domingo, 10 de maio de 2009

A ARTE DOS SABERES DOS SABORES DE PORTIMÃO

«O caminho para o coração de um homem passa pelo estômago» [Provérbio milenar] Cozinhar, apreciar a comida usando naturalmente um dos cinco sentidos com que somos dotados {fala-se que existe também um sexto sentido}, acompanhando-a com a bebida que mais de acordo estiver com a especialidade cozinhada, rodeados de paz e harmonia, são expressões elementares de cultura de todos os povos de todas as latitudes, em todos os tempos. O princípio fundamental para quem cozinha é a liberdade de criar e de se expressar na confecção de cada prato, enquanto que a arte de bem comer encontra-se relacionada com a aptidão que o ser humano tem de se aventurar nas experiências do paladar. A tradição culinária feita de saberes ancestrais transmitida de mães para filhas {e de pais para filhos}, que ao longo de séculos se enraizou nos hábitos e costumes das gentes do concelho de Portimão, nasceu de uma cultura oral, vertida por vezes para alguns escritos rascunhados em pedaços de papel amarelecidos pela patine do tempo, que ao longo dos anos vão ficando esquecidos no fundo de um baú ou de uma gaveta de cozinha. Normalmente, são as mulheres que quando casam para constituírem nova família levam consigo os hábitos, usos e costumes da casa dos pais, onde se incluem em lugar de destaque - até por necessidade elementar - os hábitos, os saberes e os segredos, da arte da culinária. Portimão e Alvor, com as suas tradições nascidas do rio, da ria e do mar, assim como a Mexilhoeira Grande, próxima da serra, com a tradição secular que lhe advém da árdua labuta dos campos, conferem, naturalmente a este concelho, uma enorme variedade gastronómica, rica em sabores e saberes construídos pelas suas gentes, caldeados pelas mais diversas culturas de povos das mais longínquas paragens que ao longo dos tempos aqui arribaram, vindos por terra e sobretudo, por mar. É evidente, que o concelho de Portimão não existe isolado da restante região algarvia. Faz parte de um todo que se reparte entre «os vários Algarves». O barlavento, o sotavento, o barrocal e a serra, com as suas diversidades locais, que séculos de difícil comunicação entre povoados ajudou a cimentar e que hoje, cada dia mais, se vão fundindo numa unidade geográfica regional. Com os alvores da modernidade do século XIX e a construção de melhores vias de acesso entre todos os lugares do Algarve {como os caminhos-de-ferro e as estradas alcatroadas} a intercomunicabilidade entre as suas gentes foi-se tornando uma realidade quotidiana, que de forma informal e natural contribuiu para um intercâmbio de «pequenas culturas» locais, onde se inclui os saberes e sabores da culinária, permitindo hoje que, embora seja possível de catalogar pratos regionais do Algarve, se mantenham diversidades culinárias de grande riqueza por localidades ou concelhos, como no caso em apreço, de Portimão. Pedro Manuel Pereira

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