segunda-feira, 6 de agosto de 2012

RETRATO DE UM TRAIDOR


Ao longo da sua vida o leitor já se enfrentou ou foi alvo dos atos de um traidor? Se tão infausto ocorrido ainda não lhe sucedeu, considere-se uma pessoa feliz, porque a TRAIÇÃO é um ato associado à falta de ÉTICA, de LEALDADE e de SOLIDARIEDADE, entre outros atributos que devem ser apanágio de (e entre) todos os Homens e Mulheres. Acautele-se, porém, porque nos dias que correm o Traidor(a) espreita em cada esquina da sua (nossa) vida, é esta sinistra figura que subservientemente gere o mundo que nos rodeia, ao serviço de sinistras criaturas e corporações.

O traidor geralmente trabalha num departamento ou serviço do Estado e, ainda, no setor empresarial público ou privado, onde desempenha tarefas rotineiras, cumprindo horários regulares ou escapando deles através de estratagemas, sem que, os superiores hierárquicos do local onde exerce a sua atividade se apercebam. No entanto, aparentemente obedece a regras e agrega um certo nível de propósito e ambição ao trabalho.
Uma das mais sinistras ironias do traidor é que o seu excelente desempenho no trabalho, invariavelmente, tem por objetivo disfarçar o conturbado lado da sua vida pessoal, além de o ajudar a conseguir promoções que o pode levar a patamares onde tenha acesso a informações altamente confidenciais, sendo que, o dinheiro e o ego são outros fatores a ter em conta na natureza deste género de criaturas. Aparenta e proclama ser possuidor de apurado senso de honra e integridade pessoais, aliados a um relativo senso de humor. É medianamente inteligente e possui a capacidade de trabalhar em harmonia com outros seres humanos. Para os seus superiores hierárquicos é um ótimo funcionário. Faz fotocópias de todos os documentos que «agarra» e é exímio em todo o trabalho burocrático.
O lamentável é que o mundo sempre foi visto de acordo com as aparências…
Para conseguir algumas vantagens, o traidor apresenta às pessoas uma versão bem editada de si mesmo.
Existem quatro tipos de traidores: - O tipo um, é o espião que é escolhido por um esperto recrutador e cujo potencial é testado (têm acesso a informações confidenciais ou outras informações valiosas); - O tipo dois é o voluntário. Esta é uma pessoa que tem acesso a informações confidenciais e que, normalmente, já possui alguma experiência em espionagem, o que permite oferecer os seus serviços a quem lhe pagar mais ou oferecer benesses materiais e sociais; - O terceiro tipo de espião é o agente de longa data ou dissidente da estrutura, normalmente recrutado na sua juventude e que, na época de seu recrutamento foi afastado das informações sensíveis que os seus contatos desejavam, tendo decorrido vários anos até atingir uma posição vantajosa; - O quarto tipo é alguém que espiona para um serviço secreto, partido político, serviço do Estado e empresa pública ou privada, mas acaba sendo convencido pelo seu contato que está a trabalhar para um outro poder. A isto comumente se chama recrutamento de identidade falsa.
Como é que um espião-mestre atrai um colaborador e futuro espião? - Por meio drecrutamento Recrutamento é a joia da coroa de qualquer serviço secreto, partido político, e/ou serviço de espionagem dentro do setor empresarial público ou privado. O cuidado envolvido no recrutamento depende, em larga medida, do tipo de informação secreta à qual o traidor em potência tem acesso. O recrutamento consiste de vários patamares: - Identificar o tipo de informação que deve de ser obtida; o tipo de pessoas que tem acesso à informação; quem, entre estas pessoas pode ser abordado com segurança e, por último, definição de um alvo. Assim, o encarregado de caso verifica a informação operacional que acumulou sobre o seu alvo, incluindo extensão de contratos sociais e familiares, clubes e associações, hobbies - especialmente os que incluam atividades em grupo - e os vários serviços pessoais utilizados por ele, desde funcionários diversos a médicos, dentistas e outros. O foco deve estar nas fraquezas do alvo que é escrutinado. De todos estes aspetos, a ideologia é, atualmente, descartada, excetuando nos casos em que o alvo é afeto a partidos da extrema-esquerda ou da extrema-direita. A coerção acaba sendo um fator de importância quando o traidor entrega os seus primeiros documentos roubados, ou coleta informação sensível que entrega ao seu superior. O que pode levar um homem a baixar o pano sobre suas experiências escolares passadas, as suas atividades e ideologias, os seus amigos íntimos, as suas velhas lealdades e vínculos de um passado longínquo e/ou recente? - Um dos mitos mais comuns sobre criminosos é que são pessoas como nós, que tiveram o azar de cair uma vez na vida, que foi seguida de outra e outra queda, até que foi tarde demais para voltar atrás e viver como um ser humano que respeita a lei, as regras e os princípios éticos e morais que vigoram nas sociedades. Ora isto é absolutamente incorreto, pelo menos de acordo com proeminentes e respeitados psicólogos, psicanalistas e psiquiatras especializados em personalidades criminosas. Assim, de acordo com estes especialistas, os criminosos são pessoas que, de maneira nenhuma, pensam como o resto de nós. Para eles, ser um criminoso não implica em que grau o é, mas em que tipo de comportamento ou pensamento se encontra.
Se olharmos para a vida de um traidor, logo concluímos que, muito antes do final, ocorre a dissidência fatal. O traidor tem atrás de si uma vida inteira de pequenas dissidências e desonestidades, de um sentimento geral de superioridade em relação às regras, de desprezo pela decência comum e pelo que é bom e digno no ser humano, numa exaltação de si mesmo em detrimento das outras pessoas.
Muita gente fracassa na escola, provêm de lares infelizes, ou são possuidores de complicados problemas psicológicos. Não obstante, não chegam a trair os seus semelhantes. Assim, que elementos são adicionados ao caráter dos traidores que os distinguem dos outros seres humanos? - Para além de tudo, um traidor é uma pessoa que acredita poder satisfazer os seus caprichos, impulsos e apetites, independente das consequências. O traidor não se preocupa em ponderar da natureza do seu caráter e, tal como outros criminosos, apresenta a tendência para se ver a si mesmo como o centro de todas as situações, nunca apenas como «mais uma roda de uma engrenagem».
Ao entrar numa sala cheia de gente, o traidor olha para os comuns mortais com pena: -«Eis aqui os patetas comuns, que não têm a mínima ideia de como se tornar alguém na vida» - pensa. Por causa da exagerada noção de suas capacidades, o traidor vê-se a si mesmo como o mestre de algum grupo invisível. Ele nunca se vê como uma pessoa que deve obrigações, ou que tenha que reportar os seus atos a alguém. Devido à sua fraqueza interior, à sua falha de caráter, o traidor tem necessidade de sentir-se no quotidiano, no controle das situações, o que não obtém por meio de competição justa, mas por meio de ações furtivas e desonestas.
O traidor acumula coisas a seu favor sem que os outros saibam, pois o seu sigilo confere-lhes uma sensação de superioridade e de mestria.
O traidor gosta de enganar pessoas e aprecia o fato de que os outros não estejam conscientes das sinistras intenções por trás da fachada benigna que ostenta.
O traidor, como muitos criminosos, é um dissimulador tão magnífico que seria capaz de ensinar a mudança de cores a um camaleão.
Todo o traidor aparenta ter uma ambição a ser alcançada e destaca-se por defender a auto imagem exaltada.
No traidor, a necessidade de obter distinção é distorcida e inescrupulosa. Existe desespero envolvido, como se tivesse que ser tudo, para não ter que acabar em nada. O objetivo final de conquista, para dar significado à vida, acaba por se perder. Enquanto o caminho para a realização de uma pessoa comum é bastante simples: - Aplicar esforços e recursos disponíveis para resolver problemas, o traidor, como o criminoso, não possui a firmeza de caráter necessária ao crescimento gradual e, por isto, almeja começar do topo. Quando descobre que isso lhe é negado, cai em fantasias de grandiosidade. Não importa o crime cometido pelo traidor, ele pode até reconhecer que a sua ação tenha sido criminosa, mas jamais se verá a si mesmo como um criminoso.
Um traidor jamais sente remorsos. É sua convicção de que não necessita de defender o seu comportamento perante a sociedade ou o seu círculo familiar. Conclui-se assim que: - Todo o ato de traição é individual.

Pedro Manuel Pereira

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