domingo, 26 de abril de 2009

RETRATO SUMÁRIO DO PAÍS DE ABRIL

Sem saudades deste pedaço de terra governado a dias, tive de regressar a casa uns dias passados fora. Para mal dos meus pecados. Sem piedade. Creia amigo leitor, que o chamado «país real» com que os nossos afamados profissionais da política enchem os seus discursos, se encontra decrépito. Elas são as estradas principais, secundárias e municipais, as ruas, becos e vielas urbanas esventradas, onde torcemos os pés, as pernas e a alma. Estoiramos as jantes e os amortecedores dos carros. Experimentem circular por exemplo, na cidade a que preside o presidente da A.N.M.P. {Viseu}, ou circular entre cidades, em estradas nacionais e municipais, no Minho e outras regiões. Para estas vias, ideais {e bucólicos} serão os velhos carros de bois, acompanhados pelo melodioso chiar das suas rodas. Eles são os prédios a cair de podres, entaipados, encardidos, desde que se entra numa localidade até que dela se saia. Os centros das cidades, das vilas, constituem verdadeiros cemitérios de imóveis, pasto de ratazanas e outros animais sem eira nem beira. Sobretudo, deles emana invariavelmente, um fedor a mijo requentado de gato, capaz de impressionar até as mais sensivas narinas dos senhores políticos, sempre tão «preocupados» com a proclamada {por eles} sociedade civil. A propósito: será que a razão dessa «classe profissional» regurgitar a miúdo nos seus discursos e intervenções associadas, a frase «sociedade civil», é para se fazer destrinça da «sociedade dos corruptos»? Da «sociedade militar»? Da «sociedade dos medíocres»? Da «sociedade dos loucos»? Da «sociedade dos políticos»? Afinal quantas sociedades existem em Portugal?... De uma ponta à outra do país, ladeiam as chamadas estradas e pontilham a paisagem, imensas naves {fábricas}, quais arcas de Noé, que antes produziam e empregavam centenas, milhares de trabalhadores. Encontram-se nos arrabaldes das localidades, das vilas, das cidades, alinhadas umas ao lado das outras às centenas. Enfim, por estas terras das quais Cristo perdeu o mapa, com especial incidência de Lisboa para cima. Desorbitadas, obliteradas, como se milhares de obuses tivessem sido desviados no seu trajecto, do Médio Oriente para Portugal. O lixo, a imundície, proliferam por todo o lado, como se fizessem parte integrante da paisagem. Acontece, porém, que ainda há meia dúzia de anos {para não me referir mais atrás} este cenário que venho descrevendo e que corresponde a um pálida imagem do imaginável por quem não percorra o país de uma ponta à outra, era impensável. Pergunto, inocente que sou e ignorante que continuo a ser: onde foram parar os milhões de euros que tem entrado em Portugal desde a sua adesão à Comunidade Europeia? Será que foi gasto todo nas auto-estradas. Caí na asneira de fazer aquilo que há mais de uma meia dúzia de anos não fazia, ou seja, aproveitar uns dias de folga para dar a volta ao país. De uma ponta à outra, tirando o Algarve, onde vivo todo ano. Salvei alguma da minha sanidade mental quando a uma dada altura disse à malta da nau: - Vamos mas é para Espanha, que Portugal já foi!. Antes «o mau vento e o mau casamento», que diziam os antigos virem do país de «nuestros hermanos». Salvei também, algum tempero cognitivo. Consegui, igualmente, salvar alguns episódios de boa disposição, tolerância e esperança que ainda me restam a propósito deste país que se esboroa a passo acelerado. Sem remissão. P.M.P.

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