quarta-feira, 14 de março de 2012

O NEOLIBERALISMO NO SEU ESPLENDOR

Por Pedro Manuel Pereira

Não existe solução económica e social para a atual conjuntura, enquanto não houver uma justa distribuição da riqueza e de transparência, lealdade e honestidade nas relações, entre os cidadãos e os sectores produtivos, e enquanto existir um grupo de indivíduos denominado no seu conjunto de governo, que deveria ser o regulador entre ambos e toma partido pelos donos da produção.
Ao invés de governar, essa gentinha tem vindo a agir como uma verdadeira comissão liquidatária da nação, cometendo verdadeiras tropelias contra o povo, numa versão mais sombria que a comissão liquidatária que substituíram.
Tem esta gente presente como uma das suas máximas: - «O ato de governar não é mais do que uma forma de não perder o controlo da população».
Não é isso que queremos. Não é de gente dessa que o país necessita.
Portugal é um país em pré-falência económica e social e a Europa é um continente à beira da rutura e da miséria.
É inegável que os corruptos e os criminosos, encontram menos humilhações e mais benefícios nas suas actividades ilícitas do que exercendo actividades honestas aos preços atuais do mercado laboral, por isso, pululam cada vez mais em cada esquina, facilitada que têm a sua atividade, através da livre circulação entre fronteiras.
Decorrentes deste facto, a insegurança, o medo e a perda são realidades do quotidiano. Vive-se em estado de pré-guerra civil.
Entretanto, a ira dos reformados – não obstante as suas idades – irá começar a sentir-se na prática, de uma forma ou de outra nos próximos tempos, face aos cortes quase dissimulados nos seus rendimentos mensais, entre outras malfeitorias.
Por outro lado, as hordas de desempregados, quer os das estatísticas oficiais, quer os que não se encontram inscritos nas estatísticas - e que serão outros tantos - estão a criar legiões de revoltados, verdadeiras bombas relógio a detonar quando menos se espera, não obstante alguma descompressão que – ainda - se verifica, dado o êxodo emigratório, enquanto os que tem ocupação laboral remunerada vêm todos os dias aumentar a carga fiscal sobre o fruto da sua atividade, a par dos efetivos cortes salarias.
Generalizado a todos: - O galopante e diariamente progressivo custo de vida.
Face a este sucinto cenário, o sentimento de injustiça social, de ira e de revolta aumenta a cada dia que passa de forma exponencial.
A história de Portugal é feita de colonizações, de migrações, de emigrações, de guerras, de guerrilhas, de exílios e da destruição do enraizamento e do orgulho pátrio. É a história desta soma que faz de nós – quase - estrangeiros em Portugal e portugueses no estrangeiro.
Fomos obliterados na nossa língua pelo ensino abastardado e sinistro, pelas músicas avessas às nossas raízes culturais, pelos big brothers e outro lixo televisivos, pela pornografia de massas, pelos políticos com as suas gestões venais.
Acresce o trabalho incaracterístico, desumano e o controlo levado a cabo pelo poder do Estado que ensina, disciplina e regista todos os movimentos dos cidadãos através dos meios informáticos de que dispõe, para que nada mais reste senão a cidadania portuguesa (em que medida?) impressa num cartão do cidadão com chip eletrónico, reduzindo-o a um mero número descartável.
O trabalho de desumanização social foi encetado em Portugal há pouco mais de um século, com o surto da industrialização que pelo seu processo evolutivo desenraizou as pessoas dos seus lugares ancestrais, rompendo-se dessa forma as familiaridades de bairro, de aldeia, das ligações aos lugares, de ocupação laboral, de parentesco, das formas de fazer e de falar e do falar.
Estamos na reta final. Vivemos a incongruência de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho.
A evidência da ruína económica e social que vivemos e que sentimos arrepia-nos só pela ideia antecipada do que aí vem.
Uma só alternativa encontrou a comissão liquidatária para fazer face ao apocalipse em marcha: - Decrescer; consumir e produzir menos, transformando os cidadãos em náufragos que esbracejando tentam sobreviver.
Procura-se – por desespero - regressar às velhas fórmulas de economia doméstica dos nossos pais, dos nossos avós, à idade de ouro da pequena burguesia dos tempos salazarentos: - «No poupar é que está o ganho», máxima apologética de eleição do ditador.
Para quem ainda não reparou: atente que se encontra em marcha um movimento de desmantelamento do atual modelo civilizacional.
Eis o neoliberalismo no seu esplendor.