quarta-feira, 8 de abril de 2009

DO DESENVOLVIMENTO URBANO DA VILA DE ALVOR

DESENVOLVIMENTO URBANO DA VILA DE ALVOR A fixação de gentes na área desta localidade perde-se na origem dos tempos. Os registos históricos mais remotos são atestados através de vestígios de ocupação humana durante o Período Paleolítico. Através de vestígios arqueológicos tem sido possível ao longo dos anos encontrar pistas de outras civilizações, nomeadamente Celtas, Godos, Romanos e Árabes 1. Destes últimos, herdou esta povoação o seu topónimo, que se mantém até aos dias de hoje. Com a Reconquista cristã, o Alvor entra para a Coroa portuguesa, porém, deste facto só se encontra o primeiro registo no ano de 1300, quando o rei D. Dinis manda restaurar o castelo, que se encontrava bastante arruinado 2. Até ao século XVIII o povoado vai manter praticamente o traçado e as habitações herdadas da Reconquista cristã, ou seja, um traçado urbano tortuoso, constituído por becos e pequenas vielas estreitas, de piso calcetado. Porém, todo o sul de Portugal e neste caso esta vila, sofreram as consequências de três ruinosos terramotos {6 de Março de 1719; 27 de Dezembro de 1722 e 1 de Novembro de 1755}, sendo que este último, para além da destruição da Torre da Igreja Matriz, arruinou as Igrejas de D. João, S. Pedro, e S. Sebastião, destruiu parte do seu antigo castelo, e o maremoto que se lhe seguiu, submergiu as hortas e a ermida de Nª. Sr.ª da Ajuda, tendo ainda derrubado 27 casas de habitação, o que, alterou profundamente o traçado urbano desta vila 3. A consequência dessa catástrofe, mais visível nos dias de hoje, verifica-se pelo posicionamento da porta de entrada da Igreja Matriz, que dá para um descampado, a que o povo lhe chama de Vila Velha. Este facto resulta precisamente, da destruição da vila em 1755, «em que o mar entrou 667 metros pela terra dentro» 4, tendo a partir daí, sido empreendida a sua reconstrução no seguimento do lado esquerdo da referida Igreja. Em 1756, no ano seguinte ao terramoto, registava esta povoação 233 fogos e 916 habitantes. Trata-se do primeiro recenseamento fiável efectuado nesta localidade 5. Ao longo dos anos, as actividades económicas da vila, como a pesca, actividades derivadas desta actividade, agricultura, salinas, e algum comércio, condicionaram indubitavelmente a disposição da sua malha urbana. Povoação virada à Ria de Alvor, em alcantilado, quase como um anfiteatro, a vida da população foi desde sempre de forma fundamental, vocacionada para a actividade económica do rio e do mar. Factores não displicentes, que desde sempre condicionaram e de certa forma não permitiram uma evolução demográfica constante ao longo dos anos, encontram-se relacionados com ciclos epidémicos como a meningite e a tuberculose, e por outro lado, porque até aos anos 40 deste século a freguesia de Alvor era uma zona endémica no que reporta à malária ou sezões, que ceifavam dezenas de vidas todos os anos. A partir de meados de 1950, a forma desequilibrada como se processou o crescimento económico em Portugal, provocou graves assimetrias que se reflectiram numa dicotomia campo/cidade, urbano/rural, a que o Alvor não foi imune. Reflexo mais evidente deste facto, sobre o ponto de vista demográfico, verificou-se no afluxo de gente do campo para o litoral à procura de melhores condições de trabalho. Porém, tal não se reflectiu de forma importante em Alvor. Não obstante, a partir dos anos 60, a vila, tal como todo o Algarve, sofreu um forte abalo nas suas estruturas económicas, sociais e urbanas, por via de uma verdadeira «revolução turística» iniciada então, e que se mantém até aos dias de hoje. Saliente-se no entanto, que não houve entretanto alteração na sua malha urbana nem tão pouco um aumento significativo de habitações ou outras construções, de forma a alterar de forma radical o seu traçado. Em parte, porque a sede do concelho {Portimão} se encontra a seis quilómetros e oferece melhores condições ao nível das acessibilidades, oferta de serviços, melhores terrenos para a construção civil e sobretudo oferta de emprego. Todos estes factores conjugados reverteram negativamente para o Alvor, que de então para cá, tem visto o seu parque imobiliário a envelhecer, diríamos até, de forma decrépita. Face à sede do concelho, o núcleo principal de Alvor é um povoado típico que aparenta ter parado no tempo. Embora não muito fiável no que reporta aos séculos XVIII e XIX, não encontrámos outras fontes que nos possam confirmar estes números. Quanto à evolução do número de edifícios urbanos/população, para o século XX, encontram-se referidos nos censos nacionais, embora com graves lacunas, dado até 1970 surgirem enquadrados no total dos números do concelho de Portimão, de que esta freguesia faz parte. Conforme podemos verificar para os séculos XVIII e XIX o número de moradores por habitação não sofreu oscilações, isto é, manteve-se entre os 3,3 e 3,9 habitantes/casa, o que manifesta alguma estabilidade ou antes, estagnação na evolução demográfica e de construção urbana desta vila. Porém, no início do século XX, encontramos registada uma população residente de 3.014 pessoas, número inferior ao verificado dois anos antes (1898), o que pressupõe um pequeno decréscimo populacional, sem que, no entanto possamos estabelecer dados comparativos com o número de alojamentos uma vez que nos falta esse dado para 1900. Estamos porém em crer que, não tenha havido nenhum acréscimo substancial de habitações nesses dois anos. Assim, podemos pressupor que em 1900, o número de habitantes por moradia fosse de 2 pessoas. Para concluir, verificamos que entre os anos de 1970 e 1991, não se registou uma evolução demográfica significativa relativamente ao verificado no ano de 1900, observando-se que, o número de construções em novos espaços na área urbana desta vila para este período é mínimo, o que vem reforçar o que enunciámos no início deste capítulo, ou seja: o Alvor, neste momento regista um parque imobiliário urbano envelhecido, enquadrado numa malha urbana ancestral, a qual foi sujeita a pequenas alterações em parte, fruto das catástrofes naturais do século XVIII, em particular a verificada em 1755. Notas 1 – Oliveira, Ataíde, Monografia de Alvor, ed. facsimilada, 3ª ed.,Editora Algarve em Foco, Faro, 1993, pg.14 2 – Ibidem, pg.69 3 – “Relação Anónima do Terramoto de 1 de Novembro de 1755”, in Fontes Setecentistas para a História de Lagos, Centro de Estudos Gil Eanes, Lagos, 1996 4 – Monografia de Alvor, pg.113 5 – Ibidem, pg.129 Pedro Manuel Pereira

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