terça-feira, 1 de julho de 2014

A ORDEM SOBERANA MILITAR DE MALTA - DAS ORIGENS À ATUALIDADE

Por Pedro Manuel Pereira



A Ordem Soberana e Militar de Malta (OSMM) é, provavelmente, uma das instituições mais elitistas do mundo, acolhendo no seu seio alguns dos mais poderosos dirigentes mundiais.
Sob a capa da respeitabilidade que lhe é conferida pela sua ligação umbilical ao Vaticano, a pretexto de ser uma organização com objetivos humanitários, dedica-se nos tempos que correm a sustentar grupos extremistas de direita.
Esta Ordem proclama que a sua origem remonta aos tempos da Cruzadas, período em que esteve envolvida militarmente na defesa dos lugares santos e no combate aos infiéis. Não obstante e em boa verdade, hoje em dia não é mais do que uma sociedade secreta ligada a diversos serviços de inteligência ocidentais, nomeadamente à CIA.
O seu território é um prédio e o seu jardim, o Palazzo Malta, na Via Condotti, em Roma, ocupando uma área de 6 km2, nada tendo a ver atualmente com a ilha situada no Mediterrâneo que porta o mesmo nome.
A Ordem de Malta e o seu território foram reconhecidos em 1966. Muito embora não seja reconhecida como um Estado, possui status como organização internacional, tal como a ONU ou a Cruz Vermelha. No seu território, em Roma, residem tão só três pessoas, o Príncipe, o Grão-Mestre e o Chanceler. Todos os seus membros possuem nacionalidade maltesa, a par da sua nacionalidade de origem. Emitem os seus passaportes e os seus selos. 
O seu Grão-Mestre é Frey Mattheu Festing, tendo esta organização como objetivo aparente, proporcionar «assistência humanitária», para o que mantém como bases logísticas próprias, clínicas, hospitais e ambulâncias que proporcionam ajuda a refugiados, de forma política, vindo a atuar nos últimos anos como força de apoio, sobretudo nos conflitos em África.
A Ordem, cujo patrono é S. João Batista, é uma organização humanitária soberana internacional, reconhecida como entidade de direito internacional, distribui títulos honoríficos e de cavalaria aos seus membros. Calcula-se que existam 12 500 Cavaleiros da Ordem de Malta espalhados um pouco por todo o mundo, 80 000 voluntários permanentes e 20 000 profissionais da saúde associados, espalhados pelos cinco continentes.
O mais influente grupo no seu seio é constituído por poderosas famílias aristocráticas como os Habsburgo, os Hohenzollern e os Luxemburg, para além da nata da aristocracia germânica.
A OSMM atua como um polo aglutinador do mais extremado catolicismo conservador, estabelecendo a ponte entre a Igreja, os grandes negócios, o establishment político e as redes de espionagem ocidentais.
A origem histórica desta associação nasceu há mais de 900 anos, quando os Cavaleiros Hospitalários de S. João, constituídos por comerciantes da península itálica, fundaram um hospital para cuidar dos peregrinos que demandavam Jerusalém.

Os peregrinos europeus protagonizaram, assim, uma copiosa fonte de rendimentos para a Ordem, cujos proventos empregaram na aquisição de propriedades em distintos lugares do Mediterrâneo e no estabelecimento de delegações, chegando a dominar pontos estratégicos da ilha que lhes daria o nome.
Além disso, a Ordem possuía um corpo de homens armados para defender os seus interesses mercantis, denominados Cavaleiros de S. João, que eram não só defensores da Igreja, mas de igual forma vendiam os seus serviços a quem melhor lhes pagasse.
Dada a sua estreita relação com o Papa, nenhum governante se atrevia a desafia-los. A Igreja por seu turno premiou os seus méritos com um status diplomático especial, autónomo dos poderes soberanos.
Suprimido por Napoleão em 1878, o controlo da ilha de Malta por esta organização, a mesma mudou-se para Roma, e em 1929 recebeu o reconhecimento especial de Mussolini, pai do fascismo, tendo, durante a 2ª Guerra Mundial, colaborado estreitamente com as forças do Eixo: Alemanha, Itália e Japão. No final do conflito bélico, prestaram auxílio à fuga de vários criminosos de guerra nazis, incluindo o notório Klaus Barbie, oficial das SS, conhecido pelo «carniceiro de Lyon». A operação ODESSA, que permitiu a fuga de centenas de milhar destes criminosos foi financiada pelos fundos do Banco do Vaticano.
A figura principal deste episódio foi Reibhard Gehlen, general nazi que tinha tido o cargo da inteligência na frente militar Este. Destacado espião, membro da SOMM, teve a missão de organizar a fuga para fora da Europa dos nazis, fascistas e colaboracionistas no término da guerra. No entanto, a atividade da SOMM não se limitou a atividades pro nazis.
A partir do século XI, a Ordem de Malta estendeu as suas atividades ao anticomunismo «militante», tendo no decurso dos anos aberto as suas portas aos mais destacados capitalistas e ardentes defensores da Igreja.
Em 1927 a SOMM fundou uma delegação nos Estados Unidos, tendo para tanto contado com apoios de destacadas personalidades como os Kennedy, os Ford, etc. - O atual chefe dessa filial é J. P. Grace, industrial que manteve laços estreitos com o Terceiro Reich.
Nos dias de hoje, mantém relações diplomáticas com o Vaticano e outros 104 países - onde tem embaixadas - entre os quais se inclui Portugal (com Grão-priorado no Crato, Alto Alentejo) e de acordo com as
leis internacionais é reconhecido como o mais pequeno Estado do mundo, tendo representação na ONU, com o estatuto de observador.
A título de curiosidade refira-se que pelo facto dos seus membros possuírem estatuto diplomático, os mesmos gozam de imunidade internacional.



ALGUNS DOS SEUS DETACADOS MEMBROS
J. J. Angleton. Foi chefe da contrainteligência da CIA e esteve relacionado com atentados terroristas em Itália e na Grã-Bretanha. Foi-lhe concedida uma das mais altas distinções da Ordem de Malta, a Grã-Cruz de Mérito, pelos seus esforços na consolidação e expansão da organização de direita, Acção Católica.
Destacados membros da Ordem de Malta estiveram implicados nos sangrentos atentados ocorridos em Itália durante os anos 60 e 70, como o príncipe Junio Valerio Borghese, criminoso de guerra (2ª Guerra Mundial) condenado à morte pela Resistência e resgatado por Angleton e o general G. de Lourenzo, «capo» da inteligência militar italiana, tendo sido também, deputado pelo partido fascista MSI.
O regate de Borghese durante a 2ª guerra Mundial foi ordenado pelo almirante E. Stone, procônsul americano das forças de ocupação em Itália, que era igualmente membro da SOMM.
Luigi Gedda. Chefe da Acção Católica, que de acordo com Angleton foi fundada pela CIA conjuntamente com o Comité Cívico do Vaticano, presidido por Gedda.
Na galeria destas personalidades merecem ainda destaque:
- Alexander Haig;
- Clare Booth Luce, mulher do fundador da Time/Life, mais tarde embaixador dos EUA para o Vaticano.
- F. Shakespeare – diretor da organização de extrema-direita, Heritage Fundation;
- Almirante J. Watkins, antigo chefe de operações das forças armadas dos Estados Unidos;
- J. Buckley (falecido), um dos cabecilhas do aparelho propagandístico anticomunista;
- Reinhard Gehlen, criminoso de guerra Nazi;
- Heinrich Himmler, criminoso de guerra Nazi;
- Kurt Waldheim, ex-secretário geral da ONU e criminoso de guerra Nazi;
- Franz von Papen, patrocinador de Hitler;
- Fritz Thyssen, financiador de Hitler;
- Rupert Murdoch, magnata da comunicação social;
- Tony Blair, ex-1º ministro britânico;
- Pat Buchanan, destacado membro da direita americana;
- William F. Buckley, Jr., autor e comentarista conservador americano;
- Precott Bush, Jr., senador dos Estados Unidos pelo estado de Conneticut e banqueiro em Wall Street. Pai do ex-presidente dos EUA George H. W. Bush;
 - Edward Egan, Arcebispo de Nova York;
 - Ted Kennedy, senador;
- David Rockefeller, banqueiro e patriarca da família com o mesmo nome;
- Phyllis Schlafly, política ultraconservadora republicana;
- J. Edgar Hoover, ex-diretor do FBI;
- Joseph Kennedy, ex-presidente dos EUA;
- Henry Luce, poderoso empresário, dono da Time/Life;
- Thomas ‘Tip’ O’Neill, político conservador americano;
- Ronald E. Reagan, Ex-presidente dos EUA;
- Allen Dulles, proeminente advogado e diplomata americano. Foi o primeiro civil a ser Diretor da CIA;
- Avery Dulles  professor da Universidade Fordham, escritor, teólogo, sacerdote da Companhia de Jesus e cardeal;
- Frank C Carlucci, ex- diretor da CIA e embaixador em Portugal;
- Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul;
- Rick Santorum, advogado e político americano. Membro do Partido Republicano
- Oliver North, ex coronel dos fuzileiros navais  dos Estados Unidos;
- George H.W Bush, ex-presidente dos EUA;
- Augusto Pinochet, ex-ditador do Chile;
- William Randolph Hearst, magnata da imprensa;
- Francis L. Kellogg; mega empresário…
A OSMM colaborou em tempo com a American Foundation, recolhendo 10 milhões de dólares para as forças anticomunistas na Polónia, Afeganistão e Vietnam.
Foram dirigentes dessa fundação W. Simon, ex-secretário de Estado do Tesouro americano e Cavaleiro da Ordem, e Z. Brzezinski, Conselheiro de Segurança Nacional no governo de Carter. Além do mais, no decorrer da investigação do escândalo Irão-Contras, a OSMM foi reconhecida como fonte da maioria do dinheiro recolhido para os Contras.
Quanto aos seus membros mais proeminentes na Europa refira-se:
- Amschel Mayer Rothschild (1744–1812), banqueiro alemão de origem judaica, fundador do império bancário da família Rothschild;
- General Reinhard Gehle, chefe do serviço secreto de Hitler;
- O vice-chaceler de Hitler, Franz Von Papen;
- O ex-soberano de Espanha Juan Carlos;
- O ditador espanhol Francisco Franco;
- O ex-presidente de França, Valeri Giscard D’Estaing;
- O seu chefe de espionagem, Alexandre de Marenches;
- Ernst von Freyberg, atual presidente do Banco do Vaticano, eufemisticamente designado, IOR-Instituto para as Obras Religiosas);
- Willian F. Buckley, porta-voz da fação «Bombas de Jesus» do Catolicismo Romano…
- Diversos membros da Loja P-2 italiana, ligada ao escândalo financeiro do Banco Ambrosiano, Vaticano…
A propósito das ligações italianas desta Ordem, convém recordar o seguinte:
Há poucas décadas, a comunicação social de todo o mundo noticiou amplamente um escândalo envolvendo o Vaticano, a Maçonaria, a Máfia, a CIA, o Banco Ambrosiano e a Ordem de Malta. No contexto deste escândalo aparecem associados nomes de personalidades de destaque no mundo financeiro, nomeadamente Licio Gelli, Michael Sindona, Roberto Calvi, Arcebispo Paul Marcinkus e outros ligados à tal Loja P-2.
No dia 18 de junho de 1982, Roberto Calvi foi encontrado enforcado na Ponte de Blackfriars (Londres). Calvi tinha saído apressadamente da Itália onde foi acusado de várias fraudes.
Doze anos antes, em 1970, Gelli e seus companheiros da Ordem de Malta, nomeadamente Michel Sindona, assumiram o controlo das Finanças do Vaticano com a conivência do Arcebispo Paul Marcinkus. Este membro da Igreja foi gerente do Banco do Vaticano e fundou nas Bahamas outro banco, de nome Banco Cisalpine, que geriu juntamente com o enforcado Roberto Calvi.
Como Presidente do Banco Ambrosiano, foi um dos principais administradores das transações financeiras do Vaticano, devido às ligações umbilicais entre o Banco Ambrosiano e o Banco do Vaticano (IOR). As suas manigâncias e fraudes colocaram o Vaticano num estado financeiro periclitante, com um deficit de centenas de milhões de dólares.
Na verdade a famigerada Loja P2 não era uma genuína Loja Maçónica, mas antes, uma capa criada e financiada pela Igreja de Roma para tapar dos olhos dos incautos, os cambalachos políticos e financeiros.


A P2, da qual era membro (igualmente da Ordem de Malta) Roberto Calvi, foi amplamente investigada por magistrados italianos, acusada de várias fraudes financeiras, de lavar dinheiro da Máfia, de infiltrar inúmeros agentes seus no governo italiano e de conspirar para instalar um governo fascista em Itália, através de um golpe de Estado.
Era Grão Mestre da Loja P2 o Licio Gelli, simultaneamente agente da CIA, da KGB e membro da Ordem de Malta.
Como membro da Ordem de Malta, Licio Gelli mantinha laços fraternais com Willian Casey, chefe da CIA e também Cavaleiro da Ordem de Malta e com o General Alexander Haig, sob a gestão presidencial de Ronald Reagan. Isto explica porque Michele Sidona, um dos colegas de Gelli nas fraudes bancárias, foi convidado especial de Nixon na Casa Branca.
Toda esta trama de ligações perigosas por detrás dos bastidores, acobertados na Ordem de Malta, Licio Gelli, Willian Casey, General Haig, Roberto Calvi, Vaticano, KGB etc, encontra-se amplamente descrita no livro de Gordon Thomas, The Year of Armaggedon.
De acordo com o citado autor, o Papa João Paulo II tinha encontros semanais com agentes da CIA e usava os Cavaleiros de Malta como mensageiros de secretas comunicações com o quartel-general da CIA em Alexandria, Virgínia.
Ainda segundo vários investigadores, a Ordem de Malta é a polícia secreta do Vaticano e os seus membros são ajuramentados para tudo fazerem no sentido de destruir o Liberalismo, o Protestantismo, a Democracia, a Maçonaria e tudo mais que considerem pôr em risco a Omnipotência Papal.


E por falar em CIA… Quem formou esta agência de espionagem norte-americana foi um Cavaleiro da Ordem de Malta,  que é considerado, portanto o seu progenitor. Com o decorrer dos anos, foram chefes da CIA outros membros da Ordem.
Por seu turno quem formou o FBI foi um Cavaleiro da Ordem de Malta, membro do Conselho da Universidade Católica da América, de seu nome Charles Joseph Bonaparte.
A Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta (designação completa), também conhecida por Ordem do Hospital, Ordem de São João de Jerusalém ou Ordem de São João de Rodes, considera-se como portadora da tradição do Cruzados e luta contra o infiel, quer seja árabe, judeu, comunista, socialista... assumindo-se como baluarte da tradição conservadora no seio da Igreja.
Em jeito de conclusão citamos o jordano MP Jamal Muhammad Abidat, que no editorail de um jornal diário dos Emiratos Árabes Unidos, num artigo intitulado The Knights of Malta – More Than a Conspiracy, escreve:
«A dolorosa saga da história Árabe-Muçulmana evoca as batalhas travadas nas Cruzadas, no século XI, quando os Cavaleiros de Malta iniciaram as suas operações como milícia cristã cuja missão era defender a terra conquistada pelos cruzados. Estas memórias voltam violentamente à memória com a descoberta de vínculos que as chamadas empresas de segurança do tipo Blackwater tem com a Ordem de Malta. Não é exagero. A Ordem de Malta é um governo secreto ou o governo mais misterioso do mundo.»
NOTA

Ao fechar este artigo, ficamos a saber pela comunicação social da adesão a esta "benemérita" corporação de mais um português, Mota Soares (aquele que andava de mota), ministro dos pobrezinhos. Ficou muito bem nas fotos com um balandrau com a cruz da ordem ao peito, de olhos contritos pespegados no chão.

ORIENTAÇÃO BIBLIOGRAFICA
Obras Impressas
. Cintreras A. de: Aventuras del capitán Alonso de Contreras (ED. Facsimil), Madrid, Ed. Maxtor, 2009.
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. López Nadal, G. A.: Malta en la estrategia del corsarismo mallorquín en la segunda mitad del siglo XVII, Actas primer Coloquio Internacional Hispano Maltés de Historia : La Valetta, 7 y 22 de mayo de 1990, 1991.
. O'Donnel, H.: La Soberana Orden de Malta y el Mar. Actas del Primer Simposio Histórico de la Orden de San Juan en España: Madrid, 1990, 2003.
. Pérez Peña, R.: La soberana Orden de Malta a través de diez siglos de historia y su relación con la acción humanitaria. Tesis. Dirs: Dr. D. Alejandro J. Rodríguez Carrión y Dra. Dña. Magdalena M. Martín Martínez. Departamento de Ciencia Política, Derecho Internacional Público y Derecho Procesal. Málaga, Universidad de Málaga , 2009.
. Rey Castelao, O.: Las órdenes militares en tiempos de Carlos V: algunas consideraciones sobre las de Malta y Santiago. Carlos V europeísmo y universalidad: [congreso internacional,Granada mayo 2000] / coord. por Francisco Sánchez-Montes González, Juan Luis Castellano Castellano, Vol. 4, 2001.
. Sánchez Fernández, J.: La diplomacia española y la rendición de Malta (1798). Investigaciones históricas: Época moderna y contemporánea, nº 19, IH, 1999.
. Spagnoletti, A.: Introducción a la historiografía sobre la «lengua» de Italia de la orden de San Juan de Jerusalén en la Edad Moderna. Stud, his., H. a mod., 24, Ediciones Universidad de Salamanca, 2002.
Artigos na Internet



1 comentário:

  1. Então e o Bochechas, que costuma estar em todas, não alinhou nesta?
    Já agora, o tão bem informado camarada Pereira não é capaz de esclarecer a gente sobre aquela história da mala cheia de notas que entregaram, no Luxemburgo, ao "irmão" Godinho de Matos, para a fazer chegar ao sobredito Bochechas? Vá lá, conte, a não ser que isso por alguma razão o abespinhe e eu não quero vê-lo amofinado.

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