quarta-feira, 28 de setembro de 2011

MEDITEM, CIDADÃOS DA EUROPA COMUNITÁRIA

«UM BOM PASTOR DEVE TOSQUIAR AS SUAS OVELHAS,MAS NÃO ESFOLÁ-LAS»


Tiberius Claudius Nero Cæsar (16 de novembro de 42 a.C. – 16 de março de 37 d.C.)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

REALIDADE PREMONITÓRIA

Sem saudades deste pedaço de terra governado a dias e ao sabor das marés, tive de regressar a ela duas semanas passadas. Para mal dos meus pecados. Sem dó nem piedade.
Creia amigo leitor, que o chamado «país real» com que os nossos afamados profissionais da política emprenham os seus discursos e se masturbam uns aos outros, encontra-se decrépito. Elas são as estradas principais, secundárias e municipais, as ruas, becos e vielas urbanas esventradas, onde torcemos os pés, as pernas e estoiramos as jantes e os amortecedores dos carros. Experimentem circular por exemplo, na cidade a que preside o presidente da Associação Nacional de Municípios - Viseu - ou circular entre cidades, em estradas nacionais e municipais, no Minho e outras regiões. Para estas vias, ideais - e bucólicos - serão os velhos carros de bois, acompanhados pela melopeia do chiar das suas rodas.
Eles são os prédios a cair de podres, entaipados, encardidos, desde que se entra numa localidade até que dela se saia. Os centros das cidades, das vilas, constituem verdadeiros cemitérios de imóveis, pasto de ratazanas e outros animais sem eira nem beira. Sobretudo, deles emana invariavelmente, um fedor a mijo de gato requentado, capaz de impressionar até as narinas dos profissionais da política, sempre tão «preocupados» com a proclamada e exclamada - por eles - sociedade civil. A propósito: será que a razão dessa «classe profissional» regurgitar a miúdo nos seus bestiários discursos e intervenções associadas a frase «sociedade civil», é para se fazer destrinça da «sociedade dos corruptos»?; da «sociedade da cagalhota»?; da «sociedade dos políticos»?; da «sociedade dos medíocres»?... - Afinal quantas sociedades existem em Portugal...
De uma ponta à outra do país, ladeiam as denominadas «estradas» pontilhando a paisagem, imensas naves (fábricas), quais arcas de Noé, que antes produziam e empregavam centenas, milhares de trabalhadores. Encontram-se nos arrabaldes das localidades, das vilas, das cidades, alinhadas umas ao lado das outras às centenas. Todos os dias encerram mais umas dezenas... - Enfim, por estas terras das quais Cristo perdeu o mapa e a que alguns chamam de «cús de Judas», com especial incidência de Lisboa para cima, desorbitadas, obliteradas, como se milhares de obuses tivessem sido desviados no seu trajecto desde o Médio Oriente, Afeganistão e locais onde decorrem conflitos bélicos, para Portugal.
O lixo e a imundície, proliferam por todo o lado, como se fizessem parte integrante da paisagem. Acontece, porém, que ainda há meia dúzia de anos - para não me referir a décadas atrás - este cenário que venho descrevendo e que corresponde a um pálida imagem do imaginável por quem não percorra o país de uma ponta à outra, era impensável.
Pergunto, inocente que sou e ignorante que continuo a ser: onde foram parar os milhões que tem entrado em Portugal desde a sua adesão à Comunidade Europeia?...
Será que foi gasto todo nas auto-estradas?...
Este ano caí na asneira de fazer aquilo que há mais de uma meia dúzia de anos não fazia, ou seja, aproveitar as férias para, em pouco mais de uma semana, dar a volta ao país. De uma ponta à outra, tirando o Algarve, onde vivo todo ano por mor dos meus pecados, parafraseando Fernão Mendes Pinto.
Salvei alguma da minha sanidade mental quando a uma dada altura disse à malta da nau: - Vamos mas é para Espanha, que Portugal já foi!!!. Antes «o mau vento e o mau casamento», que diziam os antigos virem do país de «nuestros hermanos». Salvei, algum tempero cognitivo. Não consegui salvar, alguns episódios de boa disposição, tolerância e esperança que ainda me restavam no arquivo da memória, a propósito deste país que se esboroa a passo acelerado.
Sem remissão.


Pedro Manuel Pereira
NOTA

Escrito em 2009.

UM POVO ACARNEIRADO PELO MEDO

«…90% da população portuguesa vive acarneirada pelo Medo. O medo de perder a liberdade ou de perder o pão, o medo de comprometer o futuro dos filhos ou de ser referenciado pela polícia. E com medo não reage, não pensa, não obedece aos ditames da consciência, nem sequer se furta às manifestações que lhe exigem como condição de segurança individual(…)Uma censura montada para decapitar valores, encobrir escândalos e defender a intangibilidade dos governantes(…)um Exército com a sua organização moral desmantelada por perseguições e favores, amputado dos melhores valores e quase reduzido a tropa cinzenta de ocupação; finalmente, o Medo, a grande instituição do sistema, aprisionando todos os espíritos, esmagando as almas, calando os próprios queixumes da fome e da miséria. E sobre este panorama, pairando a grande altura, também como instituição personificada, a figura intangível do Chefe – o nosso salvador, o maior de toda a História, o homem da última palavra, depositário de todas as verdades e de todos os poderes…».

In Crónica de Horas Vazias, Henrique Galvão *, Livraria Popular Francisco Franco, Lisboa, s/d. (escrito em 1952 nas prisões de Caxias e Aljube).

* O Capitão Henrique Carlos Mata Galvão nasceu no Barreiro em 4 de Fevereiro de 1895 e faleceu exilado em S. Paulo – Brasil, em 25 de Junho de 1970. Participou na instauração da ditadura militar em 28 de Maio de 1926, que abriu as portas ao Estado Novo, regime «inventado» por Salazar. Foi Inspector Colonial, Director da Emissora Nacional, Deputado e um brilhante escritor, hoje, injustamente esquecido, tendo deixado uma vasta bibliografia publicada, desde relatos de viagens a romances e outros. Inconformado com o rumo que os acontecimentos políticos haviam tomado após Salazar se agarrar ao poder com unhas e dentes (mais unhas que dentes…); contra a corrupção e a venalidade dos dirigentes do aparelho do Estado, desmandos a que o Chefe – Salazar, cognominado: «o botas» - fazia «vista grossa» e, sobretudo, depois que Henrique Galvão os denunciou quer aos seus superiores, quer em escritos publicados em jornais. Muito embora fosse um fervoroso católico e anticomunista, de nada lhe valeu o seu currículo passado, como militar e como político, quando com outras personalidades descontentes com o regime, foi preso, como se de um malfeitor se tratasse, bem assim como os restantes indivíduos que com ele se encontravam na altura, pelo facto de terem constituído uma organização cívica denominada O.C.N. - Organização Cívica Nacional, nos termos da Lei e da Constituição. Tinha essa embrionária associação as suas instalações alcandoradas num modesto gabinete de um quarto andar da Rua da Assunção em Lisboa. Mais tarde, tendo fugido sobre prisão, do Hospital de Santa Maria, exilou-se na Venezuela. Em Janeiro de 1961, juntamente com outros exilados políticos portugueses, tomou de assalto o paquete Santa Maria, em pleno alto mar, depois de uma escala na sua viagem para a América Latina. Este Incidente, na época, mobilizou a atenção dos portugueses, bem assim como do resto do Mundo para a feroz ditadura de Salazar, tendo este acontecimento precedido, ou antes, introduzido a prática, que anos mais tarde viria a ser difundida internacionalmente, de sequestrar navios e aviões com fins políticos. Nesse ano, teve início a guerra colonial em Angola, que alastrou posteriormente a Moçambique e Guiné, totalizando treze anos de luta. A tomada de assalto do Santa Maria marcou o início do fim do império português.


Pedro Manuel Pereira

terça-feira, 13 de setembro de 2011

PÁTRIA MADRASTA

Um dia, um grande escritor português do qual não me ocorre o nome, em finais do século XIX dizia que se sentia sufocar em Portugal.
O mesmo me vem acontecendo desde há uns tempos para cá. E a tendência é para se agravar.
Sem constituir metáfora, digo-vos, francamente, que tenho dias em que sinto claustrofobia. Estranho? - Dizem-me os especialistas que é sintoma de pânico.
Uma destas semanas, após dois meses sem daqui sair, entrei mesmo em ruptura. Tive de fugir. Quando cheguei a meio do Alentejo a caminho de Lisboa, a falta de ar começou a passar-me. Duas horas após chegar a Lisboa, abateu-se sobre mim uma tristeza tão profunda como se o céu me fosse cair em cima. Objectivamente sem saber porquê.
O mal não está no Algarve, nem em Lisboa, nem em qualquer outro sítio deste país. O mal encontra-se entranhado no estado de sítio a que a nação chegou. Nas paredes, nas casas, nas instituições, nos portugueses por maioria dos quais existe este governo, que não é mais que uma sua emanação.
Não nos esqueçamos que a maioria deste povo é boçal, manhoso, espertalhão, corrupto, porcalhoto, ladrãozeco, enfim: merdoso.
Essa história do «bom povo português» foi uma invenção salazarista, como tantas outras, estilo: «pobrezinho mas honrado», para legitimar uma ideologia criada à medida da sua vontade de aldeão fora do tempo e do modo.
Vejam bem que nunca gostei do que li alguma vez vertido da pena do António Barreto - o tal ministro da reforma agrária dos tempos do PREC - até agora.
Concordo plenamente com o que ele escreve agora sobre o estado de sítio a que chegou o país. Muito lúcido, sintético e certeiro. Pena é, que não seja mortífero para os visados.
Também o grande poeta Guerra Junqueiro disse em tempos que: «O português tem em pouca conta a sua liberdade».
É uma pecha antiga. A modos que uma fatalidade, como bem se expressou outro poeta, Mário de Sá Carneiro quando escreveu: «Ó meus amigos, que fatalidade é nascer em Portugal!».
Creiam, que tempos muito maus vêm aí. São os eternos ciclos da História. Caminhamos a passos largos para uma ditadura e não me venham dizer que isso é impossível de acontecer em Portugal, pelo facto de estarmos na Comunidade Europeia.
A revolução de 1974 deu-se com o país enfeudado à NATO, à OTAN e outros organismos internacionais que tais e nem «natos» ou quejandas organizações cuidaram da queda do velho regime português.
Por outro lado, é bom recordar que a primeira ditadura europeia do século XX, foi a do Major Sidónio Pais (1917-1918) - a República Nova - que teve os seus seguidores nessa figura e no seu estilo de governação cenografada: - Primeiro Benito Mussolini, que se confessou admirador de Sidónio Pais e depois Oliveira Salazar - e o seu Estado Novo -, Primo de Rivera, Adolf Hitler e por aí fora.Personagens das mais sinistras que a História pariu.
Ironicamente, Portugal tem sido um país vanguardista, só que, para o que de mais sinistro é concebível. Infelizmente.
Podem crer, que por este andar um destes dias serei forçado ao exílio. Que maior exílio que este não posso encontrar neste lindíssimo país feito pátria madrasta.


Pedro Manuel Pereira

CAGANDA GOVERNO ESTE !!!...

Lançadas as bases deste maravilhoso, benemérito e magnificente governo, que trás os portugueses preocupados, mas no fundo, bem lá no fundo do… felizes e contentes, este, inicia a grande tarefa política do nosso tempo, criando um sistema de governação sui generis, ou seja, tirar aos pobres para dar aos ricos. Maravilha da filosofia política e do direito constitucional que fará dele, na história política destes dias e dos que hão-de vir ad aeternum, um dos maiores fenómenos políticos de todos os tempos em todo o mundo. E não é, pelas assombrosas realizações práticas com que tanto nos engrandece e nos enche de vaidade [até nos apetece dizer, cagança] cá dentro e lá fora, sobre todos os pontos de vista. É, sobretudo, no ponto de vista das ideias, na razão pura, no domínio intelectual, porque é aí, de facto, que este governo se revela, quanto a nós, o melhor de todos a nível mundial, prevendo, com faculdades verdadeiramente divinatórias, à distância, os rumos da filosofia política e o mínimo indispensável à defesa do que resta ainda da civilização ocidental.
O grande drama político do nosso tempo consiste, como sabemos, no problema da conciliação da autoridade com a liberdade, mas nestas áreas, também o nosso Venerando governo provê, sem descanso, amor e devoção ao bem-estar dos portugueses, botando – ia dizer: cagando – impostos em profusão sobre os ombros das classes média e baixa.
Os portugueses têm de aprender o que é a disciplina. Prevê-se, que o próximo imposto conciliatório a sair seja a da utilização do isqueiro para acender o cigarrito. É imperativo que se retomem estas maravilhosas leis do falecido e visionário estadista lá das Beiras, como contribuição para a nova ordem nacional. Já agora e a talhe de foice, permitam-nos Vocências, governo da nação, uma sugestão contributiva para a «ordeirice» nacional, que o mesmo é dizer: «manter o povo dentro das baias, como convém». Decretem a imposição de todo o português usar um aparelho fácil de conceber, a colocar nas ventas, assim a modos que um «oxigenómetro», de forma a contabilizar o oxigénio que cada um consome, tal como um taxímetro. Em conformidade, cada cidadão passará a pagar o que é devido pelo maravilhoso ar português que respira, contribuindo para evitar o seu desperdício e ajudando a engordar os cofres do estado, para além de doar a sua quota-parte à «ordeirice» nacional.
Tem-se operado, de facto, com o actual governo, uma verdadeira Revolução Nacional, a que só podem comparar-se, na História pátria, as de 1383 e 1820, muito embora ambas elas lhe sejam inferiores. Do ponto de vista, portanto, deste executivo, é o Regime, o novo estado da nação, que nos une e identifica, havendo manifesta divergência, como aliás sucede no Pais inteiro, quanto às Instituições. Mas é óbvio, conforme deduzimos, que se todos os indivíduos, pessoalmente, são livres para escolherem, em filosofia política, as Instituições, com este fantástico governo, colectivamente, não têm esse problema, porque a sua missão é apoiar a criação de um Regime novo, que faz falta à malta e esta é a hora de o realizar e defender.

NOTA
Escrito em 2009, porém, premonitório, porque se aplica como uma luva ao atual governo.

Pedro Manuel Pereira

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

JUVENTUDE DE PERDIÇÃO ...

«O nosso mundo atingiu um estado crítico. Os filhos não escutam os seus pais. O fim do mundo não pode estar longe». (Sacerdote egípcio, 2000 a.C.)
«Esta juventude está podre desde o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Não serão nunca a juventude de outrora. Os de hoje não são capazes de manter a nossa cultura.» (Frase descoberta nas ruínas de uma olaria babilónica datada de 1000 a.C.)

«A juventude ama o luxo, é mal-educada, zomba da autoridade e não tem nenhuma espécie de respeito pelos velhos. As crianças de hoje são tiranas. Não se levantam quando um velho entra numa sala, respondem a seus pais e são simplesmente más». (Sócrates, 470-399 a.C.)

«Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje toma o mando amanhã, porque esta juventude é insuportável, sem moderação, simplesmente terrível». (Hesíodo, 720 a.C.)

Quanto aos jovens, é melhor nem falar. Onde já vai o tempo em que era visto como um sacrilégio um jovem não se levantar perante um idoso? Em resumo, devoção, correcção, rectidão, palavra de honra, respeito, valor, civismo, património cultural, etc. Tudo isso desapareceu. (...) Já não há em Roma mais lugar para um bravo Romano.» (Juvenal, séc. II d.C.)