Por Pedro Manuel
Pereira
Encontra-se
em curso de modo acelerado, uma mudança – quase – radical nas estruturas, funções
sociais, económicas e políticas do Estado, que vão conduzir o país a breve
prazo para uma ditadura sem suporte ideológico, porém, muito para além de
qualquer ideologia conhecida de extrema-direita até hoje posta em prática em
qualquer parte do mundo.
Em
parte devido aos mercados, a quem caninamente obedece este governo – como
outros – na EU e não só, devido à selvajaria capitalista instalada e à
globalização económica.
Para
tal desiderato, encontram-se em marcha alterações à Constituição da República, «pormenor
de somenos importância» para os partidos do centrão, quer os que compõem o
atual governo, quer o do principal partido da oposição, que em dois governos de
desgoverno, conseguiu a proeza de atirar o país para um buraco negro,
culminando com o negócio ruinoso do ilusório resgate da dívida pública pela
tripeça composta pela Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco
Central Europeu, a quem escancarou as portas da Nação.
Que
não restem dúvidas a ninguém, que a revisão constitucional encontra-se a ser
cozinhada de acordo com as diretrizes de sinistras corporações internacionais,
cujo rosto visível negoceia neste momento com o governo português, acoitado no
famigerado bando denominado de troika, importado pelo ex-1º ministro Sócrates –
como acima referido - sem dar cavaco ao povo, salvo seja o Cavaco!
Paralelamente,
esta gentalha, mancomunada com o governo(?) continua a apertar o garrote no
pescoço dos portugueses. Faz parte do plano: conduzir o povo para patamares
mínimos de miséria, para dessa forma melhor o poder controlar, aproveitando o
facto do governo(?) – que se refundiu recentemente com a inclusão de novos
secretários de Estado inodoros, assépticos e incolores – estar a gerir os
negócios da governação(?) em regime de ditadura sui generis, apoiado pelo presidente Cavaco.
Recordemo-nos
que ao longo deste ano Portugal tem estado em – quase – estado de sítio, com a
Constituição suspensa, justificação dada no acórdão do tribunal que a tutela,
que considerou ter de haver um regime de exceção à mesma por blá, blá, blá,
blá, patati, patatá este ano, face à ilegalidade do governo em ter surripiado
os subsídios dos funcionários públicos, pelo que, a Constituição só voltará a
vigorar conforme o seu texto, a partir de janeiro do próximo ano. Tribunal dixit.
Ou
seja, até 2013 o país vai vivendo sem Constituição (corpo legislativo
fundamental da Nação) e o povo sem os seus direitos constitucionais
salvaguardados, propiciando desta forma que o governo(?) refundido, cometa
sobre o povo, sobre a Nação, os desmandos que melhor lhe aprouver, como vem
acontecendo.
Saliente-se
que Siza Vieira, o arquiteto português mais premiado e internacionalmente
prestigiado, afirmou recentemente - na senda de outras personalidades - que em
Portugal se «vive de novo em ditadura», numa expressão clara da prática
governativa e do sentir da maioria dos portugueses, sobretudo os que viveram nas
décadas salazarentas.
Entrementes,
de acordo com os resultados de um inquérito realizado pelo Instituto Superior
de Ciências Sociais apresentados em Lisboa, a satisfação dos portugueses com a
democracia, atingiu o mínimo histórico de sempre. A maioria dos cidadãos não
acredita nesta dita democracia. Por outro lado, é referido, ainda, que se
assiste à consolidação de um sentimento anti partidário.
Por
outras palavras: a maioria dos portugueses não se revê nos partidos políticos e
nas instituições do regime.
Temos
aqui, portanto, a «grande obra» produzida pelos partidos políticos desde 1974
para cá: - as responsabilidades e culpas pelo fracasso da democracia, do
sistema político/partidário em Portugal, devem-se, exclusivamente, a todos
quantos têm feito da política o seu modo de vida, a sua «profissão», e às
várias secções partidárias, autênticos feudos – com laços de vassalagem,
inclusivamente - de clientelas dóceis e servis aos seus senhores, que almejaram a proeza de produzir
em pouco menos de quarenta anos, uma classe de novos-ricos.
Assim,
a desilusão e o descrédito para com a democracia que se apoderou da maioria dos
portugueses, decorre, maioritariamente, de uma vontade – ou tendência – expressa
pelos últimos governos, que tende a alinhar por baixo os valores democráticos conducentes, inclusivamente,
à sua eliminação.
Aberta
esta autêntica caixa de Pandora, vimos e ouvimos todos os dias nos últimos
meses, nos meios de comunicação social, diversas figuras públicas de variados
quadrantes socioprofissionais, nomeadamente alguns empresários e intelectuais,
fazerem a apologia mais ou menos encoberta da ditadura, porque – dizem – a «democracia
está podre» e por razões acumuladas é necessário «mudar o sistema político» nem
que seja com «um novo género de ditadura», segundo Joe Berardo.
Quando
em 18 de Novembro de 2008 a ex-ministra Manuela Ferreira Leite afirmou que «seria bom haver seis meses sem democracia», para
o governo poder implementar as medidas que ela entendia que deviam de ser
feitas, mais não expressou em público o que muitos políticos de vários
quadrantes diziam – e dizem – em privado. Voltou de novo a fazer semelhante
afirmação na semana transata em Coimbra.
Poderia ter acrescentado – dizemos
nós – que os governantes que não têm competências nem saberes para governar em
regime democrático, em liberdade, só conseguem implementar os seus programas merdosos
com repressão, ou seja, em ditadura.
Infelizmente a senhora Ferreira
Leite esqueceu-se de acrescentar que a classe política portuguesa – salvo
honrosas exceções – sofre de uma variante da doença das vacas loucas, que
resulta da sua falta de bom senso para lidar com a liberdade de expressão,
com ideias inovadoras e, sobretudo, com gente mais inteligente e sabedora que
eles – que até neles votaram - porque a doença que os acomete após serem
eleitos, manifesta-se – sobretudo – na sobranceria, na cagança e no desprezo
com que lidam com os seus concidadãos, numa atitude comum aos néscios e
imbecis. Eles e elas, é claro. Neste aspecto lembramo-nos de um velho ditado:
«Se queres ver um vilão, mete-lhe um pau na mão».
Por tudo isto, quando o leitor chegar
ao final da leitura deste texto – que é pequeno – mais umas dezenas de
portugueses terão abandonado o país. Fluxo emigratório semelhante ao vivido nos
anos sessenta em tempos da ditadura.
Nessa altura - tal como hoje - as
causas fundamentais eram a falta de emprego, a miséria e as desigualdades sociais, entre
outras.
Estamos em crer que a fuga dos
cidadãos nos dias de hoje é, em média, superior à dessa década passada, tanto
mais que o facto de Portugal se encontrar – por enquanto – na EU, com
fronteiras abertas entre Estados comunitários e haver mais e melhores meios de
transporte, facilitadores da saída, torna-se difícil controlar ou saber o
verdadeiro número hemorrágico. Neste quadro não incluímos o índice da debandada
para o Brasil, Angola, Moçambique e outros países além Atlântico, mais fácil de
contabilizar, mas pecando por defeito e não por excesso, uma vez que o visto de
«turista» nos passaportes, nem sempre significa que os seus portadores vão de
férias.
Acrescidamente lamentável ao facto
dos portugueses terem de emigrar para sobreviver, é a qualidade de mão-de-obra
qualificada que sai pela porta fora todos os dias. Gente que levou anos a
formar-se - e em alguns casos com sacrifícios - muitos deles em universidades
públicas, sustentadas pelo erário. Porém, esses cidadãos estão no seu direito de
procurarem a sua sobrevivência. O Estado não pode é ter direitos sobre eles.
Esvaído o país de gente jovem,
exaurido pelo peso da canga dos impostos, do desemprego, da fome e da miséria,
o povo que fica ou se deixa espezinhar pelo poder, ou se revolta, como sempre
aconteceu em situações limite de repressão dos governos sobre a Nação, ao longo
da sua História.
Entretanto o atual governo, verdadeiro assassino
social, continua a sua obra de extermínio da população: os jovens – e menos
jovens – compelidos a fugirem do país para sobreviverem, e os idosos que ficam
- grande parte deles - a morrerem mais cedo do que seria previsto, à míngua de alimentos
suficientes ao seu sustento e/ou por falta de medicamentos receitados para as
doenças de que padecem, porque as suas míseras pensões não chegam para aviar as
receitas, nem para comerem.
O governo consegue, assim, a
proeza de reduzir grande parte da despesa pública recorrendo ao assassinato
social.
Mau grado as distâncias
cronológicas e as diferenças de contexto, o panorama político, económico e
social que se vive hoje em Portugal é semelhante ao dos tempos de estertor da
1ª República, que culminou no golpe militar do dia 28 de maio de 1926 que
instaurou uma ditadura militar e, posteriormente, a ditadura salazarenta.
Talvez seja oportuno recordar que
nessa altura quase toda a população apoiou a revolução militar, um movimento eivado de equívocos e é nesse sentido que se explica que a ele tenha aderido muita gente de boa-fé, que lenta e gradualmente
nos tempos que se seguiram se afastou ou foi afastada desse assalto ao poder.
O golpe
militar contou com o apoio das classes dominantes, as chamadas «forças vivas», as classes intermédias,
funcionários públicos, empregados de comércio, classe operária: operários industriais e assalariados
agrícolas.
No
estado caótico em que o país de encontrava, quer económico, quer social – como
hoje - era previsível um golpe militar no estilo do ocorrido. A sua amplitude e
sucesso contaram com o decisivo contributo e apoio da classe operária e do
movimento sindical, vítimas do regime republicano.
Todos
estavam de acordo em fazer intervir o exército, onde o nível de vida dos oficiais havia atingido um estado degradante. Aludindo ao brilho dos galões, o
povo tinha-os rotulado de «miséria dourada».
O equipamento
e o armamento eram obsoletos. Por outro lado, o exército durante
anos havia sido preterido a favor da Guarda Nacional Republicana.
Desta
forma, a República dissolvia-se por falta do apoio maioritário dos portugueses.
Ouvimos
hoje, de novo, amigos e conhecidos a dizerem a medo que, «a minha política é o
trabalho», «não quero falar de política», «a política é para os políticos» e
conselhos como: «não escrevas nada sobre política em lado nenhum», além de
outros mimos medrosos que tais.
Em locais
públicos, em cafés, fala-se em surdina com os interlocutores ao mesmo tempo que
se vai observando quem está nas mesas em redor, com desconfiança, evita-se
falar ao telefone sobretudo no que reporta a política. Dizem-nos que os
telefones e telemóveis estão sobre escuta e que há bufos à paisana a escutar o
que as pessoas dizem. Temem-se represálias nos empregos, nas escolas, nas
universidades. Fala-se em chantagens nos locais de trabalho… .
Como
antes do 25 de Abril de 1974, vemos, ouvimos e sentimos o medo e a desconfiança
a germinar entre as pessoas.
A DITADURA SEGUE DENTRO DE MOMENTOS
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