Por Pedro Manuel Pereira
As imagens de guerra permanentemente difundidas na televisão e em outros meios de comunicação social espelham uma realidade modelada de acordo com os seus emissores, de forma a agarrar audiências.
Como a violência suscita violência, a indústria da mesma, aproveita - com proveito - essa propaganda gratuita, convertendo a violência em espetáculo de massas e em objeto de consumo.
Desta forma, já não é necessário que os fins justifiquem os meios. De ora avante, os meios de comunicação justificam os fins de um sistema de poder que impõe os seus valores à escala planetária.
Os meios de comunicação social dominantes são detidos por poucas mãos que, regra geral, atuam ao serviço de um sistema que reduz as relações humanas à interdependência e ao medo mútuo. Porém, ao mesmo tempo, nos últimos anos, a Internet abriu imprevistas oportunidades e formas de expressão alternativas.
Através dela circulam diariamente milhões de mensagens e milhões de vozes que, felizmente, na sua maior parte, não são os ecos dos poderes políticos.
Assim, a Internet assume-se, hoje, como um novo espaço de liberdade de comunicação, mas também de comércio.
No planeta virtual não se corre o perigo de encontrar alfândegas, nem governos opressores. Por sua vez, a informação é recolhida e selecionada de acordo com o livre arbítrio do internauta.
Refira-se que, para que tal seja possível, em torno do nosso planeta gira um anel de satélites repletos de palavras e imagens que lhes chegam da terra e à terra regressam. À velocidade da luz são emitidas mensagens, só possíveis graças aos milhares de toneladas de equipamentos que circulam em órbita desde há cerca de cinquenta anos.
Neste contexto, os mais afortunados membros da sociedade mediática podem desfrutar as suas férias na praia atender o telemóvel, receber correio eletrónico, devolver as chamadas, fazer compras por computador, divertir-se com videojogos ou com televisão portátil.
A cibercomunidade encontra refúgio contra a realidade que a cerca, na realidade virtual, através das redes sociais, enquanto as cidades tendem a converter-se em imensos desertos cheios de gente, onde cada indivíduo se encerra dentro da sua própria «cápsula», graças a essa que é a indústria mais dinâmica da economia mundial, a qual vende as chaves que abrem as portas à Nova Era da História da Humanidade.
Atente-se no entanto, que o acesso a esta autoestrada da informação é um privilégio só dos países desenvolvidos, onde se encontram noventa e cinco por cento dos usuários.
O controlo do ciberespaço depende das linhas telefónicas, dos cabos de fibra ótica e das ligações satélite. Desta forma se entende, que a onda de privatizações em alguns países da Europa comunitária, e em outros países, nos anos mais recentes, tenha arrancado os telefones das empresas estatais, para entregá-los aos conglomerados multinacionais dos meios de comunicação.
A televisão aberta e por cabo, a indústria do cinema, a imprensa de grande tiragem, as grandes editoras de livros e de discos e as emissoras de rádio de maior alcance, avançam igualmente para o monopólio.
Os meios de difusão universal colocaram nas nuvens o preço da liberdade de expressão: - Cada vez existem mais comentadores políticos, paradoxalmente, na razão inversa de quem os vê e os ouve nos tempos que correm.
Os interesses desses meios cruzam-se; numerosos fios atam os impérios da comunicação entre si. Muito embora simulem competir entre eles, insultando-se, por vezes, para satisfação do público, na hora da verdade desmontam o cenário, o espetáculo acaba e de forma tranquila continuam a repartir entre si o domínio dos meios de difusão.
Nos tempos que correm ainda há quem afirme que diversidade tecnológica equivale a diversidade democrática. Porém, pese embora a tecnologia coloque a imagem, a palavra e a música ao alcance dos povos como até hoje não ocorreu na História da Humanidade, esta maravilha pode converter-se num logro, caso o monopólio privado termine por impor a ditadura da imagem única, da palavra única e da música única.
Não obstante, as estruturas do poder estão cada vez mais internacionalizadas e resulta difícil distinguir as suas fronteiras.
Neste contexto, é oportuno referir que os Estados Unidos ocupam o centro do sistema nervoso da comunidade de informação contemporânea.
As empresas norte americanas reinam na televisão, na imprensa e na informática. Mais de metade das receitas de Hollywood – por exemplo - provém dos mercados estrangeiros, vendas que crescem ano após ano, e a atribuição dos óscares conquista uma audiência mundial só comparável aos campeonatos mundiais de futebol ou às olimpíadas, enquanto a Microsoft e a Apple são os maiores dos gigantes mundiais dos sistemas operativos e da programação informática.
Por outro lado, dois em cada três seres humanos vivem no chamado Terceiro Mundo. Em contrapartida, dois de cada três corresponsáveis pelas agências noticiosas mais importantes a nível planetário, fazem o seu trabalho na Europa e nos Estados Unidos. Resulta assim, que a maioria das notícias que o mundo recebe, é produzida pelos meios de informação de uma minoria da Humanidade.
Desta forma, assistimos a um monólogo por parte do Norte do Mundo. As demais regiões recebem pouca ou nenhuma atenção salvo em caso de guerra ou de catástrofe e, com frequência, os jornalistas quando relatam os acontecimentos nesses lugares, não conhecem o idioma desses países ou regiões e muito menos a sua história ou cultura. Por tal facto, os noticiários costumam, a maior parte das vezes, serem enganadores e de origem duvidosa.
Enquanto isto, a cultura encontra-se reduzida ao entretenimento e o entretenimento convertido num esplendoroso negócio universal; a vida está reduzida ao espetáculo e o espetáculo em fonte de poder económico, político e de controlo de massas. A informação reduzida a publicidade ou propaganda encapotada.
Em suma: podemos considerar que os meios de comunicação social nem sempre refletem a realidade, antes o modelam, na certeza que o mundo foi invadido por uma mistela mortal de soporíferos e publicidade onde a televisão desempenha o principal papel.
Trabalhar, dormir e ver televisão são as três atividades que mais tempos ocupam o homem no chamado «mundo civilizado». Os políticos sabem-no bem.
Em todos os países os mesmos temem ser castigados ou excluídos pela televisão. Nenhum deles gosta de ser visto como um vilão, pese embora o possa ser. Os políticos têm pânico que a televisão os ignore condenando-os à morte cívica, dentro do princípio de que quem não aparece na televisão, não está no mundo real. Por outro lado, os políticos não ignoram o desprestígio das suas «profissões» e o poder mágico da sedução que a televisão exerce sobre as pessoas.
Para se estar presente no cenário político, há que aparecer com regularidade nas televisões e essa continuidade não costuma ser gratuita. Assim, os empresários dos meios audiovisuais dão imagem aos políticos e os políticos retribuem o favor concedendo-lhes impunidade, porque lhes entregam serviços públicos.
Mas também o entretenimento é modelado. Por exemplo: a telenovela de êxito é, em geral, o único lugar do mundo onde os corruptos, os assassinos, os facínoras são castigados e a bondade recompensada, mas também onde os cegos recuperam a vista e os pobres recebem heranças que os convertem em novos-ricos, criando assim, espaços ilusórios onde as contradições sociais se dissolvem em lágrimas de alegria.
A verdade é que este género de mensagens entra com facilidade dentro da maioria dos indivíduos, que são pobres, mas que adoram o luxo.
Qualquer pobre, por paupérrimo que seja, pode, vendo as telenovelas, penetrar nos cenários sumptuosos onde decorrem as cenas, compartilhando, assim, os prazeres dos ricos, as suas desventuras, mas também as suas alegrias.
Na televisão criam-se espaços onde a fé religiosa promete a entrada no Paraíso depois da vida e a comunicação com os entes queridos falecidos é feita por supostos médiuns, com auditórios repletos de gente crédula, enquanto os big brothers satisfazem o voyeurismo lúbrico das hordas de marginalizados, da partilha das decisões políticas que lhes traçam o destino, alienando-se o indivíduo, dessa forma, da impotência que lhe subjaz, projetando no outro o estar e o devir do querer e não ser.
Constatamos, assim, que a realidade dos personagens substitui a realidade das pessoas.
Em conclusão: - Os meios de difusão audiovisual assumem, hoje, na voragem dos dias de convulsão social, económica e política que correm, o catalisador e modelador das mentes das massas, com especial destaque para a televisão.
Por seu turno e em contraponto, a Internet desempenha um papel charneira fundamental, como espaço de liberdade individual.
Nela é colocada à disposição do internauta uma infinidade de informação, permitindo que o indivíduo a selecione livremente a compare e forme opinião sobre o assunto consultado, dispondo, em simultâneo, de um infinito leque de matérias e temas de lazer.
A integração do indivíduo em redes sociais, a abrangência das relações que lhe são proporcionadas por esse meio, tornando-o ator da comunidade virtual, portanto, sujeito ativo – e desinibido – no palco de uma vida sem custos materiais ou afetivos, torna o ciberespaço na nação privilegiada de encontro, de vivência e convivência de milhões de seres humanos.
Enquanto isso, na razão inversa, os meios urbanos, as cidades, as grandes metrópoles, estão-se desertificando como espaços de vivências reais, em detrimento da realidade virtual, onde não existe sede nem fome, nem dores ou angústias.
A realidade segue dentro de momentos.
Muito bem Meu Querido Amigo! Tal e qual.
ResponderEliminarGrande Abraço do
Raúl Mesquita.