segunda-feira, 11 de maio de 2009
O GOLPE DO 28 DE MAIO DE 1926
Tem lugar este mês, uma efeméride marcante na História de Portugal recente. Assim, no dia 28 de Maio de 1926 deu-se um pronunciamento militar em Braga, chefiado pelo general Gomes da Costa, que alastrando nos dias seguintes ao resto do país, irá instaurar uma ditadura militar, a qual dará origem, poucos anos após, a um novo regime, auto denominado de «Estado Novo» em oposição ao que chamavam de «República Velha», o primeiro, uma partido político único: a União Nacional, à frente do qual pontificava o lente coimbrão, Oliveira Salazar. No entanto, segundo palavras do seu chefe, não era um partido político nem se assumia como tal, antes era, uma «associação de homens de boa vontade».
O 28 de Maio foi um movimento eivado de equívocos e é nesse sentido que se explica que a ele tenha aderido muita gente, de boa fé, que lenta e gradualmente nos tempos que se seguiram se irá afastar ou ser afastada desse assalto ao poder.
O golpe militar contou com o apoio das classes dominantes, as chamadas «forças vivas», das classes intermédias e até da classe operária; operários industriais e assalariados agrícolas.
No estado caótico em que o país de encontrava, quer económico, quer social e outros, era previsível um golpe militar no estilo do ocorrido. Aliás, na sequência de uma série de outros que tinham vindo a suceder-se sem que tivessem, no entanto, a amplitude deste último, para o sucesso do qual contribuiu decisivamente o apoio da classe operária, do movimento sindical, vítimas do regime republicano, cuja expressão máxima se consubstanciou no 1º Ministro Afonso Costa, alcunhado de «racha sindicalistas».
Todos estavam de acordo em fazer intervir o exército, onde o nível de vida dos seus oficiais havia atingido um estado degradante. Aludindo ao brilho dos galões, o povo havia-os rotulado de «miséria dourada».
O material, o armamento, era obsoleto. Por outro lado, o exército durante anos havia sido preterido em favor da GNR.
Pairava no ar o fantasma da Flandres/França, onde pereceram milhares de militares portugueses e muitos mais ficaram estropiados no conflito que passou à História como: 1ª Grande Guerra Mundial. Enfim, o exército desmoralizado será conduzido a assumir a direcção política do país contra o republicanismo que o havia deixado cair tão fundo. A República dissolvia-se por falta de apoio.
Até 31 desse mês {Maio de 1926}, altura em que o presidente da República se demite transmitindo os seus poderes a Mendes Cabeçadas, a revolta ainda tinha algo de constitucional face a essa mesma transmissão de poderes.
Enquanto Gomes da Costa avança sobre Lisboa, Óscar Carmona vislumbrando a vitória ordena o avanço das suas tropas alentejanas sobre a capital, apoiando assim, o movimento.
Em Novembro desse ano, Carmona assumia a chefia do Estado.
De 1926 a 1933/34, houve como que um estado de guerra civil não declarada entre vários sectores republicanos e a ditadura militar. A situação não é muito definida. Este período de transição da ditadura militar para o Estado Novo, irá ser muito conturbado, com uma base de apoio muito complexa. Só se poderá falar de consolidação do Estado Novo a partir de 1934, ano do primeiro Congresso da União Nacional, de remodelação do governo e das primeiras eleições legislativas, saindo delas a primeira Assembleia Nacional.
Em Junho de 1932, Salazar havia sido formalmente nomeado chefe do governo. Ainda nesse ano apresenta uma proposta de Constituição que entrará em vigor em 11 de Abril de 1933, a qual vigorará com pequenas alterações até 1976.
No Barreiro, o movimento do 28 de Maio de 1926 teve características de adesão idênticas ao que se passou um pouco por todo o país.
Os grupos civis conspiratórios eram constituídos por elementos quase todos ligados ao Partido Radical, enquadrados por chefes oriundos de Lisboa. O apoio logístico, fundamental para o avanço das tropas do sul sobre Lisboa foi dado pelos ferroviários do Sul e Sueste, vítimas do regime republicano que os havia sempre tratado com uma certa sobranceria, de resto, retribuída pelos ferroviários em permanente luta por melhores e mais dignas condições de vida, manifestas nas lutas empreendidas ao longo da existência do regime, algumas delas bastante longas como a registada entre Setembro e Dezembro de 1920, que durou setenta dias e à qual o quinzenário barreirense Acção de 20 de Dezembro desse ano se refere na 2ª página sob o título «Ferroviários», como tendo: «(…)contado prejuízos incalculáveis(…), prejuízos esses, cremos, a todos os níveis».
Pela mesma data, a propósito desta greve, o semanário lisboeta A Luz, de cariz maçónico, refere na sua 4ª página: «(…) teve enfim termo. Já não era sem tempo (…) a greve dos ferroviários não teria lugar se a administração da Companhia dos Caminhos-de-ferro Portugueses não fosse uma soberba amostra do que, em regra, é toda a administração em que entra o portuguesinho (…) cabe pois, à direcção da Companhia a responsabilidade de todos os prejuízos que esta lamentável greve ocasionou (…)».
A realidade é que a direcção da Companhia era o espelho da Administração do Estado, da coisa pública.
Porém, os princípios da generosidade, a luta pelos ideais de Liberdade e por melhores condições de vida que levaram ao ferroviários a apoiar o golpe do 28 de Maio, serão os mesmos que os levarão a participar poucos meses passados, na primeira revolta contra a ditadura militar, mais concretamente em Fevereiro de 1927, com a paralisação de comboios e a sabotagem de máquinas.
Tal como milhares de cidadãos, grupos sociais, agrupamentos políticos, classe operária, também os ferroviários cedo constataram o logro em que haviam caído. Se a República não os tinha tratado bem, a ditadura militar não os tratava melhor. Porém, a força das armas impunha-se, propiciando um novo regime que perduraria até ao 25 de Abril de 1974 e haveria de fazer escola nalguns países europeus, até ao final da 2ª Grande Guerra Mundial.
Pedro Manuel Pereira
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