sexta-feira, 22 de maio de 2009
O SIDONISMO E A REPÚBLICA NOVA
Face ao cenário em que Portugal se encontra mergulhado, será bom recordar que a conjuntura é propícia ao surgimento de «Messias», de «salvadores da pátria». Atentemos pois, a este exemplo do passado recente, do qual, os políticos mandantes no país deviam retirar ilações, com discernimento e humildade.
A 5 de Dezembro de 1917 o major de cavalaria e lente de matemática, Sidónio Pais, encabeçou um golpe militar a partir da província, que levou três adias a consolidar, tendo tomado o governo do país pela força. Foi um golpe extraordinariamente sangrento. Contou com a adesão de quase todo o exército. Opôs-se-lhe, o quartel de fuzileiros, a Guarda-fiscal e a PSP, forças estas, apoiantes do governo do Partido Democrático de Afonso Costa.
Pela primeira vez na sua história, o Partido Democrático perde a rua. As casas de Afonso Costa e Norton de Matos são saqueadas.
A revolução sidonista é prenunciadora dos messianismos. Vêm na sequência do milagre de Fátima e do descalabro social, político e económico, de que Portugal é protagonista esse ano e que se traduziu no triunfo da corrente germanófila, manifestamente contrária à intervenção portuguesa na 1ª Grande Guerra Mundial ao lado dos aliados.
O saldo mais desastroso do consulado sidonista revelou-se pelo abandono do corpo expedicionário português à sua sorte, que culminou em 9 de Abril de 1918 no desastre da batalha de La Lys, na Flandres. No final da guerra, o CEP, havia perdido 7300 homens. Embora declarasse apoiar os aliados, Sidónio não substituiu o CEP quer quanto a homens quer quanto a apoio logístico, culminando com a insubordinação das tropas portuguesas em 4 de Abril de 1918, numa altura em que os alemães empreendem uma ofensiva em larga escala nessa frente de batalha. Após o desastre, a representação portuguesa na Flandres ficou reduzida a menos de uma divisão, perdendo autonomia e comandos próprios. São integrados no comando inglês, que os envia para a retaguarda para cavarem trincheiras.
Entretanto o primeiro-ministro Afonso Costa, e Augusto Soares, ao desembarcarem no Porto vindos do estrangeiro onde se haviam deslocado em missão oficial, são presos e enviados para o Forte de Elvas. O Presidente da República Bernardino Machado recusou renunciar ao cargo e foi intimado a deixar o país. A 8 de Dezembro é constituída uma Junta Revolucionária onde pontificará Machado dos Santos do Partido Regenerador.
Com a colaboração do Partido Unionista, do qual Sidónio Pais era membro, é instaurada uma ditadura militar. Sidónio dissolve o Congresso, decreta alterações à Constituição e introduz um regime presidencialista à maneira americana.
Em 8 de Abril de 1918, faz-se eleger Presidente da República, por eleições directas, numa altura em que os membros do seu partido lhe haviam já retirado o apoio e passado à oposição.
Às eleições de Abril, haviam-se recusado a participar os três grandes partidos da «República Velha», em oposição à «República Nova» sidonista.
Os monárquicos, que desde o 5 de Outubro de 1910 tudo faziam para minar o novo regime, apresentam-se em peso às eleições e auferem lugares no novo Congresso, à compita com católicos, conseguindo no entanto, o novel Partido Republicano, conquistar a maioria dos lugares e de igual modo a maioria governamental.
O governo de Sidónio irá ser apoiado por um variado leque de estratos sociais, quer de direita, quer até do movimento operário, à esquerda. É uma base política de apoio tão ampla quanto possível.
Em suma: Os descontentes, que eram aqueles que até aí tinham sido excluídos da partilha do poder ou sido pelo poder sacrificados. A realidade é que tal como o azeite e o vinagre, também as forças apoiantes em presença eram inconciliáveis. Sidónio Pais não consegue mantê-las unidas e a fronda desfaz-se. Aliás, a sua união assentava em três ideais: ódio a Afonso Costa e à política de guerra, e um vago desejo de ordem face à agitação social do país.
O regime sidonista foi marcado por uma crescente confusão política e administrativa, e por prisões e perseguições dos seus adversários, para o que foi útil a recente criada polícia política.
Um regime de terror se havia instalado, em que Sidónio Pais actuou como um soberano absoluto, gerindo a coisa pública despoticamente. Com Sidónio Pais, pela primeira vez em Portugal e na Europa, surge um regime ditatorial sui generis que virá a ser retomado pelos movimentos fascistas europeus, caso de Mussolini em Itália, ou de Primo de Rivera em Espanha.
A República Nova sidonista foi prenunciadora do «Estado Novo», que mais de uma década depois se irá instalar progressivamente em Portugal pela mão férrea de outro lente coimbrão: Oliveira Salazar.
Em 14 de Dezembro de 1918, Sidónio Pais é assassinado na Estação do Rossio por Júlio da Costa, antigo sargento que havia combatido os alemães em África e participado em 1910 na Rotunda, na implantação da República. O regime vivia então, momentos de agonia. Os monárquicos haviam-no minado por dentro. Aliás, desde a queda da monarquia não haviam deixado nunca, de conspirar e fomentar golpes e revoluções. O regime ia perdendo o controlo da situação em várias partes do país.
A pretexto da defesa da pátria e do regime contra os inimigos exteriores, haviam sido criadas juntas militares no norte e no sul do país, tendo na realidade com objectivo, a restauração da monarquia.
Será bom recordar, que na altura do seu assassinato, Sidónio ainda gozava de apoio de vastas camadas populares.
Por último, de referir que Sidónio Pais foi iniciado maçon em 1911 na Loja Estrela de Alva nº289, de Coimbra, com o nome simbólico de Carlyle.
No ano seguinte abandonou as suas actividades maçónicas. Quando presidente da República, apoiou as perseguições contra o Grande Oriente Lusitano Unido, que culminou no assalto e destruição das suas instalações após o primeiro atentado que sofreu em 6 de Dezembro de 1918 com o pretexto de que o seu autor era maçon.
A 14 desse mês era abatido num segundo atentado.
Após a morte de Sidónio Pais, o país mergulha numa das mais graves crises políticas da sua história moderna, em que se inclui o 19 de Janeiro de 1919 e a proclamação pelas juntas militares, da monarquia no Porto e em Lisboa.
Pedro Manuel Pereira
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