quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CRÓNICA DE UM PAÍS QUE NÃO EXISTE I

Por Pedro Manuel Pereira

Lemos em paragonas num jornal diário que «o governo aconselha os jovens a emigrarem». Tornamos a ler, não vá os nossos olhos enganarem-nos. Lemos de novo e não acreditamos, porque se fosse verdade que o governo – um qualquer governo – aconselhasse os jovens do seu país a emigrarem, estaríamos perante o caso de um GOVERNO DE TERRORISTAS SOCIAIS.
Levantamo-nos todos os dias cedo pela manhã, como habitualmente fazemos desde há muitos anos, na chamada «hora-de-ponta», quando a azáfama de todos quantos trabalham, em conjunto com o aumento de tráfego rodoviário, criam (criavam) um rumor de fundo inconfundível.
Este funciona (funcionava) como uma espécie de barómetro da actividade laboral. Começa à 2ª feira de manhã, abranda no sábado a parir da hora de almoço e cessa aos domingos e feriados.
Uma das vias principais da cidade onde residimos habitualmente passa à nossa porta, por onde trepida (trepidava) a vida da urbe.
Acontece que desde há cerca de ano e meio até ao momento, a circulação de pessoas e veículos tem vindo a decrescer rapidamente, de tal ordem que uma destas manhãs - dia de semana de trabalho - acordámos com uma terrível sensação de catástrofe, verdadeiramente angustiante, não pelo barulho que nos chegava da rua, mas pelo silêncio ensurdecedor e … assustador.
Hoje, a azáfama diária – em qualquer dia da semana – tornou-se residual. Esta realidade é fruto de uma significativa redução populacional de cidadãos nacionais e de muitos daqueles que entre nós se encontravam em Portugal emigrados, sobretudo, cidadãos do Leste europeu e brasileiros.
Dos cidadãos nacionais que emigram, efectivamente a maioria são jovens quadros licenciados, que justificadamente procuram meio de sustento e de sobrevivência. Ressalve-se, no entanto, que na maior parte dos casos tiraram os seus cursos nas escolas públicas portuguesas, pagas com os impostos de todos nós.
Atentos a esta pertinente questão, a rapaziada de S. Bento anunciou que vai tomar medidas «importantes»: No próximo ano irá efectuar um corte substancial nas verbas para a Educação, em todos os níveis de ensino, mais significativas no ensino superior público, medida que irá conduzir no próximo ano ao encerramento de dezenas – senão centenas – de cursos e à redução do número de alunos e de professores.
Entre o nosso círculo de amigos e familiares, todos os dias temos conhecimento de mais um que debandou outro país em busca de sustento. Hoje, a hemorragia – e fluxo emigratório - de portugueses para fora de fronteiras, é bem maior e mais rápido que o ocorrido ao longo dos anos sessenta do século XX, e nessa altura, o governo da ditadura não dizia aos jovens para emigrarem. A maior parte deles iam para a guerra colonial, os restantes fugiam à mesma, a salto, em demanda de França, Alemanha, Suíça, Suécia… As mulheres ficavam.
Lê-mos, ouvimos e não crê-mos, nas actuais medidas – que não políticas – económicas com que a massacrada nação portuguesa vem sendo causticada por esta espécie de governo de imberbes.
Quase todos os dias um novo imposto, um corte nas comparticipações do Estado tem sido anunciados, com incidência, sobretudo, nos bolsos da classe média.
É bem certo – diga-se em abono da verdade – que estes gestores são herdeiros da rapaziada dos (des)governos das últimas décadas, em especial dos dois últimos do PS e seus acólitos…
O desconchavo na gestão da coisa pública conduziu Portugal à beira do precipício. Mantém-se a cada vez menos incógnita, se não cairemos nele em breve.
O país está a envelhecer rapidamente. Sem força jovem de trabalho, manietado o seu tecido social e produtivo, mercê de medidas economicistas vesgas do «vale tudo» para cumprir os ditames da chanceler alemã, a classe média continua a afundar-se até atingir níveis de pobreza semelhantes ao de um país do terceiro mundo. Como a miséria atrai miséria, logo a insegurança física, de pessoas e bens, o desemprego, a fome a falta de perspectivas de futuro, irão transformar a curto prazo o país num barril de pólvora.
Face à crise económica instalada, compreende-se que haja agravamento da carga fiscal, mas não se compreende que a rapaziada de S. Bento não tenha – ainda – tomado medidas para encerrar as largas centenas de empresas públicas, empresas municipais, direcções regionais, institutos públicos e fundações que nos últimos anos nasceram em profusão como cogumelos, envoltos em «pornografia política», servindo de albergue espanhol para a malta do centrão se acoitar, sorvedouro de centenas de milhões de euros.
E assim se (des)governa o país: de imposto em imposto até ao imposto final.









1 comentário:

  1. Meu Caro Pedro:

    Acresce o encerramento, por parte deste Governo, de leitorados de português no estrangeiro… Creio que o Brasil aumenta-os. Sem criticar o português transatlântico, se o nosso se diluir, desaparece a nossa cultura, logo, a nossa terra e, como os nossos jovens se vão, fica isto para aqui… Dêem Portugal já a Espanha, não percam tempo, ficamos melhor do que num "Cê viu?" misturado com com "it's crazy, Man!" e "bué" ou "tranquilo…", ainda temperado com "… está um calor de ananases!". Este estado híbrido mental é que não - passemos ao "que calle tan preciosa!" e já está, é coerente! Abraço do Raúl.

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