domingo, 6 de julho de 2014

DA ORDEM DE S. MIGUEL DA ALA - UMA ASSOCIAÇÃO SECRETA PORTUGUESA


Por Pedro Manuel Pereira


O que é a Ordem de S. Miguel da Ala

 

     A Ordem Equestre e Militar de S. Miguel da Ala, conhecida por Ordem de S. Miguel da Ala ou simplesmente Ordem da Ala (Ordo Equitum Sancte Michaelis sive de Ala) teria sido – segundo a mesma - fundada por D. Afonso Henriques, após a tomada de Santarém aos muçulmanos, em 1147.  

     A conquista da cidade teria ocorrido no dia de S. Miguel (8 de Maio). A verdade é que Santarém foi conquistada em Março de 1147 e não em Maio, como está claramente comprovado. Para além disto, não existe um único documento coevo que prove a fundação de tal ordem pelo primeiro rei português.

     A ordem será, assim, de fundação muito mais recente, embora se ignore a data exata, tendo, promotores desta, procurado engrandecer o seu passado através deste começo mítico ligado ao fundador da nacionalidade, um pouco à imagem - mau grado a comparação - do que sucede com alguns autores, em torno da Maçonaria e outras organizações discretas e/ou secretas.

     Pouco se sabe, no entanto, sobre o seu funcionamento e a totalidade dos seus membros, já que, segundo a tradição, esta ordem teve sempre - e tem - um carácter secreto. Os Grão-Mestres da Ordem terão sido sempre os reis de Portugal.
     A Ordem de S. Miguel da Ala foi fundada pelo rei D. Miguel I, funcionando como uma ordem secreta, tendo como objetivo fundamental o combate à Maçonaria e à Carbonária, pelo que, os seus membros, recebiam treino militar e andavam sempre armados. Depois da vitória dos Liberais em 1834, é extinta oficialmente, mas continuou a existir clandestinamente, apoiando D. Miguel I no exílio. Em 1848, D. Miguel I consegue que o papa Pio X a reestruture, passando a ser formalmente considerada uma ordem secreta. O cargo de Grão-Mestre da Ordem seria a partir daí atribuído aos sucessores de D. Miguel I (D. Miguel II, D. Duarte Nuno e D. Duarte Pio).  
     A Ordem de S. Miguel da Ala é hoje uma irmandade fundamentalista católica, chefiada por D. Duarte Pio, (Grão-Mestre), tendo a sua sede na Igreja do Santíssimo Milagre, em Santarém, muito embora possua outras.
     No entanto, na prática quem a «governa» é o Vice-Chanceler, Carlos Evaristo, um luso-canadiano que preside à Fundação Oureana e muito trabalhou para a canonização dos pastorinhos de Fátima, sendo o capelão mor, o Cónego Prof. Dr. José Geraldes Freire, limitando-se D. Duarte ao desempenho de um papel pouco mais do que decorativo.

A implantação da Ordem da Ala em Portugal
     As referências mais fiáveis quanto à existência e atividades desta instituição datam-se entre os anos de 1733 e 1912, encontrando-se reunidas e documentadas na História da Franco-Maçonaria em Portugal da autoria de Manuel Borges Grainha.
     Quando exilado, instalado em Roma sob a protecção do Papa Gregório XVI e depois, com a anuência do Papa Pio IX, D. Miguel reestrutura a Ordem, para a partir de 1848 a mesma passar a ser, de acordo com o artigo 1º da sua constituição, uma «Ordem secreta, militante e política». De acordo com o artigo 4º, é referido que os membros da Ordem podem até «levantar armas para cumprimento dos seus fins».
     Após ser reestruturada, a Ordem passou a manter algumas semelhanças com a Maçonaria e a Carbonária, nas suas cerimónias de iniciação e no número e graus dos seus membros. Segundo carta de D. Miguel datada de 23 de Junho de 1859, os irmãos adoptavam nomes secretos de cavaleiros do tempo de D. Afonso Henriques.
     Das poucas atividades organizadas e conhecidas dos seus membros no Século XIX, só sabemos que apoiavam D. Miguel I e a sua família no exílio, contribuindo regularmente cada qual, com um tributo.
     Com a condenação e suspensão de todas as Ordens Secretas, decretada pelo Papa Pio IX, na carta Syllabus de 70 erros (1864) e ainda de acordo com o Papa Leão XIII, na carta Humanum Genus, contra as sociedades secretas (1884), as atividades da Ordem de Ala foram aparentemente suspensas, porque na realidade, esta, manteve-se em actividade durante as décadas da sua «clandestinidade» até bem recentemente.
     A Ordem tem hoje existência legal, possuindo estatutos, elaborados em conformidade com os Cânones do Código de Direito Canónico aplicáveis às Associações Privadas de Fiéis, tendo para tanto, recebido parecer favorável das competentes autoridades eclesiásticas e os mesmos aprovados pelo Duque de Bragança em 8 de Maio de 2001.
     De então para cá, de vez em quando vem a terreiro notícias fugidias sobre esta organização, que, para quem esteja mais atento, dá para perceber até onde se estendem os seus tentáculos.
    O Duque de Bragança, pontualmente preside a cerimónias de investidura em Portugal e no estrangeiro de comendadores e cavaleiros da ordem, procurando para tal, igrejas de castelos e outras controladas por esta associação.
      A implantação da Ordem da Ala extravasa as fronteiras, sobretudo junto das comunidades lusas da diáspora, caso dos ilhéus madeirenses fixados na Venezuela, Estados Unidos, Brasil, África do Sul…. - Em comum, todos os seus membros são endinheirados, a quem lhes dá muito jeito social um título, como o de comendador que normalmente adquirem.
     Boa parte dos membros do governo regional da Madeira, autarcas, e muitos políticos no continente, de variados quadrantes partidários, são membros desta ordem, como é o caso do fadista-deputado-maçon-comendador, Nuno da Câmara Pereira; Telmo Correia, deputado; Hernâni Carvalho, jornalista; Joaquim Bastinhas, toureiro; Henrique Mourato, pintor; ou José Raul dos Santos, deputado e ex-presidente da Câmara Municipal de Ourique, entre outros.
     Possui, esta ordem, um pouco por todo o território nacional, milhares de hectares de propriedades rústicas e imóveis, fruto, sobretudo, de doações acumuladas ao longo dos tempos.
     A este propósito e a título de curiosidade, refira-se, que o nome de D. Duarte se encontra actualmente associado a grandes empreendimentos imobiliários em curso, sobretudo no Alentejo e Algarve.

A implantação da Ordem da Ala no estrangeiro
     É natural, que uma organização destas, multicentenar, possua ramificações um pouco por todo o mundo. Efetivamente assim acontece.
     Embora seja uma ordem secreta, a vaidade de alguns dos seus membros, acaba por lhes destapar a careca, que é como quem diz: o véu de alguns notáveis estrangeiros, dos quais, a título de exemplo podemos referir os seguintes:
    . Júlio Meirinhos, recém-eleito Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal. Foi empossado cavaleiro da Ala, em Miranda do Douro em outubro 2010, quando era vice-presidente da Região de Turismo do Nordeste Transmontano;
    . Prof. Dr. Dom Fernando Ramazzini, Director Nacional do Combate à Falsificação – ABCF, organismo do estado brasileiro, entre outros excelsos cargos públicos e privados;
    . Luigi Valle, vice-presidente do grupo Pestana, responsável pelo Casino da Madeira, que entre outras actividades mais, é o Cônsul honorário de Itália no Funchal desde 1982;
    . Elder José A. Teixeira, Presidente da Área da Europa de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mórmons);
     . Rudolf Giuliani, mayor de Nova Yorque quando do famigerado 11 de Setembro;
     . Theodore McCarrik, Cardeal católico de Washington DC;
     . Edwin O’Brien, Arcebispo para os Militares dos EUA;
     . Frei James Michael von Stoebel, da Ordem de Malta;
     . Dr. James Forrester, Senador da Carolina do Norte;
     . Dr. Pedro Catarino, Embaixador de Portugal nos EUA …
     Refira-se que a Ordem da Ala possui vastas propriedades nos EUA e um pouco por outros países em vários continentes.

Conclusão
     A ordem de S. Miguel da Ala, dada a sua antiguidade em actividade e implantação tentacular em Portugal e além-fronteiras é, provavelmente, mais poderosa em termos financeiros e no seio da sociedade que o seu congénere católico espanhol, o Opus Dei.
     O Opus conseguiu em tempo recorde a canonização do seu criador, enquanto a Ala lutou pela canonização dos pastorinhos de Fátima, em que o poderoso loby americano desta ordem desempenhou um importante papel junto da Santa Sé.
     Além disso, sublinhe-se, é uma obediência fundamentalista católica, criada para combater a Maçonaria.

Orientação Bibliográfica
. Branco, Camilo Castelo, A Brasileira de Prazins, Edições Caixotim, 2001.
. Brito, Bernardo de, António Brandão e José Pereira Tavares. Historiografia Alcobacense - excertos da Monarquia Lusitana e da Crónica de Cister, Livraria Sá da Costa, Lisboa, 1940.
. Caderno 108 do «Promotor da Inquisição de Lisboa», Arquivos Nacionais da Torre do Tombo, Lisboa.
. Carvalho, Joaquim Martins de, Apontamentos para a História Contemporânea, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1868.
. Costa, Marcus de Noronha da, Para a História do Miguelismo - A Ordem de S. Miguel da Ala, Lisboa, 1978
. Dias, Miguel António, Annaes e Código dos Pedreiros Livres em Portugal, obra fac-sim., 1853, Sol Invictus Atelier, Ericeira, 1990.
. Evaristo, Carlos, A Real Irmandade de São Miguel da Ala - História e Estatutos, Fundação Histórico-Cultural Oureana, 2001.
. Grainha, Manuel Borges, História da Franco-Maçonaria em Portugal - (1735-1912), António Carlos de Carvalho. 4ª ed, Vega, Lisboa, 1986.
. S. Luiz, Francisco de, Memória sobre a Instituição da Ordem Militar da Ala Atribuída a El-Rei D. Afonso Henriquez, Tipografia da Academia Real das Ciências, Lisboa, 1843.
. São Miguel e Outros Santos Mais, Expresso, 13 de Maio de 1995
. Soriano, Luz, História da Guerra Civil e do estabelecimento do governo parlamentar em Portugal, comprehedendo a historia diplomatica, militar e politica d'este reino desde 1777 até 1834, 15 vols., Imprensa Nacional, Lisboa, 1866-1893.
Internet
Periódico
A Voz do Nordeste, edição de 10 de outubro de 2010.






2 comentários:

  1. Se esta Ordem foi "criada para combater a Maçonaria", porque razão acolhe "Júlio Meirinhos, recém-eleito Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal."?

    Se tem natureza "fundamentalista católica", porque acolhe então o "Presidente da Área da Europa de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mórmons)"?

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  2. Mas esse tal Hernâni Carvalho não passa de um vigarista ordinário e semi-analfabeto, um burlão sem classe , que faz "pendant" com um gang de polícias e advogados corruptos e só por isso talvez ainda não tenha ido dentro. Esperemos que a caça a certos membros da quadrilha de que faz parte acabe por dar os seus frutos.

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