quarta-feira, 21 de outubro de 2009
E SE ELES TIVEREM RAZÃO? - NO BRASIL
Há aproximadamente uns dez anos passados, Leonardo Boff nos brindou com um
artigo, publicado na A Noticia, de Joinville, intitulado «E SE ELES TIVEREM
RAZÃO». Aqui vai transcrito, na íntegra, para que todos tomem conhecimento que
o que acontece é simplesmente a continuação daquilo que foi alertado pelo
teólogo, escritor e professor emérito da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro. Será do interesse nacional que o abaixo narrado seja motivo de reflexão por parte da classe política portuguesa, em especial do governo.
Todos estamos revoltados diante do poderio dos traficantes produzindo caos social no Rio de Janeiro. Queremos medidas drásticas, mas elas são apenas espalhafatosas. Meses depois volta a violência com mais ousadia e melhor articulação dos traficantes. À exceção de uns poucos observadores mais corajosos, as análises soem ser convencionais e pouco elucidativas. Mas importa ir à raiz da questão e encarar a verdade com honradez.
Qual é a verdade que não quer calar e que, pronunciada, nos acusa e que, por isso, tendemos a ocultar? É o reconhecimento de que os fatos ocorridos no Rio e alhures resultam de opções políticas que estigmatizaram desde sempre o nosso país. Fizemos um pacto social que não inclui todos, com uma ordem, um Estado, políticas e leis que são boas só para nós, os incluídos. Nesse pacto não cabem pelo menos 40 milhões de brasileiros. Pior ainda: obrigamos esses excluídos a se inserirem nessa ordem e a respeitarem nossas leis. Muitos deles pensam: por que respeitar se não somos respeitados? Por que a comunicação conosco se faz pela violência, forçando-nos a obedecer e a funcionar como atores agregados ao projeto que atende aos interesses dos que nos consideram apenas zé-povinho? Tenhamos um mínimo de sinceridade: o que se fez de consistente em termos de políticas públicas para os milhões que moram nas favelas e nos fundões de nosso País? Há muita raiva e decepção no meio do povo para com os políticos e o Estado excludente. A ausência culposa do Estado criou um vazio que foi sendo preenchido pelos traficantes. Eles oferecem trabalho, renda, subsistência básica a milhares de jovens para os quais o Estado e a sociedade não oferecem nenhuma alternativa decente. Organizou-se entre eles um outro pacto social, tácito, outra ordem, outras leis, o "Estado" bandido. Ai há líderes que ditam normas e praticam crimes injustificáveis. Sem eufemismos, o que está ocorrendo agora é o enfrentamento das duas ordens. A "outra ordem" tomou consciência de quão injusta, corrupta e hipócrita é a ordem vigente, a nossa. É em nome dela que os policiais sobem às favelas, arrombando portas, batendo, atirando, humilhando pessoas, em sua
maioria trabalhadora e inocente. Para nosso escândalo, não foi exatamente isso que a Carta do Tráfico disse, em publicação de 25 de fevereiro? Nela se testemunha o que todos sabemos e tememos reconhecer: "que os verdadeiros marginais não estão nas favelas, nem atrás das grades e, sim, no alto escalão da política... Será que entre os presos deste País existe um que tenha cometido crime mais hediondo do que matar uma Nação de fome e de miséria? Então basta. Só queremos nossos direitos." E a carta mostra confiança em Lula, pois confessa: " As pessoas humildes e pobres só contam com o senhor para sair desta lama." E se eles tiverem razão? Todos nos sentimos aliviados com a transferência de Fernandinho Beira Mar. Pode ser perigoso, pois nos faz desviar a atenção sobre nós mesmos, causa decisiva, embora não única, da desgraça social que produz a marginalidade e os líderes do tráfico. Se não fizermos outro pacto social, que inclua todos, VAMOS TER, DE TEMPOS EM TEMPOS, CAOS SOCIAL E PARALELISMO DE DUAS ORDENS, AMBAS PERVERSAS, CINDINDO DE CIMA ABAIXO O ÚNICO PAÍS QUE TEMOS.
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