quinta-feira, 20 de junho de 2013

PORTUGAL – IDENTIDADE E FUTURO



A identidade portuguesa encontra-se desde há séculos em latência, numa forma de vida em perpétua busca da sua individualidade. Fernando Pessoa soube explicá-lo muito bem na sua obra: Mensagem. O português é um militante da sua impossibilidade. Ser português constituiu, no fundo, uma forma de heroísmo. 
Num Ocidente laico e hedonista, a sociedade portuguesa tem dificuldade em aceitar o estranho sacrifício que conserva a identidade lusitana. É aqui que se encontra como que um paradoxo: um dos problemas de Portugal no último quartel do século XX foi o seu «excesso de felicidade», resultante da restauração da democracia. 
A última invasão estrangeira ocorreu em 1807 e a última guerra civil terminou em 1834, com um país mais dividido que nunca entre liberais e conservadores (estes últimos derrotados) após dois anos de guerra fratricida que deixou o país exaurido em termos económicos e demográficos. Para além destes acontecimentos marcantes, todas as outras grandes catástrofes que assolaram o país em séculos passados, constituem para os portugueses como eventos ocorridos entre o sonho e a ficção, quando não acontece, como entre a maior parte dos cidadãos, um desconhecimento total desses eventos. Após a instauração da ditadura salazarista, Portugal foi um país da «5ª dimensão», uma vez que esteve «adormecido». 
Por tal facto, hoje, passadas mais de três décadas da restauração da democracia, o país continua sem saber para que lado se voltar em termos de estratégia de sustentação económica. Não sabe como despertar da letargia a que se votou – e foi votado - durante décadas. No entanto, este problema, que parecia ser especificamente português, tem-se revelado, com a crise económica que estamos a viver, que afinal, actualmente, é comum a todo o mundo ocidental. 
Com o despoletar da fragilidade da economia global, Portugal sentiu primeiro os sintomas de uma crise que afinal é de todos. Efectivamente, a Península Ibérica constitui um lugar profético. Profética foi a nossa relação com o mundo árabe, a partir de 711: o anuncio da tensão que marca, a actualidade, as relações entre as nações ocidentais e o islão. Profética foi também a nossa expansão colonial: um bosquejo da actual globalização. 
Na estrada de saída que é o presente do Ocidente, Portugal sente-se, de alguma forma, no seu ambiente. O futuro que os ocidentais de uma forma geral não têm hoje é o futuro que Portugal sempre teve. Por tal facto, os portugueses tem a capacidade de inventar e de reinventar-se. Sem sombras de chauvinismo são, sem dúvida, uma das chaves do PORVIR.

P.M.P.

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