domingo, 12 de fevereiro de 2012

A DECADÊNCIA MISERÁVEL DO POVO PORTUGUÊS

«Atualmente a sociedade portuguesa oferece aspetos graves de desmoralização, de corrupção e de decadência. Estes aspetos refletem-se em todas as classes sociais, como em todas as corporações e agrupamentos, como particularmente nos indivíduos. O estado mórbido da sociedade portuguesa é, evidentemente, influenciado pela decadência das sociedades contemporâneas; mas por causas morais e psicológicas, falência da mentalidade, ausência de valores sociais e intelectuais, tornam possível que a sociedade portuguesa seja das mais degenerescentes.
A República constituiu-se sob as fórmulas da democracia; o governo provisório, saído da revolução de 1910, promulgou várias medidas de largo alcance social, político e religioso; porém, estas medidas são, ainda hoje, apenas princípios enunciados numa legislação farta mas incompleta. Depois deste governo, nenhum outro promulgou tais princípios. A mentalidade dos homens do Estado republicano decaiu; surgiram as rivalidades políticas, as lutas violentas e homicidas entre as fações dissidentes, que atualmente persistem e trazem o país agitado.
Pouco a pouco, quase insensivelmente o Estado republicano e todas as suas instituições caíram no domínio da reação; e este domínio é tão completo que os reacionários já não pensam em fazer o retrocesso das formas de governo: procuram unicamente reprimir brutalmente qualquer princípio de liberdade e de justiça. Portugal é o país que mais leis de exceção conta; os códigos penais e administrativos encontram-se tão deficientes e tão mal-organizados que as autoridades, sejam as da nação, sejam as de uma aldeia, permitem-se exercer o arbítrio sem que os lesados possam recorrer. Não há uma única lei de responsabilidade política.
Senhores de um estado tão desconjuntado, possuidores de todas as armas ofensivas, os reacionários realizam a sua obra liberticida e anti-humana, sua necessidade de travar grandes lutas para se imporem, dado que nenhuma força os contesta. Os grandes financeiros e os grandes industriais que são todos monárquicos ou católicos, predominam economicamente; impedem a reforma social mais insignificante. Preocupam-se mais com os jogos da bolsa do que com o progresso industrial. E com esta sua ação indigna, semeiam a miséria e o mal-estar por todas as classes, não excluindo a classe média.»


Edgar Rodrigues, in HISTÓRIA DO MOVIMENTO ANARQUISTA EM PORTUGAL

O texto que aqui se reproduz, escrito há mais de cinquenta anos, ilustra o leitor para um facto insofismável: - Infelizmente a História portuguesa repete-se, por ciclos, em todos os séculos, desde que Portugal é um Estado-Nação. Torna-se enfadonha de ler e – neste caso – de vivê-la, como é o caso de todos nós portugueses, no país de hoje. A comissão liquidatária da nação vem-se encarregando com esmero e eficiência - como serventuários bem pagos que são, das corporações bancárias internacionais - de desmantelar o tecido produtivo do país, incentivando os seus compatriotas a emigrarem, promovendo a fome e a miséria, porque a finalidade última dos seus patrões (ou donos?) é a de transformar Portugal num exemplo a seguir para a restante Europa comunitária. Cabe ao povo português abrir os olhos e usar de uma das prorrogativas que a Constituição da República Portuguesa – ainda – consigna no Artigo 21.º - Direito de Resistência: Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.

Pedro Manuel Pereira

2 comentários:

  1. Meu Querido e Estimado Amigo:

    Como é que o povo português pode resistir, para além da letra da Lei Constituinte da Nação, depois de ter sido domado durante 48 anos? Os 38 que se lhe seguiram mantiveram "sabiamente" o poder do guichet sobre o outro lado, o da bicha, ou da fila, se preferirem o brasileirismo, mantendo-se o medo e, como é natural, inversamente o poder do "desenrasca": "se eu lá estivesse fazia o mesmo!" O Poder tem-se aproveitado, de degrau em degrau, até se chegar a este descalabre moral. O actual PM é o resultado natural de todo este caminhar complacente; é a serpente venenosa neoliberal que a esmagadora maioria do povo português, com o seu "se lá estivese, fazia o mesmo", permitiu. Podemos, alguns de nós, ainda lutar? Claro! Devemos? Absolutamente. Mas fico-me por aqui… e de propósito…!

    Grande Abraço,

    Raúl Mesquita.

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