Por
Pedro Manuel Pereira
A visão simplista de que «a democracia
venceu», propalada por criaturas auto-intituladas especialistas, dada a derrota
do golpe militar na Turquia, mostra-nos gentalha com acesso ao palco da
comunicação social a botar bacoradas pela boca fora, o que é extremamente
preocupante dada a desinformação que expelem para os auditórios, fazendo crer
aos espectadores e aos ouvintes que aquilo que proferem é verdade.
Eles são os papagaios televisivos, mais os
escribas mercenários…
Da carta que os militares insurretos pediram que fosse divulgada pela televisão estatal, emergem algumas pistas sobre as reais motivações que conduziram os militares a uma (talvez…) derradeira tentativa para desapear do poder totalitário o ditador Erdogan, que a partir de agora, reprimidos os militares e detidos centenas de magistrados, vai transformar a Turquia numa teocracia islâmica1.
Da carta que os militares insurretos pediram que fosse divulgada pela televisão estatal, emergem algumas pistas sobre as reais motivações que conduziram os militares a uma (talvez…) derradeira tentativa para desapear do poder totalitário o ditador Erdogan, que a partir de agora, reprimidos os militares e detidos centenas de magistrados, vai transformar a Turquia numa teocracia islâmica1.
O ditador foi eleito presidente em 2015, em
eleições que a comunidade internacional e a oposição classificaram de fraudulentas.
Ressabiado com os resultados do
escrutínio no qual perdeu a maioria no parlamento turco, Erdogan à revelia da
lei e dos mais elementares princípios democráticos, mandou alterar a constituição de molde a aumentar os seus poderes, reduzindo
o papel do poder legislativo a pouco mais do que figurativo2.
O ditador Erdogan (que foi primeiro-ministro
entre 2003-2014 e actualmente é presidente) tem vindo de forma progressiva e sistemática a
transformar o que era até há pouco uma democracia secular numa república islâmica.
Só para se ter uma pálida ideia da sua acção,
nos anos em foi 1º ministro foram construídas no
país 17000 mesquitas e mercê de uma reforma educacional ordenada por si foi
incluído o ensino religioso islâmico nos planos curriculares do ensino.
O facto da Rússia ter entrado no conflito
sírio, deu origem a uma forte tensão com a Turquia, sobretudo quando os russos
denunciaram a descoberta das conexões entre o governo de Erdogan e o «Estado Islâmico» e, a participação da família do ditador capitaneada
pelo seu filho no negócio da compra de petróleo ao EI, crude esse saqueado pela
referida matilha islâmica nos territórios dos países por ela ocupados.
O auge da tensão sucedeu quando um caça russo
dos que bombardeavam as colunas de camiões auto-tanques de petróleo do EI foi
abatido pelas forças turcas.
Quanto à tentativa frustrada de golpe dos
militares revoltosos, só pode ter sido executada com o conhecimento
do próprio Erdogan, quer por ordem directa ou por omissão, sabendo-se que
os mesmos não conseguiriam levar até ao fim a sua missão e vir a ser facilmente
derrotados de forma a propiciar uma mais ampla margem de manobra ao ditador para
poder incrementar definitivamente os mecanismos de concentração de poder nas
suas garras.
Dada a situação criada, a democracia turca
levou o que aparente ter sido uma machadada final. A partir de agora e caso não
venha a suceder novo golpe militar (que se aparenta improvável) que ponha fim
ao regime do ditador, a Europa pode contar com um pujante estado islâmico à sua
porta, sendo que a Turquia é a segunda maior potência militar da NATO no continente,
o que não deve deixar tranquilos os restantes membros desta aliança militar,
pelo menos os que têm consciência...
O movimento por detrás
desse acto de terror e provocação fascista a que o mundo assistiu por estes dias
até à náusea nas têvês, foi cozinhado por Erdogan e pelo seu agrupamento
político, o AKP (Partido Justiça e Desenvolvimento), partido islâmico,
num esforço para prorrogar o seu mandato. Este governo belicista apoiado pelo
MIT (serviço de inteligência militar turco), não obstante ter tido sob
vigilância os responsáveis pelos atentados em Diyarbakir, em 5 de Junho, e
Suruç, em 20 de Julho, optou por nada fazer, uma vez que o objectivo dos
referidos massacres foi o de inculcar uma política de medo e até de terror no
seio do povo turco, com o fim do governo do ditador controlar ferreamente os
seus cidadãos.
Entretanto, Erdogan
continua a insistir na sua política de intervenção no conflito da Síria
apoiando o Estado Islâmico e o Al-Nusra, encerrando «à martelada» o processo de
negociações da questão curda, incrementando a escalada do conflito bélico
através do estabelecimento de toques de recolher e no aumento de áreas de
excepção e intervenções militares em cidades curdas, conduzindo a Turquia para
um clima de guerra crescente.
Os ataques produzidos
nestas regiões são levados a cabo não só pelas forças militares às ordens do
ditador, mas igualmente por grupos de terroristas armados pelo MIT (serviço de
inteligência militar turco).
O perigo do breve alastramanto do conflito bélico à escala regional e até mundial, é quase uma realidade, uma ameaça a considerar à paz mundial que já não é muita, diga-se em abono da verdade.
O perigo do breve alastramanto do conflito bélico à escala regional e até mundial, é quase uma realidade, uma ameaça a considerar à paz mundial que já não é muita, diga-se em abono da verdade.
Notas
1.De acordo com o ditador, numa entrevista que deu em 30 de
maio deste ano, disse que nenhuma família muçulmana pode aceitar o planeamento
familiar. Erdogan sugeriu que as mulheres servem apenas para produzir crianças,
e quatro será o número ideal.
http://www.telegraph.co.uk/news/2016/05/30/family-planning-not-for-muslims-says-turkeys-president-erdogan/?cid=sf27262899+sf27262899
http://www.telegraph.co.uk/news/2016/05/30/family-planning-not-for-muslims-says-turkeys-president-erdogan/?cid=sf27262899+sf27262899
2.«O presidente da Turquia, Recep Tayyip
Erdogan, utilizou o sistema usado pelo ditador nazi Adolf Hitler na Alemanha como exemplo de governo,
segundo noticiou hoje o Today's Zaman. "Há
exemplos no mundo. Também há exemplos do passado. Se olharmos para a Alemanha
de Hitler podemos ver", respondeu o chefe do Estado turco numa conferência
de imprensa que deu após o seu regresso de uma viagem que realizou à Arábia
Saudita. Erdogan, que quer ver o seu cargo reforçado com poderes executivos».