A identidade
portuguesa encontra-se desde há séculos em latência, numa forma de vida em
perpétua busca da sua individualidade. Fernando Pessoa soube explicá-lo muito
bem na sua obra: Mensagem. O
português é um militante da sua impossibilidade. Ser português constituiu, no
fundo, uma forma de heroísmo.
Num Ocidente laico e hedonista, a sociedade
portuguesa tem dificuldade em aceitar o estranho sacrifício que conserva a
identidade lusitana. É aqui que se encontra como que um paradoxo: um dos
problemas de Portugal no último quartel do século XX foi o seu «excesso de
felicidade», resultante da restauração da democracia.
A última invasão
estrangeira ocorreu em 1807 e a última guerra civil terminou em 1834, com um
país mais dividido que nunca entre liberais e conservadores (estes últimos
derrotados) após dois anos de guerra fratricida que deixou o país exaurido em
termos económicos e demográficos. Para além destes acontecimentos marcantes,
todas as outras grandes catástrofes que assolaram o país em séculos passados,
constituem para os portugueses como eventos ocorridos entre o sonho e a ficção,
quando não acontece, como entre a maior parte dos cidadãos, um desconhecimento
total desses eventos. Após a instauração da ditadura salazarista, Portugal foi
um país da «5ª dimensão», uma vez que esteve «adormecido».
Por tal facto, hoje,
passadas mais de três décadas da restauração da democracia, o país continua sem
saber para que lado se voltar em termos de estratégia de sustentação económica.
Não sabe como despertar da letargia a que se votou – e foi votado - durante
décadas. No entanto, este problema, que parecia ser especificamente português,
tem-se revelado, com a crise económica que estamos a viver, que afinal,
actualmente, é comum a todo o mundo ocidental.
Com o despoletar da fragilidade
da economia global, Portugal sentiu primeiro os sintomas de uma crise que
afinal é de todos. Efectivamente, a Península Ibérica constitui um lugar
profético. Profética foi a nossa relação com o mundo árabe, a partir de 711: o
anuncio da tensão que marca, a actualidade, as relações entre as nações
ocidentais e o islão. Profética foi também a nossa expansão colonial: um
bosquejo da actual globalização.
Na estrada de saída que é o presente do
Ocidente, Portugal sente-se, de alguma forma, no seu ambiente. O futuro que os
ocidentais de uma forma geral não têm hoje é o futuro que Portugal sempre teve.
Por tal facto, os portugueses tem a capacidade de inventar e de reinventar-se.
Sem sombras de chauvinismo são, sem dúvida, uma das chaves do PORVIR.
P.M.P.
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