segunda-feira, 29 de junho de 2009

VIDA APÓS A VIDA

«Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perde-se». Soren Kierkegaard (filósofo) Sempre pensei que ia morrer cedo. A luta armada, a clandestinidade na luta contra a ditadura, aventuras, promiscuidade, orgias, riscos... tudo me levava a crer que não chegaria aos trinta anos. Para quem tem vinte anos, quem tem trinta já é coroa. Tomei um susto quando vi-me vivo e saudável aos trinta. Aos quarenta percebi a possibilidade real da morte. No dia do meu aniversário quarentão, um jovem ator de 24 anos perguntou como eu me sentia: “Agora? de frente para a morte”. Para minha surpresa foi o jovem quem morreu logo depois. Aos cinquenta apaixonei-me pela letra de Aldir Blanc na voz de Paulinho da Viola: “...aos cinquenta anos, insisto na juventude...”, isto enquanto percebia meu ângulo peniano caminhando para os 90º. Mas, antes dos sessenta a pílula azul alargou minhas possibilidades e possibilitou-me ver o sexo por ângulos mais estreitos. Agora estou além dos sessenta. Aos quarenta rezava pela alma dos mortos amigos e parentes. Nome por nome eu pedia ao Senhor. Hoje, são tantos os que caíram, que apenas peço “...pelos mortos em geral”. E mais uma vez espanto-me por estar ainda vivo, e consolo-me no Salmo 91.7 que diz: “...1.000 cairão ao teu lado e 10.000 à sua direita, mas você não será atingido”. Mesmo confiando na Palavra, ainda assim caminho embaixo de marquise pra São Pedro não me ver. Ainda estou vivo, e pra quem pensou que morreria aos trinta descubro que existe vida após a vida. Mas o preço do viver é muito alto para o jovem de hoje: tem que comprar 20 apartamentos, arranjar um trampo, ganhar dinheiro, ficar famoso, comer todas, bombar no youtube, malhar, casar, ter filhos, comprar carro, estar bronzeado, conhecer tudo de web, e ainda ir ao show da Madonna, entre outras miudezas. Após os sessenta você já está quites com tudo isto e pensa que vai viver em paz. Qual o quê: tem que tomar insulina, antidepressivos, rivotris, controlar a pressão, não comer açúcar, não comer sal, não fumar, não beber, se conseguir comer uma e outra já é uma vitória, tem que caminhar ao menos meia hora por dia mesmo sem querer, cuidar do joanete, dormir cedo, vender o apartamento, fugir da bolsa, não discutir no trânsito, não se alterar no caixa do supermercado, tolerar os filhos, agradar os netos, ficar calado diante da mediocridade, aceitar o salário de aposentado, ter o testamento em dia, e curtir todas as dores ósseas, nervosas e musculares porque se algum dia você acordar sem dor é porque está morto. Claro que o idoso tem suas vantagens: uma delas é a transparência. Quanto mais velho mais transparente você se torna. Chega a ficar invisível: ninguém mais lhe percebe, mais um pouco e nem lhe enxergam. Mas, pode passar à frente dos jovens nas filas todas, com aquele ar de superior: “Você é jovem e sarado, mas eu tenho prioridade”. E ante qualquer aborrecimento ou dificuldade você ameaça enfartar ou ter um AVC. Funciona sempre, todos logo se tornam gentis e cordatos, e é garantia de muitas meias e lenços como presentes no Natal. Lidando com a minha “terceira idade” ouço de meu psicanalista, o bom Luiz Alfredo: “Só há dois caminhos: envelhecer...ou o outro, muito pior”. Prefiro envelhecer, aceitando cada minúsculo “sim” que a vida me dá com uma grande alegria e uma grande vitória. Hoje quando encontro vaga num elevador do shopping, quando o banco está vazio, ou quando encontro promoção na farmácia, já considero uma bênção gigantesca e agradeço a Deus pela Graça Alcançada. Após os sessenta, como no filme de Brad Pitt, regrido na existência, deixo Paulinho e a viola de lado e reencontro Lupiscinio “Esses moços, pobres moços...ah se soubessem o que eu sei...”. Mas se soubessem não ia adiantar nada: porque a sabedoria é filha do tempo. Como diz o amigo Percinotto, também idoso: “o diabo é sábio porque é velho”. Pelo andar da carruagem, percebo que já morri muitas vezes nesta vida, e que viverei até fartar-me." Benvindo Siqueira – ator e diretor de teatro e TV, autor e idoso.

terça-feira, 23 de junho de 2009

DAS ORIGENS DA IMPRENSA NO ALGARVE

O Portugal de oitocentos, à imagem do que sucedeu um pouco por toda a Europa, teve um surto cultural bastante intenso, como não se havia assistido até então. Para tanto, terá contribuído a abertura do país ao exterior na sequência da Revolução Liberal de 1820, uma vez que os primeiros governos que se lhe seguiram, entre outras iniciativas aboliram a censura aos livros e periódicos, de que resultou a liberdade de imprensa com evidentes repercussões positivas. Não obstante, os interlúdios governativos reaccionários de 1823-1826 e 1828-1833, que trouxeram de novo a censura. Poderemos mesmo considerar que a liberdade de imprensa conheceu um nítido recuo entre 1840 e 1851 (governos de Costa Cabral). Todavia, a partir de 1860, os jornais multiplicaram-se por todo o país, nomeadamente nas duas últimas décadas da centúria. O movimento periodístico entre 1894 e 1900 é de tal forma intenso que, incluindo as publicações em língua portuguesa no estrangeiro e descontando as que então deixaram de existir ou cuja edição foi interrompida, temos para esse período um total de 583 publicações. O Algarve surge no contexto das restantes regiões do país em pé de igualdade no fenómeno do surgimento de títulos de periódicos para o período em apreço. De então e até ao primeiro quartel do século XX, a quase totalidade de publicações nesta região, foram de iniciativa política, propriedade de partidos políticos, quer antes quer depois da Implantação da República, seguindo-se os jornais de anúncios, os satíricos ou anedóticos e finalmente em muito pequeno número, os periódicos ligados à Igreja, ao espiritismo ou simplesmente de carácter científico e literário. Por outro lado, verifica-se que a maior parte das publicações surgiram naqueles que ainda hoje são os principais concelhos algarvios, ou seja: Faro, Loulé, Lagos, Portimão, Olhão, Tavira, Vila Real de Stº António, Lagoa e Silves. O periódico mais antigo de que temos conhecimento intitulou-se: O Petiz. Foi um semanário e viu a luz do dia em Vila Real de Stº António em 29 de Outubro de 1823, num período marcado pela censura à imprensa, sendo seu director e proprietário, Socorro Júnior. O segundo título mais antigo chamava-se de Chronica do Algarve. Era um bissemanário, órgão oficial do Partido Constitucionalista, tendo surgido em 15 de Junho de 1833, em plena guerra civil entre liberais e miguelistas, que pôs o país a ferro e fogo entre 1832 e 1834, terminando com o triunfo dos liberais firmado com o tratado de Évoramonte. Este jornal foi dirigido por Manuel António Ferreira Portugal. Seguiu-se o Jornal Cómico do Algarve, datado de 1862 com redacção em Faro e O Reino do Algarve, natural de Tavira, que teve vida efémera, ou seja: entre Julho e Agosto de 1864, ano do primeiro recenseamento sistemático de toda a população do reino, que contou então um total de 3829618 habitantes. Era um bissemanário que saía aos domingos e 5ªs. feiras, e que tinha como director e proprietário, Luís Damásio Ferreira Carneiro. Entre 1868 e 1869 viveu em Lagos um jornal republicano intitulado O Echo do Algarve e que foi dirigido por João Teixeira Simões. Procurando dar expressão e voz, à principal actividade económica da Região no período em questão, entre Janeiro e Fevereiro de 1875 saíram dois números do Jornal dos Agricultores do Algarve, cujo director era o Eng.º agrónomo Alexandre de Sousa Figueiredo. Não nos esqueçamos que o Algarve - tal como as outras regiões do país - era uma região essencialmente agrícola, e só não é de relevar, não terem sido publicados mais jornais vocacionados nesta área geográfica, porque o grosso do analfabetismo em Portugal, encontrava-se precisamente nas zonas rurais. Teve esta publicação a sua redacção em Faro. O Comércio do Sul foi outro dos jornais surgidos em Faro neste período. Era uma publicação que se dizia defensora da política reformista, defensora do Partido Reformista que em Setembro desse ano se haveria de fundir com o Partido Histórico, dando origem ao Partido Progressista. Foi este periódico dirigido por Francisco Augusto da Silveira Almeida Vilhena e viveu entre Abril de 1876 e Março de 1878. Em 1876 surgiu também em Faro um «semanário regenerador»: O Distrito de Faro. Fundado por António Bernardo da Cruz, teve existência até 1913. O primeiro jornal de anúncios da região de que temos notícia apareceu em Faro em 28 de Janeiro de 1880 e chamava-se justamente: Jornal de Anúncios. Era uma publicação de distribuição gratuita, propriedade do tipógrafo António Manuel Henriques. É curioso verificar que ainda hoje existem variadas publicações do género no Algarve, igualmente de distribuição gratuita, sobretudo, editadas por estrangeiros, promovendo quer as várias actividades económicas da região, quer de outros países. Só a título de curiosidade, não podemos deixar de referir a existência de um jornal, um semanário, que saiu à estampa igualmente em Faro, intitulado: O Moralista. O primeiro número surgiu em 29 de Junho de 1918. Encontrava-se então no poder o Major Sidónio Pais, idolatrado pela quase totalidade do povo português e que tentava pôr ordem na casa Lusitana. Deste jornal saíra 9 números, até 18 de Fevereiro de 1919, durando pouco tempo mais após o assassinato de Sidónio Pais. Foi seu director, Cruz Azevedo. O primeiro jornal republicano a sair na região, surgiu em Lagos e teve por título: O Echo do Algarve. Viveu entre 1868 e 1869, ano este em que foram abolidas em Portugal todas as formas de escravatura, tendo sido seu director, João Teixeira Simões. Do concelho de Loulé, gostaria de deixar aqui referidos dois títulos singulares, um deles nascido mesmo em Loulé, em 1912, com o curioso título de: O Aldeão, um tri-semanário dirigido por um senhor chamado João de Deus Ferrador. O outro periódico, intitulado: A Folha de Alte, um quinzenário dessa aldeia branca e bela, teve uma vida relativamente longa, em comparação com periódicos das cidades, ou seja: viveu entre 1922 e 1934. É justo portanto, que se refira o nome do seu director. Assinava-se ele por J.F. da Graça Mira. Os títulos de periódicos que saíram nesta região para os anos em apreço, contam-se por muitas dezenas, casos houve do nascimento de títulos em simultâneo em terras diferentes, é o caso da Alma Algarvia, um semanário denominado republicano e independente, que apareceu ao mesmo tempo em Silves e Portimão em 12 de Março de 1911, composto e impresso na Minerva Comercial em Évora. Dirigido em Silves por Henrique Martins e em Portimão por Julião Quintinha. Acrescente-se a este propósito que, qualquer um destes jornalistas era membro importante de Lojas maçónicas locais e a tipografia Minerva em Évora, pertencia a membros da maçonaria dessa cidade. Quanto a Julião Quintinha, não quero deixar de fazer aqui uma breve referência a essa figura admirável das letras, da política e como cidadão, tão injustamente esquecida. Julião Quintinha era natural de Silves onde nasceu em 1885. Foi operário, funcionário público, jornalista e escritor, desempenhou as funções de redactor e chefe de redacção de vários jornais de Lisboa, tendo além disso, colaborado com muitos outros. Deixou uma extensa obra em conto, novela, reportagem, ensaio e temas ultramarinos. Escrevia brilhantemente. Como republicano que era, exerceu os cargos de administrador dos concelhos de Portimão e Silves e teve acção importante na luta reivindicativa do operariado. Foi iniciado maçon em 1912 no triângulo nº198, de Portimão, com o nome simbólico de Danton. Em suma: torna-se curioso constatar, que durante várias décadas, em tempos de muitos menos população daquela que existe hoje na região, existiram muitos mais títulos de periódicos do que existem actualmente. É uma análise que merece ser aprofundada, tanto mais interessante, se pensarmos que os índices de analfabetismo do período abordado eram incomparavelmente superiores aos de hoje. Só uma minoria da população sabia ler e escrever. Numa análise simplista poderíamos dizer que a realidade actual tem por base em primeiro lugar, a competição informal dos meios audiovisuais, nomeadamente a televisão e a rádio, para além dos periódicos de âmbito nacional, com a imprensa local e regional. Em segundo lugar, muito embora a quase totalidade da população adulta seja alfabetizada, a verdade é que a maioria é constituída por analfabetos funcionais. A título de exemplo: todos conhecemos licenciados que não lêem um livro e dos jornais só os títulos dos expostos nas montras e nos quiosques. Por outro lado ainda, existe muita gente que não entende o que lê, dado o seu reduzido léxico gramatical, nem têm a coragem de o dizer a ninguém, estilo: «nem às paredes confesso». Não será, pois, difícil concluirmos por uma análise histórica mais aprofundada que as populações alfabetizadas da região (e em todo o país) ao longo do século XIX e primeiro quartel do século XX, liam e bastante, sem dúvida. Já o mesmo não se pode dizer nos tempos que correm, tempos de iliteracia. ORIENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA . Branco, Capitão Vieira, Subsídios para a História da Imprensa Algarvia – de 1833 aos nossos dias, Tip. Caetano, Faro, 1938 . Mesquita, José Carlos Vilhena, História da Imprensa do Algarve, vols. I e II, C.C.R.A, Faro, 1988 Pedro Manuel Pereira

quarta-feira, 17 de junho de 2009

TAVIRA A CIDADE DOS TEMPLOS

Em1442, o Alentejo e o Algarve eram as regiões do país onde habitavam mais mouros, quer escravos, quer forros. No Algarve, existiam mourarias em Faro, Loulé, Silves e Tavira. No final desse século, dessas quatro localidades só restavam mourarias em três delas, dado que a de Silves já não existia. Tavira, dividida pelo rio Séqua {Gilão ou Asseca} tal como as localidades atrás referidas, possuía, igualmente, uma judiaria, com uma rua principal na vila e as restantes, fora de portas, desde que havia sido conquistada aos Mouros em 1242. Em 1266 recebia carta de foral e em 1536 era criada a Comarca de Tavira. Por esse tempo, esta era a única terra no Algarve que não havia sido doada a senhores particulares, pelo que nelas era vedada a entrada ao corregedor da corte, ao contrário do que sucedia nesta vila, onde frequentemente haviam alçadas extraordinárias devido às contínuas desordens e confrontos entre o povo e os fidalgos, situação que se encontra bem documentada para o reinado de D. Afonso V, o Africano. As razões dos tumultos eram motivadas, «segundo o concelho se amofinava nas cortes de 1478», dadas as concessões contrárias aos foros municipais que o rei fazia aos fidalgos. Acrescente-se a este propósito, que o monarca era homem de carácter perdulário e imprevidente; um gastador, um «mãos largas», sobretudo, face às concessões que fazia à nobreza, de tal ordem, que seu filho D. João II, o Príncipe Perfeito, quando por sua morte lhe sucedeu formalmente no trono, dado o estado caótico das finanças do reino, segundo coevos, desabafou com os mais próximos que o seu pai lhe havia deixado como únicos bens as estradas para calcorrear. O país estava na ruína, à beira da falência. Aliás, e ainda a propósito de desordens, refira-se um facto curioso passado em 1580, nesta hoje cidade, na sequência da morte de D. Sebastião em 1578, ou antes, do seu desaparecimento em combate, em Alcácer Quibir, numa manhã de nevoeiro, montado num corcel branco, rodeado de mourama, desferindo cutiladas à esquerda e à direita, ajoujado pelo peso do seu montante e da sua loucura. O soberano que lhe sucedeu, o seu tio-avô, cardeal-inquisidor D. Henrique, não deixou sucessor. Assim, dada a crise dinástica instalada, o rei espanhol Filipe II, {que veio a ser Filipe I de Portugal} tratou de corromper e comprar muitos portugueses venais, que a troco de bom dinheiro, de bons cargos ou da vaga promessa de algumas migalhas nas bordas da mesa do poder, se venderam a Espanha, se deixaram peitar. O alcaide-mor de Tavira, Martim Correia da Silva, venal e ganancioso como tantos outros, alinhou ao lado dessa «boa gentalha» portuguesa. Por essa razão, Tavira ficou a ferro e fogo. Os cidadãos não se conformaram com a traição do alcaide-mor. De resto, por quase todo o país, davam-se tumultos por essa altura, por razões mais ou menos aparentadas. O bispo de Silves, D. Jerónimo Osório, querendo pacificar os tavirenses, dirigiu-se para essa localidade em liteira, mas porque lhe pareceu que quanto mais demorasse mais se agravava o estado de sítio, montou numa mula para lá chegar mais rápido. Talvez por esse facto, aliado ao estado do tempo, agravou-se-lhe uma pequena chaga na perna direita, que há muito tempo o andava a atormentar. Por isso, teve de recolher para tratamento ao convento de S. Francisco de Tavira, onde, acometido por febres ardentes que o minaram durante vinte dias, acabou por se finar ao segundo dia do mês de Agosto, com 74 anos, sem ter cumprido a missão que se propusera. De resto, uma armada espanhola capitaneada pelo Marquês de Santa Cruz, às ordens do Duque de Alba, acabaria por se assenhorear do Algarve sem disparar um único tiro. Nos alvores do século XV, o número de fogos em Tavira era de 1567, enquanto que no seu termo se contavam 478. Possuía um importante porto comercial, em parte devido às suas exportações de alfarroba, amêndoa, mel, cera, lenha, marmelos, romãs, atum, sardinhas, peixe, sal, frutas e vinhos, principais produções do termo desta localidade, que a esse tempo mantinha relações comerciais com Bruges, cidade essa, que entre os séculos XIII e XV possuiu o maior porto comercial do Norte da Europa. Mas exportava-se igualmente para a Inglaterra, Sardenha, Génova, Gibraltar, Cádiz... Saliente-se ainda que os arrabaldes de Tavira, em vários quilómetros, se encontravam bastamente plantados de olivais e figueirais, para além do arvoredo que permitia as exportações atrás descritas. Mas também, de várias léguas em redor, chegavam todos os outros produtos. O porto de Tavira admitia navios de grande calado. Só os seus habitantes, possuíam 70 desses navios, para além de inúmeras embarcações costeiras e de pesca. A este porto acostavam incontáveis navios bretões, ingleses, alemães e de outras procedências, para carregarem mercadoria comprada aos tavirenses. Nesta vila, muitos negociantes da Flandres faziam também, frequentes compras de uvas e figos. Ao longo dos séculos, foi esta localidade visitada por várias vezes por vários monarcas. O primeiro deles de que há notícia, foi D. Diniz, que deu carta de privilégio com data de 15 de Abril de 1303 aos moradores de Tavira. Depois, e na sequência da visita de D. João I no seu regresso após a conquista de Ceuta em 1415, outros soberanos se lhe seguiram quer na ida quer no regresso de terras de África e não só. Quando do terramoto de 1755, sofreu essa vila consideráveis danos. A saber: o Convento de S. Francisco ficou bastante danificado, o Hospital ficou arrasado e arrasadas ficaram 42 casa de morada. Não obstante, houve poucos mortos e feridos. Nesta data, Tavira era residência do corregedor da corte, do provedor das Comarcas do Algarve e do Juiz de fora. A sua Alfândega era possivelmente a mais importante do Algarve. Possuía na altura duas freguesias; Santa Maria, mesquita de Mouros que D. Paio Peres Correia mandou converter em igreja cristã, e S. Tiago. Continuava a ser, esta localidade, rica em abundantes e variadas águas mas agora, com a barra assoreada, o seu porto, uma pálida imagem da importância que havia tido durante séculos. Decadente. De forma a imprimir-lhe alguma dinâmica industrial, por alvará de 31 de Maio de 1776, mandou D. José I estabelecer na cidade uma fábrica de tapeçarias de lã e seda, de acordo com a política manufactureira do reino. Porém, este estabelecimento não teve grande futuro e «foi sol de pouca dura». E assim, a cidade continuou inexoravelmente a afundar-se. Hoje, nos alvores do século XXI, e desde os anos sessenta do século XX, Tavira tem vindo a constituir-se paulatinamente como uma cidade, um concelho dinâmico, virado para o turismo, uma das novas «industrias» dos novos tempos. Pedro Manuel Pereira

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem carácter, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons! Martin Luther King

ALVES DOS REIS UMA FIGURA DO NOSSO TEMPO

Nós, os mais velhos, conhecemos a história... (que se repete!) Artur Virgílio Alves Reis nasceu, em Lisboa, no ano de 1898. Na juventude ambicionava ser engenheiro, mas o pequeno negócio de cangalheiro que o pai possuía tornou-se menos rentável e os seus sonhos foram por água abaixo. Um dia, em Sintra, no cartório do notário Benjamim Neves, conseguiu que este lhe fizesse uma pública forma de um diploma por ele forjado que o habilitava com um curso de engenharia de uma faculdade que não existia na Universidade de Oxford. Destruiu o original do diploma e passou a usar a pública forma para fazer prevalecer a sua condição de engenheiro, reconhecido pelo Ministério da Instrução Pública de Portugal como equivalente a um curso que tivesse sido frequentado no nosso país. Assim, com apenas pouco mais de 18 anos de idade, estava a candidatar-se a cargos de engenharia para as colónias, nomeadamente para Angola. Não lhe foi, no respectivo Ministério, reconhecida a condição de engenheiro civil, mas, dada a falta de engenheiros, contratou-se Alves Reis para um cargo equivalente. Seria «técnico de engenharia». Era um engenheiro que não era engenheiro, como, aliás, em Portugal, muitos anos mais tarde, passou a haver alguns! Independentemente da falsificação dos documentos que lhe abriram as portas da colónia de Angola o certo é que ele mostrou competência nos diferentes cargos para que foi, provisoriamente, sendo nomeado. O Governador-Geral chegou mesmo a nomeá-lo, a título definitivo, para o alto cargo de «engenheiro director das obras públicas» da, então, província; não podia, porque não tinha a equivalência a engenheiro civil formado por qualquer das diferentes escolas de engenharia nacionais! Contudo, as suas proezas nas ousadas decisões que foi tomando deram-lhe crédito e credibilidade. Na terra de cegos quem diz que tem um olho é rei! Regressado a Lisboa, entrou pelo mundo dos negócios e, onde se lhe fechava uma porta por causa da legalidade de então, ele escancarava outra através de uma falsificação, uma burla, uma solução menos recomendável, mas quase sempre não imediatamente detectável. Era um homem d’avant-garde, isto é, era um homem do final do século XX ou, melhor dizendo, um homem do começo do século XXI, cheio de iniciativas. Só que as suas iniciativas ainda não tinham respaldo nos “mecanismos” sociais, políticos e económicos do seu tempo! Dir-se-ia, usando a língua de Churchill, estava fora do seu timing. Alves Reis, para resolver um problema de financiamento de importações e exportações de Angola, para lá explorar uma mina, conseguiu dar o golpe de mestre: fundou um banco com recurso à emissão de uma série de notas de quinhentos escudos, perfeitamente verdadeiras, fabricadas no local onde se fabricavam as que o Estado mandava fazer. Ele só teve de falsificar os documentos de encomenda, sobrepondo-se ao Estado português! E os negócios prosperaram de imediato e com grande fulgor. Claro que a falcatrua foi descoberta quando as autoridades competentes mandaram fazer uma nova emissão de notas do mesmo valor e da mesma série. O banco foi, de imediato, à falência e Alves Reis e os seus cúmplices tiveram de responder pela negociata que, de errado, só teve, como já disse, a falta de oportunidade temporal. Se fosse hoje, o Banco Angola e Metrópole teria sido nacionalizado, Alves Reis teria respondido perante uma comissão parlamentar, poderia, eventualmente, ser preso, mas, garantidamente, com as delongas da Justiça, nunca chegaria a dar entrada na penitenciária, como lhe aconteceu para cumprir oito anos de prisão maior celular, seguidos de doze anos de degredo. Foi posto em liberdade em 1945 e veio a morrer dez anos mais tarde. Cometeu as irregularidades criminais do tempo da democracia e foi condenado no tempo da ditadura. Afinal, Alves Reis viveu fora de época… Bastava-lhe ter nascido setenta anos mais tarde e teria tido à sua disposição outros mecanismos de apoio à fraude: offshores, empresas falidas, paraísos fiscais, fundos comunitários e outras oportunidades que os entendidos conhecem bem. Há, todavia, uma realidade que se mostra inalterável: Portugal é, em todos os tempos, só por si, um paraíso para os vigaristas! Luís Alves de Fraga

terça-feira, 9 de junho de 2009

S. MALAQUIAS E OS PAPAS

Após a morte de João Paulo II, levantou-se de novo, junto de alguns círculos, as professias de São Malaquias quanto aos papas vindouros ao seu tempo. São Malaquias nasceu em Armagh, na Irlanda, decorria o ano de 1094, segundo S. Bernardo. Foi baptizado como Maelmhaedhoc, e o seu nome «latinizado» para Malaquias. Foi ordenado sacerdote por Al Morir San Celsus em 1119. Depois de sua ordenação, continuou os seus estudos de liturgia e teologia em Lismore, San Malchus e em 1124 foi consagrado bispo de Condor. Com a morte de San Cellus, S. Malaquias foi nomeado Arcebispo de Armagh em 1132, pela sua grande humildade e dedicação à causa da Fé. Porém, durante dois anos, as intrigas não lhe permitiram assumir o cargo. Em três anos, restaurou a disciplina eclesiástica em Armagh. Segundo S. Bernardo, S. Malaquias tinha um dom para a religião, no sentido mais alargado da palavra; re-ligare, reunir o que está disperso. Em 1139 viajou para Roma e no caminho visitou S. Bernardo em Clairvaux, França e, foi por lá que deu início ao seu legado com a Irlanda. Ao regressar, via Clairvaux, juntou cinco monges para fundar em 1142 a grande abadia de Mellifont. No regresso de uma segunda viajem a Roma, S. Malaquias chegou doente a Clairvaux e morreu nos braços de S. Bernardo no ano da Graça de 1148, em Novembro. Muitos milagres foram atribuídos a S. Malaquias, mas ganhou igualmente notoriedade pelo seu dom de visões e professias. Foi canonizado pelo papa Clemente III em 6 de Julho de 1199 e a festa em sua honra é celebrada em 3 de Novembro. A mais famosa das profecias atribuídas a São Malaquias é sobre os Papas. É composta de «lemas» para cada um dos 112 papas, desde Celestino II, eleito em 1130, até o fim do mundo. Esses «lemas» descritivos dos papas, podem-se referir a um símbolo do seu país de origem, ao seu nome, ao seu escudo e armas, ao seu talento ou a qualquer outra coisa referente ao Papa. Por exemplo, o lema de Urbano VIII é Lilium et Rosa; A era de Florença, Itália, cujo escudo tem uma flor-de-lis. Foi muito discutido se São Malaquias teria sido o verdadeiro autor das profecias. Alguns historiadores acreditam que o manuscrito original foi escrito até o século XVI. Se S. Malaquias é o autor das profecias, essas estiveram «desaparecidas» durante mais de 400 anos. No século XVII, o Padre Menestrier, jesuíta, levantou a hipótese das profecias serem um plágio para influenciar as eleições de Gregório XIV no conclave de 1590. O lema que corresponde a este papa na profecia é: antiquitate urbis, que faz uma alusão à sua cidade natal e sede episcopal, Orvieto, em latim: Urbs vetus. Não existem provas de fraude para os acusadores. Porém, um dos mais respeitados historiadores do século XVI, Onófrio Panvinio, corregedor e revisor da Biblioteca do Vaticano em 1556, parece aceitar completamente a autenticidade das profecias de Malaquias. Segue-se a lista de todos os lemas dos papas e, no fim desta, estão os nomes dos últimos papas citados por este homem da Igreja:
 1 Ex Castro Tiberis – Do Castelo do Tibre
 2 Inimicus Expulsus – Inimigos Expulsos
 3 De Magnitudine Montis – Procedente de Montemagno
 4 Abbas Suburranus – O Abade de Suburra
 5 De Ruro Albo – De um Campo Branco
 6 Ex Tetro Carcere – De um Horrível Cárcere
 7 Via Transtiberina – Via Mais Além do Tibre
 8 De Pannonia Tusciae – Da Hungria a Toscana
 9 Ex Ansere Custode – Da Guarda do Ganso
 10 Lux in Ostio – A Luz em Óstia
 11 Sus in Cribro – O Porco na Peneira
 12 Ensis Laurentii – A Espada de Lourenço
 13 De Scholia Exiet – Saído de Scola(ri)
 14 De Rure Bovensi – Do Campo dos Bois
 15 Comes Signatus – O Conde de Segni
 16 Canonicus Ex Latere – Canônico do Ladrilho
 17 Avis Ostiensis – A Ave de Óstia
 18 Leo Sabinus – O Leão Sabino
 19 Comes Laurentius – O Conde de (São) Lourenço
 20 Signum Ostiense – O Signo (Sinal) de Óstia
 21 Jerusalem Campaniae – Jerusalém Campânia
 22 Draco Depressus – O Dragão Arruinado
 23 Anguineus Vir O Homem da Serpente
 24 Concionator Gallus – O Pregador Francês
 25 Bonus Comes – O Bom Conde
 26 Piscator Tuscus – O Pescador Toscano
 27 Rosa Composita – A Rosa Dissimulada
 28 Ex Telonio Liliacei Martini – Do Tesoureiro do Martinho dos Lírios
 29 Ex Rosa Leonina – Da Rosa Leonina
 30 Picus Inter Escas – O Pica-pau Entre os Alimentos
 31 Eremo Celsus – Elevado da Solidão
 32 Ex Undarum Benedictione – Das Ondas do Benedito
 33 Concionator Patareus – O Pregador de Patara
 34 De Faciis Aquitanicis – Das Faixas da Aquitânia
 35 De Sutore Osseo – Do Sapateiro de Ossa
 36 Corvus Schismaticus – O Corvo Cismático
 37 Abbas Frigidus – A Abade Frio
 38 Ex Rosa Atrebatensi – Da Rosa de Arras
 39 De Montibus Pammachii – O Lutador dos Montes
 40 Gallus Vicecomes – O Visconde Francês
 41 Novus de Virgine Forti – Forte da Virgem Nova
 42 De Cruce Apostolica – Da Cruz dos Apóstolos
 43 Luna Cosmedina – A Lua Cosmedina
 44 Schisma Barcinonum – O Cisma de Barcelona
 45 De Inferno Praegnani – Do Inferno de Pregnani
 46 Cubus Mixtione – Cubo Sujeito à Mesclagem
 47 De Miliore Sidere – De uma Estrela Melhor
 48 Nauta de Pontenigro – Marinheiro do Mar Negro
 49 Flagellum Solis – O Flagelo do Sol
 50 Cervus Sirenae – O Cervo de Nápoles
 51 Corona Veli Aurei – A Coroa do Véu de Ouro
 52 Lupa Caelestina -A Loba Celestina
 53 Amator Crucis – O Amante da Cruz
 54 De Modicitate Lunae – Da Pequenez da Lua
 55 Bos Pascens – O Boi que Pasta
 56 De Capra et Albergo – De Cabra e Albergue
 57 De Cervo et Leone – Do Cervo e do Leão
 58 Piscator Minorita – O Pescador Menor
 59 Praecursor Siciliae – O Precursor da Sicília
 60 Bos Albanus in Portu – Boi de Álbano no Porto
 61 De Parvo Homine – Do Homem Pequeno
 62 Fructus Jovis Juvabit – O Fruto de Júpiter Comprazerá
 63 De Craticula Politiana – A Grelha de Politiano
 64 Leo Florentius – O Leão de Florenz (Florença)
 65 Flos Pilae Aegrae – A Flor das colunas Vacilantes
 66 Hyacinthus Medicorum – O Jacinto dos Médicos
 67 De Corona Montana – Da Coroa do Monte
 68 Frumentum Floccidum – O Trigo Insignificante
 69 De Fide Petri – Da Fé de Pedro
 70 Aesculapii Pharmacum – O Remédio de Esculápio
 71 Angelus Nemorosus – O Anjo de Bosco
 72 Medium Corpus Pilarum – O Corpo no Meio das Esferas
 73 Axis in Meditate Signi – O Eixo no Meio do Emblema
 74 De Rore Coeli – Do Orvalho do Céu
 75 Ex Antiquitate Urbis – Da Cidade Antiga
 76 Pia Civitas in Bello – Cidade Piedosa na Guerra
 77 Crux Romulea – A Cruz dos de Roma
 78 Undosus Vir – O Homem Agitado
 79 Gens Perversa – A Nação Inimiga
 80 In Tribulatione Pacis -Na Tribulação da Paz
 81 Lilium et Rosa – O Lírio e a Rosa
 82 Jucunditas Crucis – A Exaltação da Cruz
 83 Montium Custus – O Guardião dos Montes
 84 Sidus Olorum – A Estrela dos Cisnes
 85 De Flumine Magno – Do Grande Rio
 86 Bellua Insatiabilis – A Besta Insaciável
 87 Poenitentia Gloriosa – A Penitência Gloriosa
 88 Rastrum in Porta – O Rastelo na Porta
 89 Flores Circumdati – Flores em Círculo
 90 De Bona Religione – De Boa Religião
 91 Miles in Bello - O Soldado no Combate
 92 Columna Excelsa – A Coluna Elevada
 93 Animal Rurale – O Animal dos Campos
 94 Rosa Umbriae – A Rosa das Sombras
 95 Ursus Velox – O Urso Veloz
 96 Peregrinus Apostolicus – O Peregrino Apostólico
 97 Aquila Rapax – A Águia Rapace
 98 Canis et Coluber – O Cão e a Serpente
 99 Vir Religiosus – O Varão Religioso
 100 De Balneis Etruriae – De Balnes, Etrúria
 101 Crux de Cruce – A Cruz da Cruz Pío IX (1846-1878)
 102 Lumen in Caelo – A Luz no Céu Leão XIII (1878-1903).
 103 Ignis Ardens – O Fogo ArdentePío X (1903-1914).
 104 Religio Depopulata – A Religião Despovoada - Bento XV (1914-1922).
 105 Fides Intrepida – A Fé Intrépida - Pío XI (1922 –1939).
 106 Pastor Angelicus – O Pastor Angélico-Pio XII (1939-1958).
 107 Pastor et Nauta – Pastor e Navegante João XXIII (1958-1963)
 108 Flos Florum – A Flor das Flores Paulo VI (1963-1978).
 109 De Medietate Lunae – Da Meia Lua-João Paulo I (1978).
 110 De Labore Solis – Do Trabalho do Sol – João Paulo II (1978-2005).
 111 De Gloria Olivae – Da Glória da Oliveira - Bento XVI (2005-2013)
 112 Petrus Romanus – In psecutione extrema S.R.E. sedebit Petrus Romanus qui pascet oves in multis tribulationibus quibus transactis civitas septicollis diruetur, Iudex tremendus iudicabit populum. Finis. Pedro Romano. Na derradeira perseguição da Santa Igreja Romana, estará sentado {no sólio de Pedro} Pedro Romano, que apascentará as suas ovelhas no meio de múltiplas convulsões, decorridas as quais, a cidade das sete colinas {Roma} será destruída e o Juiz poderoso julgará o povo. (2013...) João Paulo II, seria, segundo as profecias de S. Malaquias, o antepenúltimo Papa, restando, portanto, apenas mais um, após o actual sumo pontífice.

Pedro M. Pereira

O MITO SEBASTIANISTA

O desastre de Alcácer Quibir {El-Ksar-el-Kibir} constitui uma das mais negras páginas da História de Portugal. Estamos em crer, que não obstante, passados que são, mais de quatro séculos desse acontecimento, Portugal ainda não se recompôs do mesmo. Continua um país órfão. O mito sebastianista continua presente no inconsciente colectivo. Talvez ninguém o tivesse retractado tão bem até hoje, como Fernando Pessoa. Em tempos de crise, os portugueses continuam a acalentar a vaga esperança que algo ou alguém venha «numa manhã de nevoeiro» salvá-los da desgraça. O sentimento de orfandade ciclicamente assola os portugueses, até que um qualquer pretenso salvador assuma com mão de ferro os destinos da governança do reino. Só no século XX ele foi um Sidónio Pais, um Salazar, vários {os capitães de Abril}, um Sá Carneiro e um Cavaco Silva. Portugal continua a ser um reino sem rei no inconsciente colectivo do seu povo. O presidente da República não chega para preencher o vazio de um soberano, de um pai da pátria, de um paizinho. Mário Soares, enquanto presidente, quase chegou a preencher esse vazio, só não o alcançando, dada a limitação constitucional de poderes. A batalha de Alcácer Quibir mobilizou pela parte portuguesa a nata da aristocracia, o melhor da sua juventude e avultadas somas de capitais, não obstante o exército se encontrar francamente em mau estado, quer dem termos de disciplina, quer em organização. Para além das forças portuguesas, existiam também, mercenários espanhóis, italianos e alemães. A empresa teve o «empurrão» do papa Gregório XIII que promulgou uma Bula a favor dessa expedição. Em abono da verdade se refira, no entanto, que o rei Filipe II de Espanha enviou a D. Sebastião uma embaixada chefiada pelo Duque de Medinaceli a fim de o dissuadir dos seus intentos de passar ao Norte de África. Perto de Alcácer Quibir, as forças portuguesas, compostas de 15000 infantes, 1500 cavaleiros, para além de algumas centenas de criados, mulheres, escravos, etc., para além de uns quantos partidários de Mulay Muhammad, foram destroçados pelo exército do sultão Mulay ‘Abd al-Malik, composto por 8000 infantes e 41000 cavaleiros, para além das tropas regulares. Com D. Sebastião pereceu a nata da aristocracia e do exército do País, num total aproximado de 7000 homens, para além dos milhares de feridos e prisioneiros, muitos deles remidos ao longo dos anos pelos seus familiares, a troco de avultados cabedais, que levou à ruína poderosas famílias. Com a morte deste soberano, estava aberta a porta para a União Ibérica, não obstante a aclamação régia do Cardeal D. Henrique, com sessenta e seis anos de idade e uma saúde débil. Quando da sua morte, em 31 de Janeiro de 1580, tuberculoso, deixa o reino sem sucessor. Assim, D. António, Prior do Crato, assume-se como o candidato natural, tendo o apoio de grande parte das massas populares e, é aclamado rei em Santarém. Como tantos outros, houvera ficado prisioneiro na batalha de Alcácer Quibir, tendo no entanto, obtido depressa o resgate. O duque de Alba e as suas tropas invadem o País por ordem de Filipe II, mais se diria um tranquilo passeio, tal a praticamente nula resistência encontrada, à excepção da movida por D. António, derrotado na ribeira de Alcântara, junto com o seu improvisado exército de sete a oito mil homens. Escapou e fugiu para França onde foi reconhecido como de iure rei de Portugal, tendo continuado a luta contra os espanhóis com o auxílio da Inglaterra e da França. Teve como seu último baluarte, a Ilha Terceira, que se rendeu a Filipe II em 1583, aclamado que tinha sido nas Cortes de Tomar em 1581 rei de Portugal com o título de Filipe I. Só no dia primeiro de Dezembro de 1640, O País retomaria de novo a sua independência. Pedro Manuel Pereira

segunda-feira, 8 de junho de 2009

HAARP – O CONTROLO DO CLIMA MUNDIAL

Trinta milhões de dólares são quanto – alegadamente - o Pentágono investiu no projecto Haarp {High Frequency Active Auroral Research}. Trata-se de um complexo tecnológico, constituído por mais de 180 torres com antenas atípicas, situado nas inóspitas terras do Alaska, em Gakoma, concebido para projectar energia radiada na ionosfera, a camada electricamente carregada que se encontra acima da atmosfera da Terra. É um sistema que funciona ao inverso de radiotelescópio, ou seja, não transmite, só recebe. As suas potentes emissões de centenas de milhões de vóltios de potência, para a parte superior da atmosfera, actuam como um verdadeiro feixe de calor, aquecendo-a de sobremaneira, provocando assim, uma tremenda ionização de consequências imprevisíveis. Graças ao seu efeito de «espelho», poderá dirigir os seus feixes para qualquer zona do planeta, formando longas ondas que penetram nos corpos físicos – nomeadamente o corpo humano – no solo e nos oceanos. Criado em 1995 pela CIA, NSA e ONR, utiliza as frequências VHF e UHF, criando campos de ressonância electromagnética de 1,1 Ghz na atmosfera, passível de provocar alterações no DNA e no comportamento humanos. O projecto foi inicialmente concebido para melhorara as comunicações com submarinos através dos sistemas ELF, ou seja, originalmente foi apresentado como um programa de investigação científica e académica, paradoxalmente gerido pela Força Aérea e Marinha de Guerra dos E.U.A.. Assim, segundo notícias vindas a lume um pouco por todo o mundo nos últimos anos, incluindo profusamente na Internet, este sistema terá a possibilidade, entre outras propriedades, de controlar o clima do planeta de forma direccionada, ou seja, das regiões que os cientistas deste projecto pretendam. Tempestades, furacões, inundações, tornados e secas, é só escolher, «à la carte». Porém, a tecnologia em causa pode também ser utilizada para outros fins que não apenas de controlo climático. Segundo consta, trata-se de uma arma que pode igualmente ser usada de forma eficiente para criar terramotos onde desejados. Em Fevereiro de 1998, respondendo a uma informação da deputada do Parlamento Europeu pela Suécia, Brott Theorin, o Comité do Parlamento Europeu de Políticas de Relações Exteriores, Segurança e Defesa, manteve audiências públicas em Bruxelas, relativamente ao programa Haarp. A «Moção para Resolução» submetida pelo referido Comité ao Parlamento Europeu considera que o Haarp exerce um profundo impacto nocivo sobre o meio ambiente do planeta, lamentando ainda, a recusa da administração dos Estados Unidos da América em dar respostas públicas relativamente ao projecto em causa, sobretudo, quanto aos perigos que o mesmo representa para o clima. Nos tempos que correm, não será de todo displicente atentar-se às informações que dão conta desta realidade, sobretudo, porque coincidentemente ou não, desde a data da sua criação que o clima mundial entrou em franca mutação acelerada, com as consequentes catástrofes de dimensões nunca antes assinaladas.  

Pedro Manuel Pereira

A CULTURA DA PAZ

Um dos principais mitos políticos que se instituiu no Ocidente moderno desde Maquiavel foi o da política como esfera da degradação, da vilania, da falsidade, na qual os fins justificam os meios, da ruptura com a ética, da sujeição material e espiritual do homem, antes que a sua libertação. As consequências de tal visão compartimentada do homem e do mundo e da política, embora as conquistas democráticas do moderno Estado laico, mostraram, contudo, nestes séculos, o seu esgotamento e efeitos perversos, quando então o critério do poder, submetido ao império da razão instrumental, é o da eficiência nem sempre revertida para a res publica e no qual ele se converte num fim em si mesmo despreocupado com a polis e o com o bem comum ou justiça. A concepção maquiavélica, cuja teoria e imaginário se solidificaram no pensamento ocidental, é, como destacou Cassirer (Cassirer,1976), uma visão orientada pela concepção de uma “profunda perversão moral da humanidade”. Ela inscreve-se e ao mesmo tempo reforça uma cultura que atinge tanto a concepção de política - como esfera da mentira, da corrupção e da violência - quanto a esfera privada, o que irá conduzir a práticas perversas as quais têm a sua conclusão lógica numa sociedade que se imagina e que se constitui como competitiva desigual e violenta. Enfim, ao longo desses séculos, construiu-se uma cultura da violência. Ora, a violência, no sentido primeiro aqui adoptado, diz respeito à coisificação do outro na relação de alteridade. Entendida universalmente como todo atentado aos direitos fundamentais das pessoas; é também concebida como o acto de privar o homem de sua palavra, acto extremo empreendido quando não há possibilidade da palavra, do entendimento: “fazer violência é sempre fazer calar”(1). Como dito por Simone Weil(2), violento é “aquele que faz de quem lhe é submetido uma coisa”. Sob essa perspectiva, em nossa tentativa de construir um conceito primeiro de violência, veremos que as formas através das quais ela se manifesta vão da dimensão simbólica presente na calculada espectacularização da política e nas estreitas relações entre sacrifício e violência(3) até a violência física; vão da humilhação e imputação de sofrimento psíquico até a morte, da requintada indiferença em relação ao Outro que sofre até a chamada mortificação do eu(4. Dessa, ainda, concepção não podem ser afastadas também tanto a violência institucional quanto aquelas exercidas no âmbito dos foucaultianos micropoderes(5). Qualquer que seja a forma através da qual se manifeste, a violência quase sempre recorre ao simbólico para se expressar (e por sua vez pode ser por ele engendrada). Isso é perceptível tanto na exuberância simbólica de uma sociedade espectacularizada, quanto nas subtis, mas não menos presentes, manifestações dos complexos simbólicos presentes nas relações Burocráticas como descritas literariamente no universo kafkiano(6). Intimamente ligada à reificação das relações sociais, qualquer que seja a sua manifestação, a violência é sempre uma interdição à palavra do Outro e, ao mesmo tempo, a manifestação do não-olhar para o Outro nas relações sociais e políticas (Mendonça, 1997 e 1998). Aliás, é através dessa última perspectiva que Adorno e Horkheimer abordam a questão da violência no clássico Elementos do Anti-Semitismo (Adorno & Horkheimer, 1991)(7), quando então a questão da alteridade será apropriada através da denúncia do ofuscamento das relações sociais como elemento patológico do anti-semitismo e das relações na sociedade capitalista, caracterizado pelo olhar que extingue o sujeito, que não o vê como dotado de humanidade(8) . Posteriormente, Adorno tratará do tema da verdade associada a uma sociedade livre porque desalienada. A mentira irá vincular-se à barbárie, situação em que a sociedade se submete ao império da razão instrumental e na qual o Outro desaparece transformado em meio(9). Ofuscamento, irreflexão, dizem respeito à não-percepção da humanidade presente em cada qual e elidida na relação algoz-vítima. Chegamos aqui ao ponto central dessas reflexões: o não-olhar denuncia e alimenta uma sociedade doentia na qual os sujeitos perdem a perspectiva do Outro e de si-mesmos. A realização da humanidade dar-se-ia então “só libertando-se o pensamento da sua fixação na dominação e eliminando-se a violência “(Cohn, 1998). Neste sentido, em nossa interpretação a mentira torna-se ela também em uma manifestação da violência ou, para usar a expressão de Adorno, torna-se a “imoralidade no outro” (Horkheimer & Adorno, 1985, 178). Sob outra perspectiva o assunto é abordado por Hannah Arendt que marcará uma ruptura no padrão weberiano de concepção de poder como visceralmente associado à violência. Para ela, antes pelo contrário, o poder estará ligado a um padrão consensual de acção solidária e não instrumental (10) no qual a verdade é de importância fundamental: “a persuasão e a violência, dirá, podem destruir a verdade, não substituí-la”(11). A questão da verdade torna-se, desta maneira, crucial para o entendimento do poder. E aqui retomamos a pergunta formulada por Arendt: será a política incompatível com a verdade? O problema, como ela identifica, já está no mito platónico da caverna: o homem que vê a luz e vem contar a verdade é desprezado e sofre ameaças. Ora, embora sua noção se prenda à verdade factual, Hannah Arendt também expõe os riscos permanentes para esta diante do poder que manipula e falsifica. No caso dos negócios públicos a “mentira organizada”, como chamaria, é uma arma contra a verdade (12). A opinião e a não verdade serão o requisito do poder. Da primeira surge a retórica com a qual as massas são iludidas e que não se limita ao verbal , mas diz respeito ao visual, ao estético, etc.. A retórica das imagens passa a ser a retórica do ilusionismo. Dessa ilusão fazem parte tanto os iludidos quanto os enganadores. Expressão dessa falsidade encontra-se no próprio carácter efémero das imagens o que seria “um indício expressivo do carácter mentiroso das afirmações públicas concernentes ao mundo dos factos”. Deste modo, para Arendt, a violência não é o meio específico da política, aliás ela é anti-política, no máximo um fenómeno marginal à política e não sua essência. O poder repousa sobre a reunião de homens iguais que partilham sua liberdade – esta sim, o “conteúdo e sentido original da própria coisa política”(Arendt, 1998). Apenas quando se dissocia dessa fonte original é que o poder torna-se em violência e é especialmente entre os privados desse diálogo, isolados e solitários (deracinés), sem participação na esfera pública que reside o germe das acções violentas (13) e das resoluções totalitárias. No caminho do predomínio do cárcere de ferro da razão instrumentalavançou também a construção de uma cultura da violência, entendida como valores e mentalidades que se constroem sobre a relação dialógica não estabelecida, o encontro não realizado, o face a face interditado O desafio, após séculos de domínio desses valores é subvertê-lo e construir uma cultura de paz. Ora, como indica o termo cultura na expressão cultura de paz envolve a mudança de mentalidades e a construção de valores envolvendo a não-violência, a responsabilidade ética, a compaixão, a solidariedade, a paz entre os seres viventes, o desapego, o respeito à vida em todas as suas manifestações, a honestidade, a construção de uma fé que dialoga antes que exclui, a dignidade e, finalmente, o respeito ao espaço público e à cidadania. Logo, cultura de paz constrói-se através de uma educação dos envolvidos no processo. Mesmo quando ela tangencia a luta política, luta por direitos ou pela criação de mecanismos institucionais ela passa necessária e precedentemente pela educação voltada para a criação dos valores acima. Assim o foi para Gandhi e Vinoba na Índia, por exemplo. A prioridade, antes que atingir o alvo da libertação da Índia para o primeiro ou da reforma agrária para o segundo, era a educação e a transformação dos adversários e da população. Logo construir uma cultura de paz implica em focalizar, não o conflito, como é típico na mentalidade de luta, mas as soluções pró-activas na criação de novos valores focados no diálogo que irão ter reflexos na vida privada dos envolvidos assim como no espaço público. É aí que algumas matrizes do pensamento ético do século XX se mostram importantes porque contêm os germes de uma visão acerca dos caminhos para uma cultura de paz e do seu conteúdo ético. As fontes dessa percepção encontram-se presentes em pensadores como Franz Rosenzweig, Martin Buber, Emmanuel Mounier, Paul Ricoeur e Emmanuel Levinas . Para esses filósofos, congregados em torno da “filosofia do encontro” a ética é irredutível ao social e ao político, ao contrário, ela os precede(…). O eixo comum entre eles será o deslocamento ético em relação ao Outro e a retomada em seu pensamento social e político de questões fundamentais como Justiça, Solidariedade, Verdade e Não-Violência(…). 1 Interessante é a posição de Paul Ricoeur, inspirado por Eric Weill abordará a violência como o oposto da linguagem e do discurso coerente (não mentiroso). (Ricoeur, 1991) 2 Apud Muller, 1991. 3 Ver acerca destas últimas Girard, 1990. 4 Vide acerca disso o clássico trabalho de Goffmann, 1974 5 Vide Foucault, 1979 6 Vide acerca disso Mendonça, 1997. 7 Tema posteriormente aprofundado em Adorno, 1964. 8 Aliás não é essa também a abordagem no campo literário feita por Primo Levi em “Isto é um Homem”, de Eli Wiesel em” A Noite “e mais recentemente em José Saramago em “Ensaio sobre a Cegueira” ? 9 Vide Mendonça, 1998:.124. 10 Vide Rouanet. S.Paulo, Introdução. In: Habermas, 1990. 11 Arendt, 1988:.317. 12 Lembremos que a mentira é ela também uma forma de violência que subverte a verdadeira relação com o Outro, na medida que impede a palavra oriunda do livre pensar diante da realidade. Vide também acerca disso Ricoeur, 1991. 13 Vide Arendt,1978. Note-se que a posição de Arendt em relação ao desarreigado aparentemente mostra-se diferente da de Levinas. Para este é o judeu sem raízes que porta a mensagem de acolhimento e não aquele preso à terra como proposto na filosofia heideggeriana. Mas, tanto nos desarreigados de Arendt quanto nos presos ao solo de Levinas (Levinas, 1976) o elemento corruptor e passível de instaurar a violência é a ausência de relações comunitárias reais, isso porque o “deraciné levinasiano”, a exemplo do judeu que vaga pelo mundo, encontra-se em relações comunitárias com o próximo, ao contrário do solitário de Arendt. Vide Arendt, 1978:589. Vale também consultar Bucks, 1997. Kátia Mendonça, Doutora em Ciência Política pela USP, Universidade de S. Paulo

SINDICATO DE PEDREIRO

O nome maçonaria, ou franco-maçonaria, deriva do termo francês franc-maçonnerie, “pedreiros livres” ou do Latim "Sculptores Lapidum Liberorum". Sua origem é localizada nas corporações de ofício dos pedreiros da Idade Média, no final do século XIV. Naquela época, não havia escolas capazes de ensinar as técnicas da construção em pedra, utilizadas principalmente em catedrais. Somente nas corporações, também chamadas guildas, aprendizes e mestres dividiam a ciência do talhe e se reuniam após o expediente para discutir o andamento das obras e defender sua profissão, como num sindicato. Levavam às reuniões os instrumentos de trabalho, utilizados na composição dos projectos arquitectónicos (esquadro e compasso) ou na actividade braçal (avental, malho e cinzel). Assim surgia a “maçonaria operativa”, preocupada com coisas práticas e restritas ao ofício. Alguns estudiosos afirmam que a sociedade iniciática é muito mais antiga, já que símbolos utilizados em rituais maçónicos foram encontrados em túmulos e pirâmides egípcias há sete mil anos. Somente após o Renascimento, com a fundação das primeiras universidades europeias, as reuniões maçónicas tornaram-se mais refinadas, admitindo discussões filosóficas e literárias. Os primeiros arquitectos e engenheiros a deixar as salas de aula encontravam um mercado de trabalho com todas as portas fechadas. As guildas formavam uma espécie de cartel, impedindo que profissionais de fora conseguissem emprego. De tanto insistir, os académicos foram aceites paulatinamente na maçonaria e levaram sua erudição aos encontros. Desde então, a ordem propõe trabalhos fraternos e colectivos para assegurar a evolução espiritual dos seres humanos. Recebe o nome de “maçonaria especulativa ou filosófica”. Os homens passam, a Ordem permanece. A maçonaria nunca ficou alheia aos processos de mudanças que aconteceram e marcaram as eras ou fases vivenciadas neste mundo. Neste momento estamos atravessando uma grande mudança na humanidade, uma Globalização total, uma abertura que está exigindo um grande desenvolvimento cultural e mudanças comportamentais. Instituições seculares como, por exemplo, a Igreja Católica e a Maçonaria estão sendo questionadas pela Sociedade do seu real papel no Terceiro Milénio e deverão adequar-se a um novo comportamento. Devemos responder aos anseios da sociedade contemporânea para adquirirmos o direito de coexistir em harmonia. Assim, acreditamos que chegou o momento de uma reformulação e actualização, não da filosofia, dos ritos ou de rituais, mas sim da nossa missão na melhoria da vida sócio-económica-cultural do ser humano a nível mundial. Devemos resgatar nossas origens históricas, na sua essência mais pura, para redireccionarmos nossos conceitos de participação no contexto social... O Estado Maçónico deve ser constituído e aberto a participação do seu povo. A Ordem Política Ideal é o Estado, a sociedade e o homem justo e perfeito. Esta foi a bandeira maçónica no Iluminismo, datado do século XVII. Montesquieu na divisão dos Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - seccionou o absolutismo (o poder total), fragmentando-o na presunção de enfraquecê-lo. A Ideologia em maçónica – é o padrão político que induz visões normativas à vida política. No III Milénio deverá ser recriado o Estado Maçónico Democrático. O princípio da democracia é o livre arbítrio e a constante mudança de forças no poder. Devemos ter um aspecto REVOLUCIONÁRIO de ideologias maçónicas para criar a SOCIEDADE MAÇÓNICA DEMOCRÁTICA. A independência dos Poderes constituídos, criando a Assembleia Legislativa, nos moldes já empregados, com sucesso, por várias Potências no Mundo, além de também manter um Poder Judiciário em todas as suas particularidades e independência. O Estado Maçónico é um serviço, um instrumento, e um meio para alcançar o Pleno Maçónico. A parte está no todo e o todo está na parte - o MAÇON. Ir. Heinz Roland JAKOBI, médico e escritor, M.I., 33° R.E.A.A., Past-Grão Mestre Adjunto, Académico da Academia de Letras de Rondônia ACLER, da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias, da Academia Pan-americana Maçônica e da Academia Maçônica de Letras de Randónia AMLER. Livros Publicados: Médicos: O Parto na água - Cornellia Enning, Ed. Manole; Telemedicina: uma nova perspectiva para a saúde de Rondônia; Maçónicos "Como Gerenciar uma Loja Maçónica" "Compendio Maçónico - Graus Simbólicos" Volumes 1, 2 e 3 da Editora "A Trolha".

terça-feira, 2 de junho de 2009

A PIRATARIA NOS MARES DA SOMÁLIA

A história diz-nos que há sempre duas versões a considerar! Quem estará certo sobre este assunto? Na verdade nunca há apenas um lado para analisar. De novo, tudo se passa na costa oriental da África, nos mares do Índico, onde também nós, portugueses, já tivemos o nosso tráfico. O artigo foi escrito por um jornalista do The Independent, Johann Hari, e publicado no dia 15 de Abril. Quanto ao Marcus Rediker é um conhecido historiador americano, originário do Kentucky, e actual director do departamento de história da Universidade de Pittsburg. Ele é bastante conhecido, e tido por um dos maiores conhecedores da Pirataria e do Atlântico. Vários livros dele foram traduzidos em diferentes línguas, inclusive em português. Embora editado em inglês, também tem sido publicado em francês : (2005) L'Hydre aux mille têtes. Une histoire de l'Atlantique révolutionnaire, Paris, Éditions Amsterdam e (2008) Pirates de tous les pays. L'âge d'or de la piraterie atlantique, Paris, ÉditionLibertalia entre outros. Estão-nos mentindo sobre os piratas. Quem imaginaria que em 2009, os governos do mundo declarariam uma nova Guerra aos Piratas? No instante em que você lê esse artigo, a Marinha Real Inglesa - e navios de mais 12 nações, dos EUA à China - navega rumo aos mares da Somália, para capturar homens que ainda vemos como vilões de pantomima, com papagaio no ombro. Mais algumas horas e estarão bombardeando navios e, em seguida, perseguirão os piratas em terra, na terra de um dos países mais miseráveis do planeta. Por trás dessa estranha história de fantasia, há um escândalo muito real e jamais contado. Os miseráveis que os governos "ocidentais" estão rotulando como "uma das maiores ameaças do nosso tempo" têm uma história extraordinária a contar - e, se não têm toda a razão, têm pelo menos muita razão. Os piratas jamais foram exactamente o que pensamos que fossem. Na "era de ouro dos piratas" - de 1650 a 1730 - o governo britânico criou, como recurso de propaganda, a imagem do pirata selvagem, sem propósito, o Barba Azul que ainda sobrevive. Muita gente sempre soube disso e muitos sempre suspeitaram da farsa: afinal, os piratas foram muitas vezes salvos das galés, nos braços de multidões que os defendiam e apoiavam. Porquê? O que os pobres sabiam, que nunca soubemos? O que viam, que nós não vemos? Em seu livro Villans Of All Nations, o historiador Marcus Rediker começa a revelar segredos muito importantes. Se você fosse mercador ou marinheiro empregado nos navios mercantes naqueles dias - se vivesse nas docas do East End de Londres, se fosse jovem e vivesse faminto - você fatalmente acabaria embarcado num inferno flutuante, de grandes velas. Teria de trabalhar sem descanso, sempre faminto e sem dormir. E, se rebelasse, lá estavam o todo-poderoso comandante e seu chicote [ing. the Cat O' Nine Tails, lit. "o Gato de nove rabos"]. Se você insistisse, era a prancha e os tubarões. E ao final de meses ou anos dessa vida, seu salário quase sempre lhe era roubado. Os piratas foram os primeiros que se rebelaram contra esse mundo. Amotinavam-se nos navios e acabaram por criar um modo diferente de trabalhar nos mares do mundo. com os motins, conseguiam apropriar-se dos navios; depois, os piratas elegiam seus capitães e comandantes, e todas as decisões eram tomadas colectivamente; e aboliram a tortura. Os butins eram partilhados entre todos, solução que, nas palavras, foi "um dos planos mais igualitários para distribuição de recursos que havia em todo o mundo, no século 18". Acolhiam a bordo, como iguais, muitos escravos africanos foragidos. Os piratas mostraram "muito claramente - e muito subversivamente - que os navios não precisavam ser comandados com opressão e brutalidade, como fazia a Marinha Real Inglesa." Por isso eram vistos como heróis românticos, embora sempre fossem ladrões improdutivos. As palavras de um pirata cuja voz perde-se no tempo, um jovem inglês chamado William Scott, volta a ecoar hoje, nessa pirataria new age que está em todas as televisões e jornais do planeta. Pouco antes de ser enforcado em Charleston, Carolina do Sul, Scott disse: " O que fiz, fiz para não morrer. Não encontrei outra saída, além da pirataria, para sobreviver". O governo da Somália entrou em colapso em 1991. Nove milhões de somalianos passam fome desde então. E todos e tudo o que há de pior no mundo ocidental rapidamente viu, nessa desgraça, a oportunidade para assaltar o país e roubar de lá o que houvesse. Ao mesmo tempo, viram nos mares da Somália o local ideal onde jogar todo o lixo nuclear do planeta. Exactamente isso: lixo atómico. Mal o governo se desfez (e os ricos partiram), começaram a aparecer misteriosos navios europeus no litoral da Somália, que jogavam ao mar contentores e barris enormes. A população do litoral começou a adoecer. No começo, erupções de pele, náuseas e bebés malformados. Então, com o tsunami de 2005, centenas de barris enferrujados e com vazamentos apareceram em diferentes pontos do litoral. Muita gente apresentou sintomas de contaminação por radiação e houve 300 mortes. Quem conta é Ahmedou Ould-Abdallah, enviado da ONU à Somália: "Alguém está jogando lixo atómico no litoral da Somália. E chumbo e metais pesados, cádmio, mercúrio, encontram-se praticamente todos." Parte do que se pode rastrear leva directamente a hospitais e indústrias europeias que, ao que tudo indica, entrega os resíduos tóxicos à Máfia, que se encarrega de "descarrega-los" e cobra barato. Quando perguntei a Ould-Abdallah o que os governos europeus estariam fazendo para combater esse "negócio", ele suspirou: "Nada. Não há nem descontaminação, nem compensação nem prevenção". Ao mesmo tempo, outros navios europeus vivem de pilhar os mares da Somália, atacando uma das suas principais riquezas: pescado. A Europa já destruiu seus stocks naturais de pescado pela super-exploração e, agora está super-explorando os mares da Somália. A cada ano, saem de lá mais de 300 milhões de Atum, camarão e lagosta; são roubados anualmente, por pesqueiros ilegais. Os pescadores locais tradicionais passam fome. Mohammed Hussein, pescador que vive em Marka, cidade a 100 Kilómetros ao sul de Mogadishu, declarou à Agência Reuters: "Se nada for feito, acabarão com todo o pescado de todo o litoral da Somália". Esse é o contexto do qual nasceram os "piratas" somalianos. São pescadores somalianos, que capturam barcos, como tentativa de assustar e dissuadir os grandes pesqueiros; ou, pelo menos como meio de extrair deles alguma espécie de compensação. Os somalianos chamam-se "Guarda Costeira Voluntária da Somália".. A maioria dos somalianos os conhecem sob essa designação. [Matéria importante sobre isso, em The Armada is not a solution".] Pesquisa divulgada pelo site somaliano independente WardheerNews informa que 70% dos somalianos aprovam firmemente a pirataria como forma de defesa nacional". Claro que nada justifica a prática de fazer reféns. Claro, também, que há gangsters misturados nessa luta - por exemplo, os que assaltaram os carregamentos de comida do World Food Programme. Mas em entrevista por telefone, um dos líderes dos piratas, Segule Ali disse: "Não somos bandidos do mar. Bandidos do mar são os pesqueiros clandestinos que saqueiam nosso peixe." William Scott entenderia perfeitamente. Porque os europeus supõem que os somalianos deveriam deixar-se matar de fome passivamente pelas praias, afogados no lixo tóxico europeu, e assistir passivamente os pesqueiros europeus (entre outros) que pescam o peixe que, depois, os europeus comem elegantemente nos restaurantes de Londres, Paris ou Roma? A Europa nada fez, por muito tempo. Mas quando alguns pescadores reagiram e intrometeram-se no caminho pelo qual passa 20% do petróleo do mundo... imediatamente a Europa despachou para lá os seus navios de guerra. A história da guerra contra a pirataria em 2009 está muito mais claramente narrada por outro pirata, que viveu e morreu no século 4 aC. Foi preso e levado à presença de Alexandre, o Grande, que lhe perguntou "o que pretendia, fazendo-se de senhor dos mares." O pirata riu e respondeu: "O mesmo que você, fazendo-se senhor das terras; mas, porque meu navio é pequeno, sou chamado ladrão; e você, que comanda uma grande frota, é chamado de imperador. "Hoje, outra vez, a grande frota europeia lança-se ao mar, rumo à Somália - mas... quem é o ladrão?