terça-feira, 5 de maio de 2009

CONVERSAS FÚTEIS

CENA D Tinham circulado vários emissários imbuídos da nobre e delicada missão de agregar a máxima representação popular no dia da entrega dos Diplomas. Tentava-se diluir a convicção de que o povo aproveitava estas deslocações do Chefe Supremo da Governação para denunciar a revolta pelas medidas que iam atrofiando e desbaratando o seu parco património. Em verdade, já quase nada restava que pudesse alimentar o corpo e a alma desta gente. Fechara o Centro de Saúde, a Maternidade e o Hospital deixara de ter as valências correspondentes às necessidades da população residente. Até o Pároco fora transferido para outra paróquia de maior dimensão. Era a desertificação a querer tomar conta da terra. A indignação grassava, mas o medo do Futuro fazia calar algumas vozes perdulárias. A sala polivalente fora engalanada e a presença das mais altas figuras locais requisitada para a cerimónia: A Delegada da Educação, o Senador da Cultura, o Chefe dos Bombeiros, o representante dos Eruditos, o Comandante do Quartel, o Presidente da Casa do Povo, o Comendador mais comendado, bem como as mais distintas senhoras do corte – e - costura local. Comandando este séquito de tão importantes gentes insinuavam-se em primeiro plano o Presidente do Concelho precedido pela arregimentada Governadora Distrital. Revoltada com a falta das luzes da ribalta que a catapultavam como “prima donna” na boca de cena dos seus domínios territoriais, esta insigne Distrital Governadora não se contém, começando a vociferar em surdina, quando aparece a prestimosa e poderosa Chefe da Educação Nacional: - Mas que grande falta de gosto tem esta senhora. Veste sempre pronto-a-vestir démodé e nem sequer prêt-à-porter como um “BCBG”, ao bom estilo intelectual raffiné. Eu seria indubitavelmente uma óptima Chefe Educativa, muito melhor que ela. Comigo a Reforma seria total! - Que dizeis, minha amiga? – questiona o Presidente do Concelho. - Analisava o seu bigode farfalhudo que lhe empresta um ar singular, original. O amigo destaca-se no meio desta assembleia de governantes. A sua figura merece outros horizontes porque, além do seu indelével carisma, sente-se que este concelho é muito pequeno para a sua grandeza. - Claro! Eu tenho consciência disso, pelo que conto com a sua ajuda e fidelidade na composição e votação das listas para a Assembleia Parlamentar que serão organizadas nas próximas reuniões distritais da nossa grande Corporação. As eleições já estão na agenda. Este ano são apenas três altos momentos decisivos para nós . Mas a amiga está ravissante ! Quais são os seus planos? - O Chefe Supremo tem projectos para mim. Na Assembleia Geral de Sócios colocou-me no palanque e já me segredou que a recompensa vai chegar. Devo manter-me elegante, fiel e disponível para o combate, seguindo apenas o seu exemplo. - Realmente o Chefe é um ícone de elegância tal como a minha amiga. Acredito que se veste lá fora e usa cá dentro, com muita distinção. Olhe que a pasta da Educação assentava-lhe muito bem. - Era o que eu estava a pensar, não só pelo meu passado experiente nessa área, mas também porque esta nossa correligionária está totalmente desacreditada. - Tem toda a razão. Nós militámos há muito tempo e conhecemos bem o sistema. Ela já não traz votos nem qualquer mais-valia à nossa Corporação. Assume-se como independente, embora devote uma imaculada fidelidade ao Grande Chefe. Até a actual líder da oposição teve menos inimigos, quando exerceu esse mesmo cargo, apesar de lhe ter sido atribuído o cognome de “a de má memória”. - Recordo ainda esse mau mandato. Era uma governante irredutível e de mão pesada. Apresentava também uma falta de interesse pela imagem. Creio que a minha presença revolucionaria a Educação e solidificaria as bases do verdadeiro Sistema Educativo, lançando novas oportunidades que não estas, circunscritas a estes meros e vazios Diplomas. - Acredito, cara colega. A cidadania ganharia um novo estatuto (re)vestido com novos e coloridos padrões. Enfim, sob a sua preclara mundividência, a Educação reestruturaria o tecido nacional com mais empenho e labor, adaptando-o ao devir contínuo da imagem e gerando uma outra visão educativa. Ficaríamos todos mais ilustráveis com diferentes e renovadas apresentações. Conto consigo! MJVS

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