terça-feira, 9 de junho de 2009

O MITO SEBASTIANISTA

O desastre de Alcácer Quibir {El-Ksar-el-Kibir} constitui uma das mais negras páginas da História de Portugal. Estamos em crer, que não obstante, passados que são, mais de quatro séculos desse acontecimento, Portugal ainda não se recompôs do mesmo. Continua um país órfão. O mito sebastianista continua presente no inconsciente colectivo. Talvez ninguém o tivesse retractado tão bem até hoje, como Fernando Pessoa. Em tempos de crise, os portugueses continuam a acalentar a vaga esperança que algo ou alguém venha «numa manhã de nevoeiro» salvá-los da desgraça. O sentimento de orfandade ciclicamente assola os portugueses, até que um qualquer pretenso salvador assuma com mão de ferro os destinos da governança do reino. Só no século XX ele foi um Sidónio Pais, um Salazar, vários {os capitães de Abril}, um Sá Carneiro e um Cavaco Silva. Portugal continua a ser um reino sem rei no inconsciente colectivo do seu povo. O presidente da República não chega para preencher o vazio de um soberano, de um pai da pátria, de um paizinho. Mário Soares, enquanto presidente, quase chegou a preencher esse vazio, só não o alcançando, dada a limitação constitucional de poderes. A batalha de Alcácer Quibir mobilizou pela parte portuguesa a nata da aristocracia, o melhor da sua juventude e avultadas somas de capitais, não obstante o exército se encontrar francamente em mau estado, quer dem termos de disciplina, quer em organização. Para além das forças portuguesas, existiam também, mercenários espanhóis, italianos e alemães. A empresa teve o «empurrão» do papa Gregório XIII que promulgou uma Bula a favor dessa expedição. Em abono da verdade se refira, no entanto, que o rei Filipe II de Espanha enviou a D. Sebastião uma embaixada chefiada pelo Duque de Medinaceli a fim de o dissuadir dos seus intentos de passar ao Norte de África. Perto de Alcácer Quibir, as forças portuguesas, compostas de 15000 infantes, 1500 cavaleiros, para além de algumas centenas de criados, mulheres, escravos, etc., para além de uns quantos partidários de Mulay Muhammad, foram destroçados pelo exército do sultão Mulay ‘Abd al-Malik, composto por 8000 infantes e 41000 cavaleiros, para além das tropas regulares. Com D. Sebastião pereceu a nata da aristocracia e do exército do País, num total aproximado de 7000 homens, para além dos milhares de feridos e prisioneiros, muitos deles remidos ao longo dos anos pelos seus familiares, a troco de avultados cabedais, que levou à ruína poderosas famílias. Com a morte deste soberano, estava aberta a porta para a União Ibérica, não obstante a aclamação régia do Cardeal D. Henrique, com sessenta e seis anos de idade e uma saúde débil. Quando da sua morte, em 31 de Janeiro de 1580, tuberculoso, deixa o reino sem sucessor. Assim, D. António, Prior do Crato, assume-se como o candidato natural, tendo o apoio de grande parte das massas populares e, é aclamado rei em Santarém. Como tantos outros, houvera ficado prisioneiro na batalha de Alcácer Quibir, tendo no entanto, obtido depressa o resgate. O duque de Alba e as suas tropas invadem o País por ordem de Filipe II, mais se diria um tranquilo passeio, tal a praticamente nula resistência encontrada, à excepção da movida por D. António, derrotado na ribeira de Alcântara, junto com o seu improvisado exército de sete a oito mil homens. Escapou e fugiu para França onde foi reconhecido como de iure rei de Portugal, tendo continuado a luta contra os espanhóis com o auxílio da Inglaterra e da França. Teve como seu último baluarte, a Ilha Terceira, que se rendeu a Filipe II em 1583, aclamado que tinha sido nas Cortes de Tomar em 1581 rei de Portugal com o título de Filipe I. Só no dia primeiro de Dezembro de 1640, O País retomaria de novo a sua independência. Pedro Manuel Pereira

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