quarta-feira, 27 de maio de 2009

DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO DA REGIÃO DO ALGARVE NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX

Portugal entra no século XX com uma população recenseada em 5 milhões de habitantes e com uma economia fundamentalmente rural. O sector primário predominava em todas as regiões, inclusivamente o Algarve. Era uma agricultura mais colectora do que produtora, baseada em meia dúzia de produtos de exploração secular tradicional, quase à base de frutos. Se o panorama económico era idêntico em todas as regiões do País, o mesmo se passava relativamente às taxas de natalidade e de mortalidade, sendo que a mortalidade infantil era particularmente elevada, devido principalmente aos surtos epidémicos e às más condições de cuidados pré-natais. Com o tempo, vai-se assistir no Algarve a uma intensificação do movimento de parcelamento da propriedade e a um lento e limitado progresso de mecanização na agricultura, a par de um fraco rendimento proveniente da actividade laboral. Como reflexo, vai-se acentuar o fluxo emigratório para as grandes cidades e suas áreas industrializadas envolventes. Caso exemplar é o que se vai verificar relativamente à margem sul do Tejo, principalmente, Almada e Barreiro, assumindo carácter relevante o verificado nesta última, então vila, atraída a força de trabalho pelas oficinas dos caminhos de ferro, indústria corticeira e Companhia União Fabril (C.U.F.), complexo fabril inaugurado em 1908. Se o panorama agrícola era particularmente preocupante, já o sector industrial, nas áreas das indústrias corticeira - tendo por base Silves - e a indústria conserveira, disseminada por todo o Algarve litoral, registavam progressos, dada a procura destes produtos nos mercados externos, com especial relevância para a Espanha, a Alemanha, Grã-Bretanha, Brasil e alguns países do Norte da Europa, muito embora estas indústrias funcionassem em grande parte, com uma mão-de-obra sazonal, sem emprego garantido todo o ano. Em linhas gerais e muito resumidamente, será este o panorama económico com que se defrontarão os obreiros da República, ao tomarem as rédeas do poder a partir da Revolução do 5 de Outubro de 1910. É neste contexto que um eminente republicano, algarvio, hoje, injustamente pouco recordado, de seu nome Thomaz António da Guarda Cabreira, irá, enquanto parlamentar e ministro das Finanças, apresentar aos seus eleitores do circulo de Faro, em 1914, um relatório de propostas legislativas de que destacamos como exemplo, a criação de escolas primárias agrícolas de carácter regional, criação de um posto agrário no distrito de Faro com campo experimental para as culturas algarvias, uma Escola Móvel Agrícola, criação de zonas de turismo com regulamentação do jogo e construção de bairros económicos. De salientar ainda, que Thomaz Cabreira, organizou em 1915 o 1º Congresso Regional Algarvio, que decorreu no Casino da Praia da Rocha, localizado onde hoje se encontra o Hotel Oriental, onde estes temas foram debatidos. A hemorragia de população vai continuar a ser um facto durante toda a República, só abrandando nos anos da 1ª Grande Guerra Mundial. Sai-se desta região para Lisboa e suas áreas envolventes, mas também para o estrangeiro, sobretudo para a América Latina. As remessas dos emigrantes, desta e de outras regiões, permitirão ao País viver acima do que produz. No entanto, os anos de guerra serão anos de penúria, agravados em 1917- -1918, com a intervenção directa de Portugal no conflito mundial. De então e até ao golpe de Estado que instaurou a ditadura militar em 28 de Maio de 1926, as condições de vida associadas ao estado económico da Nação, continuaram a agravar-se. A República não teve a capacidade, de solucionar os problemas do atraso estrutural crónico do País, mercê de factores conjunturais quer externos quer internos. A República nasceu e morreu com o modelo económico saído da crise resultante do Ultimatum britânico de 1890, o qual se irá prolongar até cerca de 1930. O modelo económico anterior vai-se extinguir, na transição para o modelo corporativista e proteccionista do Estado Novo, após o controlo do poder do Estado por Salazar. O modelo económico corporativo, sob a égide de Salazar, a par de uma política de monopólios, proteccionista, irá traçar o rumo da economia portuguesa nas décadas seguintes. Será com base nas indústrias conserveira e corticeira que o Algarve terá a sua quota parte no desenvolvimento económico do País. De salientar que muitos dos complexos fabris conserveiros possuíam um sistema assistencial de creches e bairros operários. Por seu turno, o Estado Novo construiu um pouco por toda a região, bairros económicos. Porém, o problema do desemprego, mau grado a «válvula de escape» da emigração, embora menos intensa desde finais dos anos 20, constituirá um verdadeiro flagelo. Trabalha-se sazonalmente nas industrias da região, na agricultura, mas a par disso todos os anos, no tempo das ceifas, saem milhares de algarvios para os campos do Alentejo. Com a 2ª Grande Guerra Mundial, nova crise económica vai apertar, muito embora seja mais por falta de bens, os tradicionalmente importados, que por falta de trabalho, como no caso da indústria conserveira, que nesse período de tempo {1939-45}, atingiu o pico mais alto da sua produção, devido fundamentalmente à exportação para os países beligerantes, quer os do Eixo, quer os Aliados, de acordo com a política falsamente neutral de Salazar. Terminado o conflito, muitas dessas indústrias entraram em recessão, em parte devido à falta do mercado da guerra e por outro lado devido à concorrência estrangeira no mercado internacional. Só a partir dos anos 60 do século XX, devido à pressão do boom económico verificado na Europa, as condições económicas e de vida irão mudar substancialmente no Algarve. Pedro Manuel Pereira

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