Por Pedro Manuel Pereira
«Mantém por perto os teus amigos, mais próximos ainda, os teus inimigos»
Lema da SCU
A Sacra Corona Unita, é uma das quatro mais importantes
organizações mafiosas italianas, esta, da região de Puglia, no sul de Itália, em Brindisi, Lecce e Taranto e especialmente
ativa na capital, Bari, gerando com as suas atividades, mais de 4 000 milhões
de euros por ano.
A Sacra Corona Unita tem firmadas
amplas alianças com outras organizações criminosas internacionais, nomeadamente
as máfias russas e albanesas, os cartéis de drogas colombianos, as tríades
chinesas, e a Yakuza japonesa.
É relativamente recente, tendo nascido próximo de Trani, na noite de Ano
Novo de 1981. Foi fundada por Giuseppe Rogoli e possui mais de 50 clãs com
cerca de 2 500 membros.
Tem ligações à ‘Ndrangheta, à Cosa Nostra e à Camorra. As suas atividades são essencialmente no âmbito do tráfico
de drogas, prostituição, extorsão, corrupção política e lavagem de dinheiro.
No ano do seu nascimento, Rafaelle Cutolo, chefe da Nova Máfia Organizada, decidiu expandir-se para fora do seu
territorio e fundou a Nova Camorra
Pullesa, que se inseriu, sobretudo, na provincia de Foggia, na região de Puglia (ganhando assim acesso às cidades portuárias do Adriático) mas também na Croácia,
Sérvia, Albânia, Rússia e outros países.
A chegada da Camorra não caiu bem aos malviventes
locais, que intentaram criar outra organização para enfrentar R. Cutolo.
Giuseppe Rogoli, já então membro da ‘Ndrangheta,
pediu autorização ao subchefe Umberto Belloco para criar a ‘Ndrangheta em Puglia,
que em seguida se passou a denominar Sacra
Corona Unita.
No que reporta à droga, esta normalmente chega à Europa
através de portos em Portugal, Espanha, Bélgica, Holanda, Alemanha e Áustria e é
enviada para Itália a fim de ser entregue aos clãs da ‘Ndrangheta que, por sua vez, a adquirem com o apoio financeiro de
membros da Cosa Nostra, e da organização
que abordamos, sendo que o papel da ‘Ndrangheta
é fundamental, uma vez que mantém relações «muito sólidas» com os
narcotraficantes sul-americanos.
Aqueles que aspiram a entrar na fraternidade são
motivados por um desejo de mobilidade social e económica e, muitas vezes, pela
necessidade da procura da comunhão com uma
famiglia unida com origens semelhantes.
Antes da concessão do poder, o membro admitido deve
passar por um período probatório de 40 dias, para demonstrar que possui os
pré-requisitos necessários para uma carreira criminosa, e não tem nenhuma
ligação com a polícia. Na conclusão bem-sucedida, o candidato é formalmente
empossado na organização como um manovalanza,
um trabalhador.
A Sacra Corona Unita é composta
por tres níveis hieráquicos diferentes. Os seus membros ascendem de um ao outro
nível através de riti battesimali
(ritual de batismo). O simbolismo religiosa é provável que seja uma
reminiscência do seu passado junto à Camorra.
No segundo nível, a Società Maggiore
compõe-se de dois subníveis ou categorías. Lo
Sagarro, que só se concede aos membros que mataram pelo menos tres pessoas
pela organização. O indivíduo pode doravante formar a sua própria equipa de picciotti, conhecida por filiale. Após a instrução, é dada ao
membro uma arma de fogo, uma pílula de cianeto (para ser utilizado em caso de dificuldade, de modo a não trair a
sociedade. A morte é preferível à colaboração com as autoridades), algodão (que representa o Monte
Bianco, nos Alpes ocidentais, com 4708 metros de altura, considerado
sagrado), um limão (simbólicamente para tratar
as feridas dos camaradas), uma agulha para picar o dedo indicador da mão
direita, lenços de seda branca (que representam a pureza de espírito) e uma spartenza (oferta que geralmente são
cigarros).
O último e mais alto nível da hierarquia é a Segreta Società, o núcleo de poder da organização a partir de onde
são tomadas decisões trancendentes, que os restantes membros devem seguir.
Os que alcançam o topo da organização fazem
um juramento de lealdade, o de nunca trair o padrinho ou outros homens de
honra, da seguinte forma: «Prefiro
arrancar o meu coração e entregá-lo ao meu padrinho, cortá-lo e distribuí-lo
pelo Conselho Geral do que trair a minha irmandade sagrada. Juro, além disso,
solenemente, nos bons e maus momentos, na calma e na tempestade, que o meu
padrinho é inviolável, meu irmão de sangue, e nem mesmo um dilúvio universal
pode colocar um fim a esta união, selada com o nosso sangue».
Os Sagarro reconhecem-se
entre si por uma rosa tatuada no pé direito ou pela posição de uma carta de
baralho napolitano numa posição pré-definida.
A Origem Etimológica
O nome desta organização, fortemente ligada à
religiosidade popular, é composta por tres palavras:
- Sacra (sagrada), porque quando se
filia um novo membro na organização, este é «batizado» ou «consagrado» como num
sacramento religioso;
- Corona (coroa), devido ao facto de nas
procissões religiosas se utilizar o rosário (ou coroa);
- Unita (unida), tal como são unidos e
fortes os elos de uma cadeia de união.
O Juramento
Os membros desta organização, tal como sucede em outras organizações do
crime italianas, fazem um juramento de lealdade e fidelidade, inspirado na
religião e na pertença a uma familia ou um clã, que é o seguinte:
«Giuro su
questa punta di pugnale bagnata di sangue, di essere fedele sempre a questo
corpo di società di uomini liberi, attivi e affermativi appartenenti alla Sacra
Corona Unita e di rappresentarne ovunque il fondatore».
Os
Arrependidos
Nos últimos anos, surgiram os primeiros «arrependidos»,
cujo testemunho perante a justiça permitiu a detenção e condenação de alguns
membros da SCU, nomeadamente de
Francesco Campana, que havia sacado os rendimentos das organizações das mãos de
Capos históricos.
Campana acabou na prisão em 23 de abril de 2011,
sendo que quatro meses antes haviam sido detidos 18 membros, entre chefes e
organizadores.
NOTA
Para
o leitor interessado em aprofundar este tema, pode consultar imensa
bibliografia em diversas línguas, assim como artigos publicados na internet.
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