Um dia, um grande escritor português do qual não me ocorre o nome, em finais do século XIX dizia que se sentia sufocar em Portugal.
O mesmo me vem acontecendo desde há uns tempos para cá. E a tendência é para se agravar.
Sem constituir metáfora, digo-vos, francamente, que tenho dias em que sinto claustrofobia. Estranho? - Dizem-me os especialistas que é sintoma de pânico.
Uma destas semanas, após dois meses sem daqui sair, entrei mesmo em ruptura. Tive de fugir. Quando cheguei a meio do Alentejo a caminho de Lisboa, a falta de ar começou a passar-me. Duas horas após chegar a Lisboa, abateu-se sobre mim uma tristeza tão profunda como se o céu me fosse cair em cima. Objectivamente sem saber porquê.
O mal não está no Algarve, nem em Lisboa, nem em qualquer outro sítio deste país. O mal encontra-se entranhado no estado de sítio a que a nação chegou. Nas paredes, nas casas, nas instituições, nos portugueses por maioria dos quais existe este governo, que não é mais que uma sua emanação.
Não nos esqueçamos que a maioria deste povo é boçal, manhoso, espertalhão, corrupto, porcalhoto, ladrãozeco, enfim: merdoso.
Essa história do «bom povo português» foi uma invenção salazarista, como tantas outras, estilo: «pobrezinho mas honrado», para legitimar uma ideologia criada à medida da sua vontade de aldeão fora do tempo e do modo.
Vejam bem que nunca gostei do que li alguma vez vertido da pena do António Barreto - o tal ministro da reforma agrária dos tempos do PREC - até agora.
Concordo plenamente com o que ele escreve agora sobre o estado de sítio a que chegou o país. Muito lúcido, sintético e certeiro. Pena é, que não seja mortífero para os visados.
Também o grande poeta Guerra Junqueiro disse em tempos que: «O português tem em pouca conta a sua liberdade».
É uma pecha antiga. A modos que uma fatalidade, como bem se expressou outro poeta, Mário de Sá Carneiro quando escreveu: «Ó meus amigos, que fatalidade é nascer em Portugal!».
Creiam, que tempos muito maus vêm aí. São os eternos ciclos da História. Caminhamos a passos largos para uma ditadura e não me venham dizer que isso é impossível de acontecer em Portugal, pelo facto de estarmos na Comunidade Europeia.
A revolução de 1974 deu-se com o país enfeudado à NATO, à OTAN e outros organismos internacionais que tais e nem «natos» ou quejandas organizações cuidaram da queda do velho regime português.
Por outro lado, é bom recordar que a primeira ditadura europeia do século XX, foi a do Major Sidónio Pais (1917-1918) - a República Nova - que teve os seus seguidores nessa figura e no seu estilo de governação cenografada: - Primeiro Benito Mussolini, que se confessou admirador de Sidónio Pais e depois Oliveira Salazar - e o seu Estado Novo -, Primo de Rivera, Adolf Hitler e por aí fora.Personagens das mais sinistras que a História pariu.
Ironicamente, Portugal tem sido um país vanguardista, só que, para o que de mais sinistro é concebível. Infelizmente.
Podem crer, que por este andar um destes dias serei forçado ao exílio. Que maior exílio que este não posso encontrar neste lindíssimo país feito pátria madrasta.
Pedro Manuel Pereira
Amigo Grande:
ResponderEliminarGrande é o teu estilo, grande é o teu pensamento e desértica no tamanho, oásica na vis fecunda, o tua sensibilidade!
Também sou estrangeiro aqui. Mais agora, mas já há muito; desde que voltei do exílio no dia 9 de Dezembro de 1974. Estou justamente agora a descrever esse dia nas minha "Memórias".
Grande Abraço do teu Amigo
Raúl.
ERRATA: a tua sensibilidade; nas minhas "Memórias".
ResponderEliminarParabéns pelos escritos que estão neste blogue, e com os quais me identifico, e o sufoco que fala sinto principalmente quando se aponta estes defeitos que estão presentes em quase todos à nossa volta, é sufocante, desanimador e deixa-nos sem restea de esperança de ter um futuro limpo, sem esquemas, vigarices e chico-espertices. Pena os lúcidos não se juntarem de um modo forte suficiente para também propagandearem a sua maneira de ver Portugal e o Mundo.
ResponderEliminarObrigado pelo Blog.
Bruno Aguiar