De
forma avassaladora e sufocante, em países comunitários como a Irlanda, Grécia,
França, Inglaterra, Espanha, Itália e Portugal, encontra-se em marcha acelerada
a privatização massiva de setores públicos fundamentais, como os transportes, a
água e a energia, entre outros. Porém, para além dos referidos países,
constatamos que a mesma receita económica se encontra a ser cozinhada nos Estados
Unidos e no Chile.
Por
detrás desta receita assassina sem ideologia (o neoliberalismo já faliu)
encontra-se um governo sombra mundial.
Deliberadamente
e sem uma motivação ideológica que se vislumbre, os governos destes países encetaram
um processo de desmantelamento dos serviços públicos fundamentais, elegendo até
à exaustão e ao vómito os funcionários públicos como atores de todos os
males económicos e financeiros de que enfermam estas nações.
Numa
primeira fase, envenenaram «até fartar vilanagem» a opinião pública, açulando
trabalhadores contra trabalhadores (do setor privado contra o setor público) e em
seguida, os governos (?) destes Estados, iniciaram processos de privatização de
setores económicos vitais para as populações, como solução milagreira «inevitável»
- de acordo com as referidas alimárias – para salvar as pátrias falidas, sacrificando-se
a segurança, a qualidade e a sustentabilidade, e oferecendo como contrapartida a
deterioração generalizada do poder de compra, do bem-estar e da qualidade de
vida dos cidadãos, empenhando o futuro da gerações ora nascentes quer vindouras.
Os
cenários mais devastadores registam-se nos países onde as consequências sociais
e económicas funestas e sinistras se fazem sentir; onde os credores e
instituições internacionais como o FMI, Banco Central Europeu e outras opacas
corporações financeiras estão a proceder a privatizações massivas, em troca de
famigerados «planos de resgate», como no caso de Portugal, a vulgo, Troika.
A
«descoberta» recente do endividamento dos Estados soberanos consiste,
fundamentalmente, numa estratégia traçada para suspender - numa primeira etapa
– e/ou suprimir a médio prazo, todas as formas de expressão e regimes
democráticos, implementando medidas copiadas de ditaduras já ultrapassadas,
como as ocorridas em países da América do Sul, ou a da China na atualidade.
Numa
segunda etapa, ou em paralelo, é efetivada a transferência para conglomerados privados,
de setores empresariais do Estado ou com participação deste. Ora para
que a concretização destas ações tenha sucesso num país democrático, é necessário vergar a
cerviz das massas trabalhadoras e nada mais a propósito que, a pretexto da
dívida soberana, serem implementadas medidas de austeridade, tornando a sua economia
refém de chantagem das agências de rating,
da banca e de outras organizações especuladoras - verdadeiros abutres - como o
que ocorre atualmente na Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália,
liquidando, assim, as estruturas, a coesão base da sociedade e a
sustentabilidade das nações.
Em Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha (neste último país, hoje, os
contentores de lixo de supermercados, cafés e restaurantes possuem cadeados, uma
vez que em cada dia que passa mais pobres procuram comida neles) crescem os casos de abandono escolar, de desnutrição infantil,
juvenil e adulta, os cidadãos deficientes, inválidos ou portadores de
doenças raras vêem cortados os subsídios e medicamentos, e por aí fora.
No caso português, onde a taxa de desemprego não oficial, ultrapassa em muito os 20% - a taxa oficial é de 15,2% - o encolhimento da
economia do país vem redundando numa contração drástica do crescimento, pelo que,
a redução da dívida pública torna-se, na prática, impossível de ser solvida
algum dia, caso não haja inversão rápida desta marcha para o abismo.
Nesta
matéria – economia – parafraseando um dos princípios base da Física: – «matéria atrai
matéria…» - a «miséria atrai miséria».
Sem poder de compra não há consumo e por tal facto, acumulam-se os stocks nas lojas, nos armazéns e as fábricas paralisam e encerram. Logo, o desemprego aumenta exponencialmente.
Sem poder de compra não há consumo e por tal facto, acumulam-se os stocks nas lojas, nos armazéns e as fábricas paralisam e encerram. Logo, o desemprego aumenta exponencialmente.
O
roubo dos subsídios de férias de Natal dos funcionários públicos, perpetrado
pelo governo, o aumento dos impostos diretos e indiretos, mais a redução dos
salários e o aumento galopante do custo de vida, redunda numa
contração brutal do poder de compra, na incapacidade dos cidadãos de cumprirem
os seus compromissos e poderem adquirir muitos dos produtos básicos para o seu
quotidiano, como os produtos alimentares, os medicamentos indispensáveis à sua
sobrevivência, a roupa, o calçado e demais produtos e equipamentos necessários
a uma vivência com o mínimo de dignidade. Temos então, um verdadeiro genocídio
em marcha.
Em
Portugal, onde o governo decidiu cumprir tudo o que a Troika exigiu (e exige), a
situação económica vem-se agravando em cada dia que passa.
Não obstante os 78 biliões de euros de «resgate» concedidos em maio de 2011, a economia do país continua a afundar-se cada vez mais, numa enorme e funda cratera, mais funda que a Fossa das Marianas (o local mais profundo do planeta -11034m - situado em pleno Oceano Pacífico).
Não obstante os 78 biliões de euros de «resgate» concedidos em maio de 2011, a economia do país continua a afundar-se cada vez mais, numa enorme e funda cratera, mais funda que a Fossa das Marianas (o local mais profundo do planeta -11034m - situado em pleno Oceano Pacífico).
Quando Portugal celebrou o acordo
para receber este famigerado «resgate», a relação dívida/PIB do país era de
107%. Atualmente, a expectativa é que esta suba para 118% até 2013.
Neste momento o cenário em
Portugal é idêntico ao da Irlanda, da Itália e de Espanha, sendo o da Grécia o
mais grave: afundamento
da economia e das populações numa recessão e num marasmo em cada dia mais
negro.
Para
quem não se recorde, há uma década atrás a Argentina viveu o mesmo «filme»
de terror que estes países europeus estão a viver. Nessa altura, os governos de neoliberalismo feroz e sem rosto, privatizaram
os setores nevrálgicos produtivos e os serviços públicos, conduzindo o povo à
miséria generalizada, com a consequente liquidação da classe média e o aumento brutal
das fortunas dos poderosos, que culminou em 2002 com o colapso da economia do
país, tendo como expressão mais dolorosa a expropriação
pelos Bancos dos depósito dos pequenos clientes, a falência de empresas, o encerramento
de estabelecimentos, o desaparecimento da moeda em circulação, a emigração de
mão-de-obra qualificada, incluindo centenas de milhar de licenciados, o
empobrecimento em massa, o desemprego generalizado, a fome, os suicídios e o desespero
das classes média e baixa.
Em contrapartida o povo encetou marchas de
protesto e outras lutas contra a gestão dos presidentes Carlos Menem e
Fernando de la Rúa, resultando em feroz repressão por parte dos governantes de igual forma
como já havia sucedido em tempos de ditaduras, em especial, a ditadura militar
- da qual os argentinos guardavam melhor memória - instaurada em 24 de março de 1976 e que finou em 1983.
Nesse espaço de tempo os militares assassinaram mais
de 30 mil civis, entre eles, crianças e idosos, e fizeram «desaparecer» centenas
de milhar de cidadãos, de acordo com as estimativas de ONGs argentinas e de organismos
internacionais de defesa dos Direitos Humanos.
Pedro Manuel Pereira
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