quinta-feira, 16 de abril de 2009
A REPÚBLICA DOS PINHEIROS
Foto: Amilcar dos Anjos
Situada no extremo ocidental do velho e civilizado continente, a República dos Pinheiros sofreu uma invasão epidémica de “nematódeos ou nemátodos (Nemathelminthes) também chamados de vermes cilíndricos considerados o grupo de metazoários mais abundante na biosfera, com estimativa de constituírem até 80% de todos os metazoários (Bongers, 1988 apud Boucher & Lambshead, 1995)”.
Perante esta invasão, o Pinheiro Chefe proibiu de imediato a divulgação do nome dos pinhais infectados. Começa, então, uma luta territorial entre os diversos pinhais conforme a cor partidária em que se situam.
Os “rosa”, pinhais do Pinheiro Chefe, acotovelam-se em redor da maioria e disparam em lutas aguerridas e quase fratricidas contra tudo e contra todos. Dominar os vermes cilíndricos passa a ser o lema de qualquer “rosa” que se orgulhe. O grande chefe premeia quem o servir e a palavra vai passando de pinhal em pinhal da maioritária corporação. Os Pinheiros Ministros com a respectiva governação dão ordens inequívocas para protecção do território. A cor “rosa” tem de vingar em todos os pinhais filiados. Os correligionários pinheiros serão protegidos desde a raiz até à cúpula. As pinhas jamais devem abrir. Esconder o pinhão a qualquer preço e em qualquer lugar! E ressurge explosivamente pelo país fora a expressão, agora rosa, “cerrar fileiras”. Os “rosa” têm lugares por todo o lado com muitas pinhas encimando milhares de pinheiros apostados em preservar os seus lugares na coutada do poder. A seiva que os alimenta não pode ser contaminada por qualquer irrelevante e “sã epidemia”.
Mas os pinhais “verdes” que rareiam nesta República vêem, então, chegada a hora da revolta. Não é que o Pinheiro Chefe orgulhoso, demagógico há muito que, utilizando com usura e sem pudor, quer na Assembleia dos Representantes da República, quer nos órgãos de Comunicação Social, os apelidava de apêndice dos pinhais “vermelhos” num discurso populista, termo hodierno que talvez pretenda designar os discursos dos políticos sem ideologia e sem real crédito pelo verdadeiro “populus”.
Protectores do ambiente e denunciadores das pragas que o assolam, os “verdes” partem ao ataque arrastando “os vermelhos” para o campo da batalha. Desmontar e desconstruir (na senda do Movimento Descontrucionista de Derrida) este ludíbrio “rosa” foi um esforço sagaz e conclusivo para estes ambientalistas. Ora, se a República está doente, frágil e vulnerável era devido à reiterada erosão provocada pela governação “rosa” que tem tido como objectivo principal alargar e aumentar o número de pinhais, castigando todos os pinheiros das cercanias alheias, invadindo-lhes os respectivos habitáculos independentemente das boas ou más condições em que germinavam. Era esta a questão: a maioria exterminava porque se apoiava na força e não na partilha do saber. E porque estava iminente uma nova época de cultivo, os pinhais “rosa” ficaram aterrorizados com a necessidade da alternância para a valorização e fortalecimento dos solos, solução demonstrada pela maior produtividade dos solos estrangeiros.
Mas como podiam os “rosa” perder terreno para outros pinhais, após todo este tempo de mandato de seiva única. Impunha-se que o Nemátodo ficasse bem restringido e silenciado. A doença nunca poderia ser “rosa”.
Os “verdes” já não se atemorizavam. Se nunca o medo os detivera, agora o silêncio fora definitivamente vencido. Era tempo de restaurar o Bom Ambiente, até porque uma mente só é sã se tiver um corpo são e não porque esteja só agregada a um só poder e aparentemente insano. E, assim, prosseguiram firmes e determinados na desmontagem do encoberto estratagema “rosa”.
Era importante dar à verdade a força que ela sempre encerra e para tal até bastava proceder a uma simples análise cromática dos emblemas partidários destes pinhais, possibilitando contextualizar e desmitificar esta desnudada e ardilosa barbárie. O verde era uma cor nobre, cantada e celebrada pela natureza. Ela simbolizava a Esperança, o Futuro, a Sanidade. O vermelho, a cor de Baco, dos Frutos, da Força, do Sol, da Pujança era e seria sempre um símbolo maior para qualquer pinheiro que preze as suas raízes. Ora o rosa nem sequer era cor, mas antes o resultado de uma mistura que por si só nada tinha de afirmação cromática. Fora vermelho mas sem o branco e a acromática mistura, o rosa não existia. Era a total ausência de cor ou a cor da ausência. Tinham esquecido e perdido os genes do seu património de origem. Eram agora restos e apenas sombra dos grandes pinheiros que se ergueram pela luta e defesa da terra-mãe, sonhada e desejada por e para todos.
Estava, pois, explicada geneticamente a prepotência dos “rosa” e a razão pela qual queriam apoderar-se das pinhas, dos pinheiros, dos pinhais e fazer da República um único pinhal sem cor, sem génio e à mercê de qualquer invasor bacteriano!
MJVS
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