carlos Décio, em associação com um advogado de Leme, do qual não recordo agora o nome, desviavam verbas dos seguros de acidentes viários. Convém explicar que nesta parte do Atlântico, quando se compra um veículo assume-se o compromisso de pagar todos os anos o IPVA, de acordo com a categoria do veículo, que tem embutido o seguro obrigatório, equivalente ao nosso contra terceiros. Pois estes senhores, pagos pelo Estado para fazer as perícias dos acidentes e o levantamento do custo, ficavam com o dinheiro que era destinado aos sinistrados e isto durante anos, calcula a fortuna que acumularam! O advogado foi preso e o médico Carlos Décio fugiu do País para não ser preso, andou foragido um bom tempo e retornou quando tudo estava mais calmo, voltando a ocupar o lugar nas perícias, desta vez no sector de reformas, é ele que faz os exames para as reformas antecipadas. Como vês os bandidos têm proteção, basta terem algum dinheiro.
Claro que a informação que chega até nós é manipulada, até mesmo aquela que muitas vezes chega pela internet, é preciso saber separar o trigo do joio sob pena de errarmos. Existe por aí um Movimento Cívico Português, que foi iniciado por um sujeito do Porto ligado à Democracia Directa. Tentaram através da internet sensibilizar o maior número de pessoas para uma manifestação junto à Assembleia da República, ainda no tempo do Sócrates, apelando à revisão da Constituição. Foi um fracasso, as pessoas que disseram sim, não compareceram e a manifestação juntou uma dúzia de amigos. No entanto o movimento continua na net, com as pessoas a enviarem emails e a falarem no Facebook. Creio que homens e mulheres perderam já a capacidade de sonhar com um mundo melhor, digo isto pelo que vejo ao meu redor. Não existe já uma capacidade de crítica, de indignação, de revolta até. As pessoas estão como os burros, abaixam as orelhas e deixam colocar o cabresto. Há uma associação internacional, denominada Movimento Zeitgeist, podes buscar na net, repleta de sonhos utópicos, é certo, mas sonhos sempre são sonhos, dizia o poeta, e assim tento colaborar com eles, quanto mais não seja injectando o direito da indignação. É pouco, eu sei, mas é o que posso fazer nesta altura do campeonato em que me encontro. Quanto ao dólar, por aqui está nas ruas da amargura, nas últimas notícias o dólar teve a maior perda dos últimos 12 anos. Isto reflete-se no cambio do Euro, uma vez que não existe o cambio directo entre, por exemplo, o Real e o Euro. Quer dizer se quiseres trocar Euros por Reais, eles são convertidos primeiro em Dólares e depois em Euros, caindo o Dólar cai o Euro, um anda a reboque do outro.
Todos os países que fazem parte do Mercusul, tal como a UE, têm políticas muito semelhantes, umas mais duras, caso da Venezuela, outras mais esbatidas, como a Argentina e Brasil. Tentam fazer igualzinho à UE, sem fronteiras, moeda única, etc., mas as políticas sociais e económicas são muito iguais. A miséria continua, as desigualdades são impressionates. Calcula que em pleno século XXI descobriram que existe uma tribo de índios desconhecida bem no meio da Amazónia, perto da fronteira com o Peru, que evita a todo o custo o contacto com a "civilização", têm razão para fugir a sete pés desta civilização ocidental. Descobriram porque precisam de desmatar. Tudo isto é muito pôdre.


G.F.

terça-feira, 5 de julho de 2011

CARTA DE UM PORTUGUÊS QUE ESTÁ LONGE E QUE ANDA SEMPRE EM VIAGEM

Um país que implementou o regime democrático, Grécia, berço da civilização ocidental, está a perder a sua soberania. É triste e revoltante.
Nós portugueses bem podemos pôr as barbas de molho. O que está a acontecer à Grécia vai, com certeza, passar-se em Portugal, mercê da bandidagem que durante anos nos (des)governa. A Grécia inventou a democracia, não foi bem esta que vivemos, mas..., Portugal está no cu da Europa, canal estratégico para o domínio territorial europeu.
Tal como na Grécia, os estrangeiros vão liderar o programa de privatização em Portugal, as exigências do FMI e do BCE, impostas ao governo português, vão limitar em muito a soberania do nosso País.
Podemo-nos preparar para ver estrangeiros tomar decisões sobre a nossa economia e, como reflexo, das políticas sociais que poderão ser implementadas.
Portugal poderá ser tratado de forma igual ao que a Alemanha Oriental passou quando o comunismo caiu e a sua região Oriental se integrou-se na no Estado alemão.
Estou seriamente preocupado com o nosso País. As privatizações anunciadas já, as medidas restritivas e o aumento de impostos, vão com certeza aumentar o desemprego e, com isso, criar o caos social.
Estou admirado como os portugueses estão a reagir a estas imposições. Tem de haver uma forma de instigar a população a indignar-se e a protestar de todas as formas possíveis. Há que congregar vontades em torno de um movimento ou uma associação cívica, com capacidade de mobilização popular e tenha a coragem de sair à rua para protestar e exercer, em sucessivas votações directas toda e qualquer proposta apresentada pelo Governo, por qualquer ministro ou deputado.
Vivi 35 anos debaixo da ditadura salazarista, outro tanto sob a capa de uma democracia fantoche, sinto-me enganado, humilhado e defraudado nos meus mais elementares direitos de cidadão português. Não quero mais representantes políticos ou líderes para explorar-me. Não quero pessoas escolhidas que, em quatro anos de mandato, fazem apenas o que lhes interessa, enchendo os seus bolsos.
Os bancos de investimento, as privatizações, a taxa de desemprego, os ajustes fiscais, o FMI, o BCE, leva-me a sugerir a criação da Democracia Real, para não cairmos no caminho de sacrifício que, na década de 90, as populações do Brasil e Chile passaram, a qual ainda se reflecte nos dias de hoje apesar do período económico favorável que se vive nestes países. A dívida portuguesa talvez seja ilegal e os governantes não possuem a legitimidade para exigir sacrifícios ao povo português, quando eles próprios ignoram essas privações.
Com ou sem polícia de choque, creio que é hora de lutar por uma Democracia de Verdade, pela mudança do sistema sem partidos e sem políticos. Temos de alterar a Constituição de forma que a verdadeira democracia seja implementada sem reservas. Só assim Portugal e os portugueses podem almejar a um futuro melhor.
Aqui, nos países da América Latina, não vai muito melhor, tudo é controlado, as retaliações e as perseguições são comuns, a vida é difícil, as religiões governam-se muito bem, tal como os políticos, mau grado os esforços da presidente Dilma para colocar em ordem e esbater a herança de Lula. O ministro da Casa Civil de Dilma demitiu-se face à investigação sobre o seu enriquecimento. Agora foi a vez da demissão de todos os membros do Ministério dos Transportes, desde secretários a assessores, face aos excessivos gastos e subfaturamento de obras, ficando só o ministro por condescendência da presidente e para não agravar mais a crise política que está a instalar-se. Prefeitos e mulheres de prefeitos têm sido detidos e presos por utilização e subtração de dinheiros públicos. É um caos dos grandes. O pior é que quem os denúncia aparece morto passado dias.


G.F.

domingo, 3 de julho de 2011

NO 93º ANIVERSÁRIO DA NOSSA TERTULIANA CÂNDIDA VENTURA

Na passada sexta-feira dia 2, teve lugar no Restaurante Lugar do Rio em Portimão, um jantar convívio da TERTÚLIA PLURAL, desta feita numa homenagem singela mas calorosa - por parte dos mais de cinquenta participantes - à Drª Cândida Ventura, que completou 93 anos de idade, em excelente forma física.
Sobre esta nossa Querida Amiga, aqui se publica este breve apontamento:

TRAÇOS BIOGRÁFICOS DE UMA MULHER DE VALORES

Cândida Margarida Ventura nasceu em 30 de Junho de 1918, em Lourenço Marques, Moçambique, pouco antes do término da 1ª Grande Guerra Mundial (11 de Novembro de 1918).
Em 1937 ingressou na Faculdade de Letras de Lisboa, tendo, nessa data, aderido ao Partido Comunista Português e nessa qualidade participado activamente nas lutas académicas de 1937/1939, vindo, de igual forma a ingressar nas manifestações e greves estudantis de 1941, em Lisboa. Em 1943 concluiu a licenciatura em Histórico-Filosóficas, na Universidade de Coimbra, passando, nessa data, à clandestinidade, como funcionária do Partido Comunista Português, de forma a organizar e participar nas greves operárias à escala nacional, que tiveram início em S. João da Madeira.
Em 1949 foi eleita membro do Comité Central do PCP (a primeira mulher a ascender a esse cargo dentro do partido). Esse ano foi marcado pela criação da NATO à qual Portugal aderiu, pela reeleição do general Carmona como presidente da República e pela atribuição do Prémio Nobel da Medicina a Egas Moniz, entre outros acontecimentos nacionais de relevo.
Durante 17 anos seguidos, Cândida Ventura manteve trabalho clandestino em Portugal.
Em 1960 foi presa e brutalmente torturada pela PIDE. Justamente o ano em que se dá a fuga de dirigentes do PCP do Forte de Peniche, nomeadamente, Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Miguel, Guilherme Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e, ainda, Francisco Martins Rodrigues que viria a abandonar o partido.
Julgada e condenada a 5 anos de prisão num tribunal fantoche do regime salazarista, três anos depois Cândida Ventura saía em liberdade condicional, depois de imensas pressões de democratas portugueses e estrangeiros, pelo facto de se encontrar em perigo de vida dado o seu debilitado estado de saúde.
Em 1964 conseguiu obter autorização para sair do país a fim de receber tratamento em Paris e, em 1965 foi colocada em Praga como representante do PCP junto do Partido Comunista Checo, onde exerceu funções de redacção na revista internacional Problemas da Paz e do Socialismo, só regressando a Portugal em 1975.
No ano seguinte abandonava o PCP, iniciando, então,
uma nova vida que a levou a ingressar e trabalhar como quadro superior do Ministério dos Negócios Estrangeiros e a conduziu, por fim, até Portimão onde reside desde há vários anos.
P.M.P.