Mantendo-se a incógnita da data de início de um terceiro conflito bélico à escala mundial, verificamos que se encontra em curso no Golfo Pérsico uma crescente concentração de tropas e de material de guerra por parte dos EUA e de alguns dos seus aliados, como não há memória na História dessa zona do globo.
Neste sentido, Washington tem vindo a enviar conselheiros militares, caças e bombas para os Emirados Árabes e para a Arábia Saudita a fim de neutralizar um eventual ataque de Teerão.
A troca de informações militares através de agências de inteligência, com os seis países do Golfo Pérsico - Catar, Bahrein, Kuwait, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Iraque – está bastante ativa. Entre outras medidas, os EUA decidiram transferir para o Kuwait a maioria das tropas a serem retiradas no final do ano do Iraque. Cerca de 40000 soldados americanos serão mantidos na região. Também fecharam contratos de venda para a Arábia Saudita de caças F-15, de duas mil «bombas inteligentes» - as chamadas munições de ataque direto conjunto ou JDAM - na sigla em inglês - e de outras munições.
Enquanto isso, os Emirados Árabes Unidos mantêm uma ampla frota de caças F-16, já munidos com centenas de milhar de munições.
Dada a falta de apoio da Rússia e da China para a adoção de novas sanções contra o Irão, na ONU, os EUA têm vindo a elevar a capacidade militar das monarquias do Golfo Pérsico como meio de conter a possível ameaça militar de Teerão. O objetivo último será a construção um sistema integrado de defesa contra ataques de mísseis de curto e médio alcance iranianos.
Neste contexto, a opinião pública mundial em geral e a americana em particular, vem sendo manipulada através dos meios de informação, quanto às hipotéticas ambições bélicas do Irão com base no seu programa nuclear.
Assim, a propalada existência de armas nucleares nesse país, mais não constitui do que um pretexto para um eventual ataque massivo em grande escala, desencadeado a partir de várias frentes. Note-se que este argumento já foi utilizado para o Iraque, com a destruição generalizada de infraestruturas económicas e sociais e um cortejo de centenas de milhar de mortos e estropiados, perante a passividade da comunidade internacional, com os resultados escabrosos que são do domínio público.
Face ao apoio popular ao governo fundamentalista do Irão por parte dos seus nacionais, país em que toda a vida social, política e económica se rege pelo Corão, os EUA não encontram nele, clima propício para fomentarem mais uma revolução árabe através de manifestações organizadas contra o regime. Assim, neste cenário e atualmente, as forças especiais dos americanos e os seus aliados no terreno, procuram desestabilizar a economia iraniana através do congelamento de bens e do bloqueamento das exportações de petróleo.
Aquele que poderá ser o barril de pólvora encontra-se situado na região do Golfo, mais concretamente, o estreito de Ormuz, que é uma pequena extensão, com 54 km de largura mínima, atingindo 100 km no seu percurso mais largo. A norte do estreito encontra-se o Irão onde está concentrada uma grande parte das forças e dos mísseis deste país e a sul situa-se Omã e os Emirados Árabes Unidos.
Dificilmente a Rússia e a China irão permitir um ataque ao Irão, porém, tudo dependerá das circunstâncias. Neste quadro geoestratégico, o fator desencadeador do conflito será – provavelmente - o eventual bloqueio por parte da União Europeia às importações de petróleo do Irão, o qual entra em vigor no próximo dia 1 de julho.
Como retaliação lógica ao embargo, o Irão poderá encerrar o estreito de Ormuz, como já foi várias vezes afirmado por banda dos dirigentes iranianos.
Saliente-se que por esta via marítima passa mais de 40% do petróleo e 20% do transporte marítimo mundiais.
Não obstante, não é crível que o Irão tome a iniciativa de bloquear o estreito de Ormuz, embora possa tentar, como forma de represália face a uma agressão militar. Em primeiro lugar, porque exporta o seu próprio petróleo por esta via e os recursos destas exportações lhe são vitais e, em segundo lugar, porque afetaria economicamente alguns dos principais parceiros que o apoiam no seu conflito com os EUA, principalmente a China, cujas importações de petróleo - que chegam a 15% do consumo - procedem do seu território. A sua eventual interrupção paralisaria parte do aparelho produtivo chinês.
As tensões estão abertas.
As chancelarias do mundo observam, minuto a minuto, uma perigosa escalada que pode desembocar num grande conflito regional, que numa segunda fase poderá vir a estender-se a várias regiões do globo. Por ora estão implicados, não apenas Israel, os Estados Unidos da América e o Irão, mas também três outras potências do Médio Oriente: a Turquia, cujas ambições na região voltaram a ser manifestas, a Arábia Saudita, que sonha há décadas em ver destruído o seu grande rival islâmico xiita e o Iraque, que poderia romper-se em duas partes: uma xiita e pró-iraniana e outra sunita e pró-ocidental.
Por outro lado, um bombardeamento das instalações nucleares iranianas pode provocar uma nuvem radioativa de gigantescas proporções, nefasta para a saúde de toda a população da região - incluídos os vários milhar de militares norte-americanos e os habitantes de Israel – mas também, de uma forma ou de outra, a população mundial, por via da contaminação atmosférica e do mar.
O contexto geopolítico em que decorrem os preparativos defensivos/ofensivos, por banda da Síria e do Irão está a conduzir a Rússia de forma a tornar mais eficiente as suas estruturas nas regiões do Cáucaso do Sul, no Mar Cáspio, no Mediterrâneo e no Mar Negro, ultimando os planos militares de modo a preparar-se para uma resposta adequada, perante a eminência de possíveis ataques de Tel-Aviv e de Washington contra Teerão.
Note-se que os preparativos para minimizar as perdas ante uma possível ação militar contra o Irão, começaram há mais de dois anos e hoje em dia estão - quase - completos. Segundo fontes do Ministério da Defesa Russa, a base militar 102a na Arménia foi completamente otimizada entre outubro e novembro de 2011, enquanto as familias do pessoal militar foram evacuadas para a Rússia.
As sub-unidades militares estacionadas na Arménia foram transferidas para o distrito de Gyumri, próximo da fronteira com a Turquia, atendendo a que são possíveis ataques contra as instalações nucleares iranianas pela tropas dos EUA a partir do território turco.
Até ao momento não está claro que tarefas serão levadas a cabo na base militar 102a em relação a estes factos, porém, sabe-se que as tropas russas estacionadas nas bases militares da Ossétia do Sul e de Abjasia, encontram-se em alerta máximo desde 1 de dezembro passado. Entretanto, os navios da Esquadra Naval do Mar Negro, posicionaram-se preventivamente não muito distantes da fronteira com a Geórgia, região que neste conflito poderá atuar ao lado das forças anti-iranianas.
Em Izberbash, Daguestão, quase junto à fronteira de Azerbeijão, desde há meses que um batalhão equipado com sistemas de mísseis terra/antitanques Bal-E, com uma autonomia de 130 km, se posicionou em disposição de combate.
Todas as embarcações com mísseis guiados da Frota Russa no Mar Cáspio, transferiram-se desde Astrakán para os distritos de Makhachkala e de Kaspiysk para formar um só grupo. Entretanto, o barco insígnia da Esquadra Naval - o navio de mísseis sentinelas Tatarstán - já se juntou à pequena canhoeira Volgodonsk e ao navio de mísseis Daguestão. Os navios insígnia desta Esquadra estão equipados com sistemas de mísseis com um alcance de até 200 km.
Estretanto, a Arménia e o Azerbeijão, continuam a constituir fontes de preocupação militar dos russos. No caso do Azerbeijão, refira-se que nos últimos quatro anos duplicou os seus efetivos militares e equipamento bélico. Nos últimos meses tem vindo a adquirir aviões não tripulados israelitas e outros meios avançados de reconhecimento e localização topográfica, agravante natural ante Teerão.
Muito embora as forças navais da NATO estejam concentradas no Golfo Pérsico e no Mediterrâneo Oriental, dificilmente poderão travar um conflito bélico com sucesso contra o bloqueio iraniano, no quadro de uma guerra convencional, uma vez que este país é uma das maiores potências militares da região, dispondo, inclusivamente, de armamento sofisticado e de um milhão de soldados bem equipados e municiados.
Não obstante, na eminência de Teerão enfrentar uma derrota militar depois de uma invasão terrestre de tropas dos EUA e da NATO, em oposição, a Rússia, já bem posicionada no terreno, dará o seu apoio militar, pelo menos, ao nível técnico-militar. Terá então, aqui, início um conflito bélico mais prolongado no tempo e alargado no espaço geográfico, mantendo-se a incógnita: - QUANDO E ATÉ ONDE ?
Pedro Manuel Pereira
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